O
tempo foi o responsável pela viagem cujo destino me levou a uma ilha. Não uma
ilha qualquer, mas sim “a ilha”. Há muito tempo que procurava encontrar este
destino, e várias vezes deixei-me levar por opiniões que diziam - para nos
conhecermos é necessário sair de nós, da ilha! Geralmente é assim, temos que
nos afastar, ou perder, para saber dar valor. Mas o percurso para esta ilha foi
diferente. O afastamento existiu, mas no sentido de deixar tudo. É necessário
deixar tudo para trás, os nossos medos, os desejos, os valores impostos pela
sociedade, para penetrar no mais profundo do nosso ser... a ilha que há em nós.
Eu
sabia onde ficava a ilha, mas não sabia como lá chegar. Nunca tive receio de
trilhar este percurso, pois não tinha medo do que ia encontrar. Pelo contrário,
sabia que na ilha residia o mais importante de tudo: a minha essência. Assim,
foram várias as trajectórias até finalmente descobrir a mulher que há em mim.
Foi numa ilha de sentimentos, pensamentos, valores e recordações que iniciei um
caminho, que me levou à alma. Na verdade, ainda estou, e acredito que sempre
estarei, trilhando este caminho, pois nunca cessa a procura pelo
auto-conhecimento e pelo sentido da vida. Será sempre um ir e voltar.
Para
fazer esta viagem foi necessário dar o passo mais importante: abrir o meu
coração. Deixar de lado as minhas próprias expectativas e entregar-me às novas
possibilidades do agora. Ao abrir o coração, aprendi, vi, senti, reencontrei.
Descobri que existe algo poderoso em mim, a intuição, que quando permitimos
ouvi-la com o coração, ela é conduzida pelo amor e mostra-nos a essência da
vida. Não há complicações, dúvidas, receios, julgamentos, falhas, nada! Tudo é
simples como o presente momento.
Assim,
foi preciso estar ilhada, longe das formas de dominação da sociedade em que
vivemos, para perceber a porção de vida que há em mim. E numa sucessão temporal
de eventos, abrigados pela memória dos rituais das tradições do mundo vivido,
percebi a necessidade dessa viagem. Uma viagem que me fez ser ilhéu em mim, dos
meus sentimentos, para descobrir cheiros, caminhos, paisagens, desejos,
sentimentos… Sentir o sol e a lua, na plenitude das horas, a preencher os
vazios de formas e sentimentos. Formas e sentimentos de estar no mundo como
mulher.
Deste
modo, como uma ilha, completo-me com os elementos terra, água, fogo e ar de
cada um que se cruza na minha trajectória de vida, revigorando a minha essência
e transformando o meu percurso. Por isso, é necessário conhecer a ilha que há
em nós. Agora conheço-me mais e melhor. Esta viagem de reencontro foi
fundamental para voltar à vida agitada da cidade real, onde permito que o tempo
corra em vez de andar. Mas desta vez regresso guiada pelo coração. Sei o que
quero e sei que assim posso vencer o mundo como a mulher ilhoa que sou.
DEBORAH
ESTIMA
Doutoranda
em turismo -
Universidade de Aveiro - Portugal
Natural
de Juazeiro do Norte, Ceará, Btasil, residente em S. Miguel, Açores
Fonte:
In Mundo Açoriano
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