Para
além das técnicas e materiais de construção, importa referir alguns aspetos que
se prendem com os seus executores: Os trabalhadores e os utensílios de que
estes se serviam no trabalho.
Os
trabalhadores vinham da Povoação, das Furnas, da Ribeira Quente, de Rabo de
Peixe, de Ponta Garça e do Nordeste. A maioria vinha a pé calçando galochas, à
exceção de algum que vinha de bicicleta. Por vezes tinham de partir no dia
anterior para chegarem à Ribeira Quente de manhã cedo.
A
execução deste trabalho integrava dois mestres gerais, um grupo de pedreiros,
de canteiros, de cabouqueiros, crianças (que desempenhavam no papel de
serventes), um vigia, um apontador, um capataz, o engenheiro auxiliar e o engenheiro
encarregado da obra.
Todos
cumpriam a sua função na obra.
Quanto
aos mestres gerais, havia dois, que acompanharam a maior parte da obra: O
mestre carpinteiro, Sr. Manuel Vieira Galante e o mestre pedreiro, Sr. José
Pimentel.
Regra
geral, era distribuído um mestre para cada esquadra de vinte homens.
Cada
um tinha como funções dirigir, governar e promover o trabalho aos homens da sua
esquadra, consoante as ordens do engenheiro auxiliar (8).
Das
funções delegadas aos mestres, cabia ainda ao mestre pedreiro medir com escala
métrica a quantidade de pedra colocada pelos pedreiros.
Para
além de ter a obra dos túneis a seu cardo, José Pimentel fiscalizava os
pedreiros que colocavam as paradamas da estrada.
José
Pimentel fora também o mestre pedreiro de vinte e quatro escolas primárias da
ilha de São Miguel, desde as Furnas à Achadinha, bem como o mestre das obras da
Casa dos Banhos das Furnas.
Quanto
ao mestre carpinteiro, Manuel Vieira Galante, para além dos trabalhos de
carpintaria nas obras dos túneis, há a destacar a obra da ponte da Ribeira dos
Tambores, da qual foi autor e executor.
O
mestre Manuel Galante, obteve o 2º grau dos estudos primários com a sua mãe,
que era professora. Iniciou-se na arte de carpintaria na oficina de seus
padrinhos, nas Furnas, mestres da área da construção civil.
Em
1935, por intermédio do engenheiro Pacheco Vieira, que o conhecia como
trabalhador das centrais elétricas, foi chamado para trabalhar na obra dos
túneis.
Quanto
aos cabouqueiros, estes tinham como função escoar o terreno e retirar da
pedreira a pedra para a obra.
Os
canteiros transformavam essa pedra em cantaria que revestiria os arcos e o
interior dos túneis.
As
crianças tinham a função de servente. Cabia a elas construir os carrinhos em
madeira, transportar neles, ou em cestos, as pedras e a terra para a Grota Suja
e ir buscar água à nascente em canados, que eram executados pelos carpinteiros
de construção.
Toda
esta perseverança dos homens e da ajuda prestimosa das crianças na obra,
revelam uma necessidade desmedida de trabalhar o sustento da casa.
Quanto
aos olheiros, nome que designava os vigias, fala-se de um Manuel Lázaro, um
velho muito falador, que tinha como função vigiar e anunciar, de cima do túnel,
os desabamentos da pedreira.
O
apontador era um funcionário da Junta Geral, tendo como funções na obra fazer o
ponto e as folhas de serviço. Era ele que apontava os metros de cantaria
colocada pelos pedreiros e fazia cumprir as ordens dos seus superiores.
Um
dos apontadores da obra dos túneis foi António Inácio de Medeiros,
caracterizado como sendo “um empregado zeloso, ativo e competente, que cumpria
as ordens recebidas e as fazia cumprir rigorosamente” (9).
Segundo
revelaram os trabalhadores entrevistados, era hábito o apontador motivar neles
a competição com o objetivo de acelerar os trabalhos.
No
caso particular do revestimento da abóbada dos túneis com a cantaria, o
apontador utilizava a seguinte estratégia: agrupava os trabalhadores por
localidades e destinava um lado do arco a cada grupo, sendo o objetivo concluir
primeiro o lado do arco, atingindo o fecho do arco.
Como
consequência desta competição por localidade, era natural que, surgissem alguns
distúrbios ou discussões por parte dos trabalhadores na hora do almoço ou
depois do serviço.
Além
do apontador, havia ainda um capataz, que era funcionário da Junta Geral e que
tinha como funções vigiar a obra e fazer por vezes o ponto.
Do
quanto nos foi possível apurar sobre o assunto, sabemos que um dos capatazes da
obra dos túneis foi Belarmino Soares de Mendonça.
Estes
eram os trabalhadores que, de uma maneira geral, trabalhavam assiduamente na
obra.
No
caso da obra dos túneis da Ribeira Quente, o engenheiro nomeado foi Francisco
Pacheco de Castro. Ele efetuou o estudo da obra e projetou a construção do dito
ramal, à exceção dos túneis que foram da autoria do engenheiro auxiliar
Floriano Victor Borges que tomara a direção da obra. Foi ele que efetuou os
trabalhos preliminares (a mira, as medições para a escavação), e a acompanhou
com uma certa regularidade.
Passemos
ao terceiro aspeto que se prende diretamente com a construção dos túneis: as
ferramentas de trabalho.
No
procedimento de abertura dos túneis não se utilizou maquinaria. Os túneis foram
abertos com os mais rudimentares instrumentos: picaretas e sachos, “numa luta
titânica contra a rocha que eles a pouco e pouco vão dominando e vencendo”
(10).
Foi
sem dúvida a força braçal que dominou tanto a abertura dos túneis, como a
construção e fixação da ponte da Ribeira dos Tambores.
As
pedras enormes, retiradas da abertura dos túneis eram arrastadas pelos homens,
com cordas. Só mais tarde, na última fase da obra, existiu uma vangonete que
ajudava a descarregar em maior quantidade, o entulho tirado do túnel para a
ribeira.
Refira-se
a propósito a ferramenta em regra utilizada na construção dos túneis.
Os
pedreiros utilizavam sobretudo os picões e os escolpes para moldar a pedra,
informou-nos o mestre pedreiro da obra, Sr. José Pimentel.
Quanto
aos carpinteiros, o serrote, o martelo, a plaina o arco de pua, o rebote, o
desbastador, os ferros, o cantilo, o compasso e o esquadro, eram as ferramentas
básicas utilizadas neste tipo de obra, informou-nos o mestre António Galante.
Todas
as ferramentas, que pertenciam aos mestres e a que era propriedade da Junta
Geral, na sua larga escala pás e picaretas, bem como os carrinhos e os broncos,
eram guardadas num barracão de madeira provisório, junto à obra.
Os
trabalhadores entrevistados, falam ainda de um segundo barracão separado, onde
o apontador redigia a escrituração da obra.
(8)
Matos, Artur Teodoro de, Transportes e Comunicações, p. 509
(9)
Diário dos Açores, de 19 de Agosto de 1940, p.4
(10)
In jornal A Ilha, 18-06-1939.0
Fonte:
Livro de Maria de Deus Raposo Medeiros Costa “Os Túneis da Liberdade”
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