Jardim Municipal da Vila da Povoação |
Foi
um costume que desapareceu com a viragem do tempo, e que tinha um certo encanto
muito em especial para os alegres foliões que festejavam a passagem de ano.
Aproximava-se
a meia-noite e grande alarido se ouvia nas ruas, homens armados de cajado e que
em diversos momentos serviam de bengalas, pois que imitavam velhos arqueados a
mastejarem os pés, como se tivessem nos ombros todo o peso do mundo. Vestuário
e chapéus em farrapos, longas barbas brancas postiças para lhes dar aspeto
avelhentado.
Contraste
era vermos jovens de roupas novas desabrochando primaveras, andando de rua em
rua indo ao encontro dos mais idosos que representavam o ano que estava a
findar. Os novos simbolizam o ano novo. Quando estava próxima a meia-noite os
dois frente a frente simulavam uma luta fictícia com gestos e palavras
renhidas. Dizia o jovem!
Vai-te
velho que já estás no fim, sai daqui para fora. Já não podes com as botas já
deste o que tinhas a dar.
Eu
tenho que ficar! Sou velho sou… Mas fiz muita gente feliz: Muitos ganharam a sorte
grande nem sabem o que fazer ao dinheiro. Imensa gente se casou e são felizes,
dei saúde a tanta gente que não sei a conta. A outros dei a sorte de
embarcarem.
Dizes
bem… embarcaste-os para a terra dos pés juntos, e muitos infelizes fizeste,
quantos acidentes fatais, provocaste tantas tragédias, quanta guerra por
ambição desmedida, quantas famílias sem pão sem lar deixaste devido ao teu mau
génio e tantas vezes fizeste a terra tremer causando a destruição. Deixaste
entrar em erupção vulcões provocando o caos.
Vai-te
velho… que não fazes falta! Vai-te…
Jovem
ano deixa-me ficar… olha que um dia hás-de ser velho e terás os teus achaques:
Qual
achaques, qual carapuça! Esta a mim não serve. Eu sou novo? Novo ouviste velho?
Jovem
ano escuta com atenção:
Eu
já fui criança como tu, fui novo e trazia dentro de mim tanta esperança, a
esperança do mundo inteiro. Fui primavera cheio de encanto de flores lindas e
formosas me vesti. Fui brisa suave e perfumada, fui cupido, fazia os corações
enamorarem-se, eram tandos os jovens de mãos dadas trocando carícias, tanta
ternura eu vi, tanto amor.
Fui
verão escaldante onde o amor campeava à solta nos potros e animais selvagens,
fui liberdade no vento sibilante, nas praias douradas de feitiço e magia muitos
cachopos nasceram, corpos bronzeados nas águas límpidas do mar se banharam e
navegaram, no azul do céu voaram as aves. Fui arco-íris de beleza incomparável,
fui pomar dos mais variados frutos, fui campina de loiros trigais, enchi os
celeiros de variados produtos. Fui o Outono do são martinho houve castanhas e
vinho e o dia de todos os Santos para nossa devoção e proteção. Dourei a verde
folhagem de mil tonalidades, fui vento que as folhas fiz bailar e moinhos de
vento fiz andar. Sou a chuva pingarola que fez correr meninos de casa para a
escola. Fui canseira na recolha da ramada do arvoredo, fui magia que fez sonhar
meninos e velhinhos, fui manso e agreste mar que faz andar na crista das ondas
os afoitos pescadores em seus pequenos barcos. Agora tenho a beleza impar do
inverno, vê como é bela a neve dos meus cabelos nos montes, nos vales, nas
montanhas nas árvores salpicadas de neve.
Comigo
tenho o frio da nortada que te faz procurar o teu lar onde junto à lareira te
aqueces.
Sou
Natal do nascimento de Jesus o Emanuel o Deus que connosco nos veio trazer o
caminho da paz da salvação.
O
jesus que nos ama como só ele nos sabe amar.
Ano
Novo!
Façamos
Tréguas, deixa-me a teu lado, sou teu amigo:
Quero-te
aconselhar para não cometeres os erros que cometi.
Ano
Velho:
Não
preciso de conselhos, vou-te deixar ficar até bater a última badalada.
Vai-te…
o teu tempo terminou.
Adeus
menino Ano Novo:
Adeus
Ano velho… até um dia.
E
na rua e em todos os lados era festejado a vinda do Ano Novo com foguetes,
balhos furados, cantorias e danças nos salões.
Enfim,
todas a beleza de uma época que não volta mais.
O
Autor
Benjamim
do Carmo
Povoação,
quarta-feira, 11 de Janeiro de 2017.
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