Artigo de Opinião
da Dra. Katya Reis Santos - Cardiologista e Secretária-Geral da APAPE
Associação Portuguesa de Arritmologia, Pacing e Electrofisiologia.
A
síncope é uma perda de consciência (PC) por hipoperfusão (diminuição da
circulação sanguínea) cerebral global e transitória.
Muitas
síncopes são autolimitadas e têm um prognóstico benigno. No entanto, 1/3 dos
doentes em três anos têm uma recorrência e cerca de 1/3 têm traumatismos
ligeiros. Seis por cento têm traumatismos graves e, nalguns casos, a síncope é
um sinal premonitório de morte súbita (risco sobretudo associado às síncopes de
causa cardíaca, quer estrutural, quer arrítmica).
A
avaliação dos doentes com síncope deve ter três objetivos em mente:
2)
Determinar a causa da síncope (síncope cardíaca por alterações estruturais ou
do ritmo cardíaco; síncope reflexa ou síncope secundária a hipotensão
ortostática)
3)
Estratificar o risco do doente (sobretudo de morte súbita, mas também de
traumatismo e recorrência)
Por
vezes apenas a confirmação do diagnóstico e a estratificação do risco são
conseguidas uma vez que a causa da síncope pode ficar por determinar em até um
1/3 dos doentes.
A
avaliação deve começar com uma história clínica cuidadosa; observação do doente
e eletrocardiograma (ECG). Esta atitude permite a determinação da causa da
síncope em 23 a 50% dos casos. Nos restantes permite a estratificação do seu
risco.
A
presença de critérios de risco (p. ex. história de morte súbita na família,
antecedentes de enfarte ou síncope com o esforço) implica uma avaliação
intensiva ou mesmo internamento e, no caso de não se obter um diagnóstico, está
preconizada a colocação de um detetor de eventos implantável (DEv impl) para
monitorização contínua do ECG.
Na
ausência de critérios de risco, se a síncope é única ou rara poderá não se
justificar a realização de outros exames; se é recorrente duas estratégias são
aceites:
1) A realização de exames cardíacos ou para
despiste de síncope reflexa de acordo com os resultados da avaliação inicial
Ou
2) Privilegiar a documentação do traçado ECG
durante uma síncope espontânea, colocando um Holter de 24 horas se os episódios
sincopais são semanais, um DEv externo se mensais ou um DEv impl quando menos
frequentes.
Optando
pela primeira estratégia, o diagnóstico é muitas vezes inferido (se o doente
tem pausas assintomáticas, períodos em que o batimento cardíaco para
temporariamente, assume-se que a síncope resulta de uma pausa mais prolongada).
A
segunda permite um diagnóstico (ou exclusão) inequívoco de arritmia, uma vez
que se espera por um episódio sincopal clínico e verifica-se o ritmo cardíaco
nesse exato momento. Esta estratégia implica um maior tempo de espera até ao
diagnóstico, mas permite um maior número de diagnósticos. Na verdade, a
utilização dos DEv impl tem revelado que nos doentes com 40 ou mais anos de
idade, com síncopes recorrentes, sem doença cardíaca estrutural e com um ECG
normal a causa pode ser arrítmica em até 50% dos casos.
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