O
século XIX foi muito fértil no surgimento de sociedades filarmónicas por todas
as ilhas dos Açores. Em São Miguel, reuniu-se o maior número de bandas de
música, estando a sua maioria, ainda hoje, a desempenhar as suas funções. O
Aparecimento das filarmónicas, pelo mundo rural micaelense, deveu-se à
generosidade de muitos beneméritos, especialmente de cidadãos residentes e
naturais da cidade de Ponta Delgada, homens endinheirados e novos titulares do
liberalismo. Entre estes benfeitores, encontram-se o Marquês da Praia e
Monforte, homem de grande benemerência, e o Visconde da Palmeira, sendo este
natural do concelho de Nordeste. Ambos ajudaram jovens a frequentar os
seminários e as universidades, tendo suportando os seus encargos.
No
ano de 1891, foi fundada, na Lomba de João Loução, a Filarmónica União e
Amizade, tendo o Marquês da Praia e Monforte oferecido todo o instrumental à
filarmónica, após ter recebido um pedido do mestre João da Costa Mendonça,
conhecido por «Mestre João Faz – tudo».
Joaquim
Maria Cabral, na sua obra Filarmónicas da Ilha de São Miguel, reproduz uma nota
de Manuel Soares Brandão, que escreve sobre a fundação desta Sociedade
Filarmónica, no seguinte teor:
«Os
primeiros anos foram de verdadeira tragédia, visto ter sido guerreada pelas
duas correntes politicas locais: - «progressistas e regeneradores», e, só
defendida e apoiada por um reduzido número de afeiçoados por simpatia e ingratidão
ao Sr. marquês da Praia e Monforte, oferente do respetivo instrumental, a
pedido do popular mestre João da Costa Mendonça, que dentro da sua humildade e
arrojo, teve que vender a sua burrinha para poder ir a Lisboa solicitar a S.
Ex.ª, tal graça.»
O
instrumental foi então enviado pelo Marquês da Praia e Monforte tendo chegado
em 1891, como noticiaram alguns jornais micaelenses, como o Diário de Anúncios
e a Gazeta da Relação, bem como o Aurora Povoacense. Tendo este último, segundo
Joaquim Maria Cabral, noticiado «…no seu n.º 449, que a respetiva estreia se
realizou no dia 17 de Abril de 1892, não se encontrando, portanto, também certa
a data indicada numa entrevista publicada no n.º 303, do jornal «Açores».
O
primeiro regente foi António Augusto de Lima, seguindo outros como José Joaquim
de Matos Correia.
Os
seus estatutos foram criados e aprovados em 1933, segundo Francisco Botelho, na
sua obra “O Padre Ernesto Jacinto Raposo – 1875-1940”.
A
Filarmónica União e Amizade foi, durante dezenas de anos, um autêntico
conservatório musical para os jovens desta localidade, muitos deles não sabiam
escrever nem ler, sabendo, no entanto, ler partituras musicais, aprendidas nos
bancos da sede da Filarmónica.
Ao
longo da sua história, a Filarmónica União e Amizade guarda nos seus retalhos
de memórias dezenas de pessoas, ou mesmo centenas, que por ali passaram e
ajudaram a edificar o sonho do Mestre João Faz – Tudo. Entre várias figuras,
destacam-se os nomes de ilustres titulares, como o Marquês da Praia e Monforte,
o Marquês de Bellas e o Visconde Botelho, e ainda, outros nomes que a história
não registou, mas que a memória coletiva desta Filarmónica guarda.
Atualmente,
infelizmente a Filarmónica União e Amizade encontra-se encerrada, com sede
instalada no largo junto à Igreja de Nossa Senhora dos Remédios.
Fonte:
Retalhos
de Memórias de José de Almeida Mello
Povoação,
quarta-feira, 21 de novembro de 2018.
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