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domingo, 5 de janeiro de 2014

RIBEIRA QUENTE - OS TÚNEIS DA LIBERDADE: O AUTOR DOS TÚNEIS (CONTINUAÇÃO)

Por detrás dos grandes feitos está, normalmente, uma grande figura, um rosto, um nome… Assim por detrás da obra dos túneis da Ribeira Quente há a destacar o rosto do homem que a projetou e executou, o engenheiro auxiliar Floriano Victor Borges.

Competente, empenhado e organizado, o Eng.º Floriano Borges, foi exuberante, pelo modo como projetou e executou a obra dos túneis. Pelo empenho que dedicou a tal obra, tantas vezes manifestado em família e publicamente, em entrevistas aos jornais; como pelo seu método, presente na maneira como deixou organizado todos os seus manuscritos, jornais e fotografias alusivas à obra dos túneis.

Personalidade vincada, assim, foi justamente considerado pelos jornais açorianos, aquando do seu falecimento. Assim, em todos se destaca “a dignidade e o aprumo como lema da sua vida” e os atributos de “simpático, afável, de feitio acolhedor, chefe de família dedicado, conquistara inúmeras amizades, sendo muito sentida a sua morte”.

Floriano Victor Borges, nasceu a 12 de Abril de 1889, em Água de Pau – Lagoa; filho de Manuel Borges de Medeiros Pacheco e de Maria Isabel Lopes.

Depois de concluída a instrução primária em Água de Pau, Floriano Borges prosseguiu os estudos em Ponta Delgada, frequentado o já extinto Liceu que funcionava no Convento da Graça.

«À data da sua nomeação e colocação na extinta Direção das obras Públicas do Distrito de Ponta Delgada em 28 de Novembro de 1916, encontrava-se frequentando a Escola de Oficiais Milicianos, tendo sido promovido a aspirante Miliciano de engenharia, engessando no regime de Sapadores Mineiros em 27 de Fevereiro de 1917 e a alferes a 20 de Junho do mesmo ano, tendo feito uma escola de recrutas em Tancos com a duração de cerca de dez meses, desempenhando o lugar de comandante da 3ª Companhia de Instrução de Recrutas da especialidade de Pioneiro, a abertura de minas e a montagem e lançamento de uma ponte metálica, de sistema Eiffel, de ima margem para a outra de uma ravina, supondo não haver possibilidade de acesso (…)

Em Fevereiro de 1919 foi colocado na Inspeção das Fortificações de Obras Militares dos Açores na qualidade de chefe da Secção deste distrito, onde vários projetos e orçamentos de obras de reparação e modificações executou e dirigiu, coordenando o Exmo. Coronel Inspetor nos projetos e orçamentos de obras nos outros distritos por mais nenhum oficial fazer parte das Inspeções.

Em 18 de Março de 1919, por ter sido licenciado, apresentou-se na acima referida Direção das Obras Públicas tendo sido nomeado chefe de trabalhos de 1ª secção, que tinha a seu cargo a construção do molho do porto artificial d’esta cidade (Ponta Delgada), não tendo elaborado qualquer projeto nem dirigido obras de construção por falta de dotações orçamentais, apenas dirigido os trabalhos de conservação do molho e por vezes feito sondagens em especial do lado exterior do mesmo como estudo para a sua defesa.

Na secção hidráulica criada depois da extinção daquela Direção foi encarregado do serviço de fiscalização dos cursos d’água, tendo entretanto em 1927 elaborado o anteprojeto do cais em São Lourenço na Ilha de Santa Maria e no verão seguinte dirigido a obra de construção do mesmo que se encontra incompleta, por falta de verba orçamental.

Em Abril de 1928 procedeu ao levantamento e nivelamento da região do Salto do Fojo no Vale das Furnas e depois dirigido a construção de uma barragem para defesa daquele vale.

Por despacho de 26 de Maio de 1929 passou à situação de destacado em serviço na Direção das Obras Públicas a cargo da Junta Geral deste distrito, tendo sido nomeado chefe da Secção Industrial lugar que desempenhou com o de chefe de outra secção até finais de 1932. Em Janeiro de 1930, depois de superiormente aprovada a organização dos serviços a cargo da Junta Geral foi nomeado chefe da 2ª secção da construção, lugar que desempenha dirigindo, como tal os trabalhos da construção de estradas e obras de arte a cargo da secção que chefia e procedendo quando necessário se torna ao restabelecimento de traçados.

Dirigiu temporariamente as obras de reconstrução da área sinistrada pelo abalo sísmico de 5 de Agosto de 1932.

Fora estes serviços, projetou edifícios escolares e para moradia, tendo também projetado e dirigido em 1932 uma muralha na Avenida Vasco de Silveira em Vila Franca do Campo por conta da respetiva Câmara Municipal.

Procurador à Junta Geral em dois períodos anteriores a 28 de Maio de 1928.

Projetou e dirigiu a construção dos túneis-estrada da Ribeira Quente.

Foi Professor efetivo da Escola Normal Primária de Ponta Delgada, num período anterior a 1932»

A este esboço da sua biografia , e referente à sua vida profissional, há ainda a acrescentar que foi ele o autor do projeto, em forma octogonal, da ermida de Nossa Senhora do Monte, construída em 1932, em Água de Pau.

Além de ter sido ele a dirigir o segundo alargamento entre a recoleta e o porto da Caloura, incluindo o largo semicircular com a varanda para o mar, deve-se-lhe também a primeira piscina para crianças existente na cabeça do molho do porto da Caloura.

Em 1949 foi-lhe concedida aposentação voluntária, tendo os jornais dos Açores, Correio dos Açores e Diário dos Açores anunciado tal acontecimento.

Em 24 de Abril de 1963, Floriano Borges faleceu na sua residência em Ponta Delgada.

Este esboço biográfico não teve outra intenção senão a de dar a conhecer um pouco da vida do Eng.º Floriano Borges, que deixou o seu nome ligado a várias obras distritais, a destacar os túneis da Ribeira Quente, que pretendemos aqui perpetuar.

Antes de terminarmos esta singela homenagem ao Eng.º Floriano Borges, gostaríamos de partilhar com o leitor, as últimas informações sobre os túneis assinadas pelo seu próprio autor. Com este gesto pretendemos dar uma oportunidade ao Eng.º Floriano Borges de pronunciar-se livremente em público, uma vez que, em vida, sentiu e lamentou diversas vezes, junto dos amigos e familiares, a falta de liberdade de imprensa.

Fonte: Livro de Maria de Deus Raposo Medeiros Costa “Os Túneis da Liberdade”

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