É
velho o problema da deslocação de doentes e acompanhantes. Dentro dos Açores e
para fora dos Açores. Para quem vive em algumas ilhas, dotadas de hospitais, o
problema são as deslocações para o Continente (o português e o estrangeiro).
Mas para quem vive noutras ilhas, o drama começa logo quando têm de deslocar-se
dentro da Região para os chamados Hospitais de referência.
Estar
doente não é fácil, nem comum. Comum é ser saudável. Acompanhar um doente é um
dever familiar ou social que nunca pode ser transformado num calvário ou numa
antecâmara de fome ou desespero. Mas é isto que acontece desde há muito tempo
nos Açores. E como é uma coisa que se pode mudar, apenas invertendo algumas
prioridades, não pode servir de justificação para uma Região que se diz
Autónoma o facto de ser mais ou menos assim noutros lados. E não pode,
essencialmente porque somos uma Região pequena onde nos conhecemos e onde se
pode, facilmente, delimitar barreiras entre o que é justo e necessário e o que
é abuso e aproveitamento.
Na
passada semana, uma cidadã açoriana, de quem temos licença para citar o nome,
Paula Margarida Tavares, vítima de doença oncológica, lançou um dramático
apelo, em carta aberta a deputados e governantes regionais, que circulou nas
redes sociais e na imprensa diária, nomeadamente no Diário dos Açores e no
Correio dos Açores, para que fosse revisto e modificado o sistema de apoios às
deslocações de doentes e acompanhantes.
Um
grito que deveria fazer perder o sono aos nossos políticos e que os devia fazer
corar de vergonha sempre que recebem subsídios de deslocação, em viagens onde
têm dormida e alimentação garantida.
Para
quem se desloca em tratamento, e estamos a falar de idas ao Continente, o
subsídio máximo é de 25 euros e cêntimos por pessoa, doente e acompanhante. Não
há nenhuma pensão, por mais rasca que seja, inferior a 30 euros por dia. Logo,
dos 50 euros para duas pessoas, restam 20 para comer. Não dá para uma refeição
para dois. Nem dá para uma deslocação, nem que seja de metro ou autocarro,
porque táxis só pagam alguns, desde o aeroporto à pensão e desde a pensão local
de tratamento. Mas há mais, se for uma filha a acompanhar o pai e vice-versa,
ou um filho a acompanhar a mãe, têm de ficar no mesmo quarto, porque nenhum
apoio permite que durmam em quartos separados. Mas se houver um internamento do
doente, o acompanhante fica só e só ele recebe os 25 euros. Já nem dá para um
quarto. E como come? Por isso, muitos doentes com internamentos prolongados
gastam tudo o que pouparam numa vida para depois ouvirem os políticos
apregoarem a solidariedade para com os deslocados.
O
grito que se ouviu na passada semana não pode ficar isolado e sem eco. Exige
uma resposta. Não podemos considerar favor aquilo que é um direito. E daqui lançamos
o repto a deputados e governantes: Desistam de 3 milhões para uma Casa da
Autonomia que se pode tornar numa fábrica de vaidades pessoais e políticas mais
ou menos dinásticas e apliquem-nos a melhorar as condições da deslocação dos
doentes e acompanhantes. Facilitem a burocracia e invistam na fiscalização das
verdadeiras necessidades. Desistam de um dos dois ferries que andam para aí de
concurso em concurso e olhem para quem empobrece só porque ficou doente. E há
muito mais que se poderia dizer como alternativa.
Não
apregoem o primado da pessoa e dos desfavorecidos quando querem promover os
seus interesses políticos. Há gritos com eco que têm de ter resposta!
Fonte:
Atlântico Expresso / Por: Santos Narciso
Sem comentários:
Enviar um comentário