A música do Hino
dos Açores foi composta por Joaquim Lima, um filarmónico de renome e regente de
banda que então residia em Rabo de Peixe, durante as campanhas autonomistas da
década de 1890, o Primeiro Movimento Autonomista Açoriano. Terá sido tocado em
público pela primeira vez pela Filarmónica Progresso do Norte em Rabo de Peixe,
na ilha de São Miguel, a 3 de Fevereiro de 1894. Intitulava-se então Hino
Popular da Autonomia dos Açores.
Letra do Hino dos Açores
Deram
frutos a fé e a firmeza
no
esplendor de um cântico novo:
os
Açores são a nossa certeza
de
traçar a glória de um povo.
Para
a frente! Em comunhão,
pela
nossa autonomia.
Liberdade,
justiça e razão
estão
acesas no alto clarão
da
bandeira que nos guia.
Para
a frente! Lutar, batalhar
pelo
passado imortal.
No
futuro a luz semear,
de
um povo triunfal.
De
um destino com brio alcançado
colheremos
mais frutos e flores;
porque
é esse o sentido sagrado
das
estrelas que coroam os Açores.
Para
a frente, Açorianos!
Pela
paz à terra unida.
Largos
voos, com ardor, firmamos,
para
que mais floresçam os ramos
da
vitória merecida.
Para
a frente! Lutar, batalhar
pelo
passado imortal.
No
futuro a luz semear,
de
um povo triunfal.
Letra:
Natália Correia
Música:
Joaquim Lima
História
O
Hino dos Açores terá sido tocado em público pela primeira vez pela Filarmónica
Progresso do Norte em Rabo de Peixe, na ilha de São Miguel, a 3 de Fevereiro de
1894. Nesse mesmo dia, António Tavares Torres, então presidente da Comissão
Executiva da Câmara Municipal da Ribeira Grande, acompanhado de um grupo de
amigos e da Filarmónica Progresso do Norte, foi a Ponta Delgada apresentar o
hino. Depois da Filarmónica o ter executado em frente das residências dos
membros da Comissão Eleitoral Autonómica, ao anoitecer, reuniu-se no Campo de
São Francisco um largo grupo de apoiantes da autonomia, que depois percorreu as
ruas da cidade em direção ao Centro Autonomista frente ao qual se realizou um
comício autonomista da campanha para as eleições gerais daquele ano. No comício
discursaram, entre outros, Caetano de Andrade, Pereira Ataíde, Gil Mont'Alverne
de Sequeira e Duarte de Almeida.
A
14 de Abril de 1894, dia das eleições gerais em que foram eleitos deputados
autonomistas os Gil Mont'Alverne de Sequeira, Pereira Ataíde e Duarte de
Andrade Albuquerque, realizou-se um cortejo pelas ruas de Ponta Delgada,
integrando filarmónicas que tocavam o Hino da Autonomia, que os acompanhantes
cantavam.
A
9 de Março de 1895, as filarmónicas também tocaram o Hino da Autonomia na Praça
do Município de Ponta Delgada, numa festa organizada para assinalar a
promulgação do Decreto de 2 de Março de 1895, que concedia, embora mitigada, a
tão desejada autonomia.
Ao
longo dos anos, e em função da evolução política, o hino terá tido várias
letras. A primeira que se conhece é a do Hino Autonomista, na realidade o hino
do Partido Progressista Autonomista, liderado por José Maria Raposo de Amaral,
então maioritário em São Miguel. A composição é da autoria do poeta António
Tavares Torres, natural de Rabo de Peixe e militante daquele partido. Fruto do
calor autonomista do tempo, a versão original do hino tinha a seguinte letra:(1)
“Voz:
O
clamor açoriano,
Em
sã justiça fundado,
Pede
essa ampla liberdade
Que
se deve a um povo honrado.
Refrão:
Para nós é
vergonhosa
A central tutela
odiosa,
Que em nossos lares
recai.
Povos! Pela
autonomia
Batalhai com
valentia,
Com esperança
batalhai!
Voz:
Autonomia...
eis o lema
Do
ideal açoriano
Negá-la
seria um crime;
Combatê-la
desumano.
Refrão:
Para nós é
vergonhosa
A central tutela
odiosa,
Que em nossos lares
recai.
Povos! Pela autonomia
Batalhai com
valentia,
Com esperança
batalhai!
Voz:
Quando
um povo se ergue à altura
Da
sua nobre missão,
Põe
na Carta d'Alforria
A
mais nobre aspiração.
Refrão:
Para nós é
vergonhosa
A central tutela
odiosa,
Que em nossos lares
recai.
Povos! Pela
autonomia
Batalhai com
valentia,
Com esperança
batalhai!
Voz:
Quase
em cinco séculos temos
Sempre
honrado a pátria glória.
Deve
a pátria agora honrar
Os
anais da nossa História.
Refrão:
Para nós é
vergonhosa
A central tutela
odiosa,
Que em nossos lares
recai.
Povos! Pela
autonomia
Batalhai com
valentia,
Com esperança
batalhai!
Voz:
Eia!
Avante Açorianos,
É
já tempo, despertais!
Pela
santa Autonomia
Com
denodo trabalhai.
Refrão:
Para nós é
vergonhosa
A central tutela
odiosa,
Que em nossos lares
recai.
Povos! Pela
autonomia
Batalhai com
valentia,
Com esperança
batalhai!”
Com
o advento do Estado Novo e do nacionalismo, o Hino dos Açores foi votado ao
ostracismo.
Com
a autonomia constitucional o Hino dos Açores foi oficialmente adotado pelo
parlamento açoriano e a sua música, com arranjo de Teófilo Frazão sobre o
original, oficialmente aprovada pelo Decreto Regulamentar Regional n.º 13/79/A,
de 18 de Maio. Face à inexistência de uma letra com aceitação generalizada, foi
encomendada uma nova à poetisa açoriana Natália Correia.
A
versão oficial do Hino dos Açores foi cantada pela primeira vez em público a 27
de Junho de 1984, por alunos do Colégio de São Francisco Xavier. Estiveram
presentes na cerimónia João Bosco da Mota Amaral, então Presidente do Governo
Regional dos Açores, membros do Governo e diversas entidades oficiais. O Hino
foi cantado por 600 crianças, vestidas de saia azul, blusa branca e laço
amarelo, que tinham sido ensaiadas pela professora Eduarda Cunha Ataíde, ao
tempo professora de música no Colégio de São Francisco Xavier.
Notas
(1) Francisco de Ataíde Machado de
Faria e Maia, Novas Páginas da História Micaelense. Ponta Delgada: Jornal de
Cultura, 1994 (2.ª edição), pp. 390-391.
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