Por
detrás dos grandes feitos está, normalmente, uma grande figura, um rosto, um
nome… Assim por detrás da obra dos túneis da Ribeira Quente há a destacar o
rosto do homem que a projetou e executou, o engenheiro auxiliar Floriano Victor
Borges.
Competente,
empenhado e organizado, o Eng.º Floriano Borges, foi exuberante, pelo modo como
projetou e executou a obra dos túneis. Pelo empenho que dedicou a tal obra,
tantas vezes manifestado em família e publicamente, em entrevistas aos jornais;
como pelo seu método, presente na maneira como deixou organizado todos os seus
manuscritos, jornais e fotografias alusivas à obra dos túneis.
Personalidade
vincada, assim, foi justamente considerado pelos jornais açorianos, aquando do
seu falecimento. Assim, em todos se destaca “a dignidade e o aprumo como lema
da sua vida” e os atributos de “simpático, afável, de feitio acolhedor, chefe
de família dedicado, conquistara inúmeras amizades, sendo muito sentida a sua
morte”.
Floriano
Victor Borges, nasceu a 12 de Abril de 1889, em Água de Pau – Lagoa; filho de
Manuel Borges de Medeiros Pacheco e de Maria Isabel Lopes.
Depois
de concluída a instrução primária em Água de Pau, Floriano Borges prosseguiu os
estudos em Ponta Delgada, frequentado o já extinto Liceu que funcionava no
Convento da Graça.
«À data da sua nomeação e colocação na
extinta Direção das obras Públicas do Distrito de Ponta Delgada em 28 de
Novembro de 1916, encontrava-se frequentando a Escola de Oficiais Milicianos,
tendo sido promovido a aspirante Miliciano de engenharia, engessando no regime
de Sapadores Mineiros em 27 de Fevereiro de 1917 e a alferes a 20 de Junho do
mesmo ano, tendo feito uma escola de recrutas em Tancos com a duração de cerca
de dez meses, desempenhando o lugar de comandante da 3ª Companhia de Instrução
de Recrutas da especialidade de Pioneiro, a abertura de minas e a montagem e
lançamento de uma ponte metálica, de sistema Eiffel, de ima margem para a outra
de uma ravina, supondo não haver possibilidade de acesso (…)
Em Fevereiro de
1919 foi colocado na Inspeção das Fortificações de Obras Militares dos Açores
na qualidade de chefe da Secção deste distrito, onde vários projetos e
orçamentos de obras de reparação e modificações executou e dirigiu, coordenando
o Exmo. Coronel Inspetor nos projetos e orçamentos de obras nos outros distritos
por mais nenhum oficial fazer parte das Inspeções.
Em 18 de Março de
1919, por ter sido licenciado, apresentou-se na acima referida Direção das
Obras Públicas tendo sido nomeado chefe de trabalhos de 1ª secção, que tinha a
seu cargo a construção do molho do porto artificial d’esta cidade (Ponta
Delgada), não tendo elaborado qualquer projeto nem dirigido obras de construção
por falta de dotações orçamentais, apenas dirigido os trabalhos de conservação
do molho e por vezes feito sondagens em especial do lado exterior do mesmo como
estudo para a sua defesa.
Na secção
hidráulica criada depois da extinção daquela Direção foi encarregado do serviço
de fiscalização dos cursos d’água, tendo entretanto em 1927 elaborado o
anteprojeto do cais em São Lourenço na Ilha de Santa Maria e no verão seguinte
dirigido a obra de construção do mesmo que se encontra incompleta, por falta de
verba orçamental.
Em Abril de 1928
procedeu ao levantamento e nivelamento da região do Salto do Fojo no Vale das
Furnas e depois dirigido a construção de uma barragem para defesa daquele vale.
Por despacho de 26
de Maio de 1929 passou à situação de destacado em serviço na Direção das Obras
Públicas a cargo da Junta Geral deste distrito, tendo sido nomeado chefe da
Secção Industrial lugar que desempenhou com o de chefe de outra secção até
finais de 1932. Em Janeiro de 1930, depois de superiormente aprovada a
organização dos serviços a cargo da Junta Geral foi nomeado chefe da 2ª secção
da construção, lugar que desempenha dirigindo, como tal os trabalhos da
construção de estradas e obras de arte a cargo da secção que chefia e
procedendo quando necessário se torna ao restabelecimento de traçados.
Dirigiu
temporariamente as obras de reconstrução da área sinistrada pelo abalo sísmico
de 5 de Agosto de 1932.
Fora estes
serviços, projetou edifícios escolares e para moradia, tendo também projetado e
dirigido em 1932 uma muralha na Avenida Vasco de Silveira em Vila Franca do Campo
por conta da respetiva Câmara Municipal.
Procurador à Junta
Geral em dois períodos anteriores a 28 de Maio de 1928.
Projetou e dirigiu
a construção dos túneis-estrada da Ribeira Quente.
Foi Professor
efetivo da Escola Normal Primária de Ponta Delgada, num período anterior a 1932»
A
este esboço da sua biografia , e referente à sua vida profissional, há ainda a
acrescentar que foi ele o autor do projeto, em forma octogonal, da ermida de
Nossa Senhora do Monte, construída em 1932, em Água de Pau.
Além
de ter sido ele a dirigir o segundo alargamento entre a recoleta e o porto da
Caloura, incluindo o largo semicircular com a varanda para o mar, deve-se-lhe
também a primeira piscina para crianças existente na cabeça do molho do porto
da Caloura.
Em
1949 foi-lhe concedida aposentação voluntária, tendo os jornais dos Açores,
Correio dos Açores e Diário dos Açores anunciado tal acontecimento.
Em
24 de Abril de 1963, Floriano Borges faleceu na sua residência em Ponta
Delgada.
Este
esboço biográfico não teve outra intenção senão a de dar a conhecer um pouco da
vida do Eng.º Floriano Borges, que deixou o seu nome ligado a várias obras
distritais, a destacar os túneis da Ribeira Quente, que pretendemos aqui
perpetuar.
Antes
de terminarmos esta singela homenagem ao Eng.º Floriano Borges, gostaríamos de
partilhar com o leitor, as últimas informações sobre os túneis assinadas pelo
seu próprio autor. Com este gesto pretendemos dar uma oportunidade ao Eng.º
Floriano Borges de pronunciar-se livremente em público, uma vez que, em vida,
sentiu e lamentou diversas vezes, junto dos amigos e familiares, a falta de
liberdade de imprensa.
Fonte:
Livro de Maria de Deus Raposo Medeiros Costa “Os Túneis da Liberdade”
Sem comentários:
Enviar um comentário