O Povoacense José de Sousa Moniz nasceu a 17 de Fevereiro de
1913 na casa que hoje é a Junta de Freguesia da Povoação, era filho de António
Moniz e de Maria da Glória de Sousa, casou com Ludovina Furado de Jesus a 10 de
Março de 1937, fruto do seu amor nasceram, Maria de Fátima, Simão, José
António, Ivone Maria, José Luís, Ricardo Jorge, Mário Manuel e Henrique César.
José de Sousa Moniz era canteiro de profissão,
dedicado e muito trabalhador. Era o chefe dos canteiros na vila da Povoação.
Foi mestre de obra da muralha da ribeira do Além na rua de trás, mais tarde foi
convidado para ir trabalhar em Ponta Delgada para levar pedra de uma pedreira
da Povoação com o intuito de restaurar a igreja de São José e chefiar a obra de
construção do palácio José do Canto.
A história deste Povoacense foi-nos relatada por
outro mestre, Luís Diniz, que com alegria relembra o passado deste conterrâneo
que, devido aos tempos difíceis daquele tempo, e, com tantos filhos para
sustentar atendeu a uma carta de chamada de um compadre seu, partindo assim à
procura de uma vida melhor rumo à jovem nação venezuelana desembarcando no
porto de La Guaira, nos anos 50. “Era um homem muito trabalhador e muito
habilidoso sabia fazer de tudo com mestria e perfeição”, diz-nos com sentimento
Luís Diniz, “trabalhava a pedra como ninguém, fez um escudo na muralha do Pé do
Salto na perfeição, hoje já não existe devido às intempéries. De uma pedra fez
a figura do Presidente da República, o Carmona e fez a coroa do Espírito Santo.
É uma enorme pena que tudo isto não tenha resistido ao longo dos tempos e se
tenha perdido, tudo por falta de compreensão e falta de amor àquilo que
genuinamente é nosso, e que hoje teria um valor incalculável de história,
sentimento e presença”.
Mestre José de Sousa Moniz, mais conhecido entre os
Povoacense como mestre José Cardoso ao chegar à Venezuela, Caracas, começou por
trabalhar na construção de pequenas moradias em que ele próprio desenhava a
planta das mesmas e, deste cedo começou a dar nas vistas pela sua dedicação e
perfeição no acabamento das suas construções, de tal forma que responsáveis
locais ficaram admirados com tal mestria. Naquela altura os venezuelanos tinham
entre mãos um grande e arrojado projecto, a construção de um templo em memória
de São Pedro. Queriam fazer uma réplica da Basílica se São Pedro de Roma. Após
discussão entre engenheiros e arquitectos locais sobre a arrojada obra, a
solução mais complicada passou a ser em quem delegar a responsabilidade da sua
construção. É então que surge um responsável local que tinha visto o mestre
José Cardoso a trabalhar e, lembrou-se de partilhar com a restante equipa de
responsáveis locais que um fulano, emigrante português, era um mestre com
atributos incríveis. Neste sentido os responsáveis venezuelanos marcam um
encontro com o mestre de obras micaelense, José de Sousa Moniz (José Cardoso) e
apresentam-no o que tinham em mente. Desde logo a resposta do mestre Povoacense
foi a seguinte, tudo é possível fazer, e eles ficaram todos de boca aberta,
pois, um homem que aparece ali diante de arquitectos e engenheiros a dizer que
faria tudo o que desejassem foi uma enorme surpresa para todos. Engenheiros e
Arquitectos deram a planta ao mestre José Cardoso, que logo começou a discutir
com eles como haveria de ser feito aquele templo em memória de São Pedro de
Caracas. Todos os pormenores da obra eram discutidos num gabinete chefiado pelo
mestre José Cardoso o grande responsável por aquela grande obra.
Mestre Herculano Araújo foi outro mestre Povoacense
que acompanhou mestre José Cardoso em Caracas e testemunhou, enquanto lá
esteve, a sua mestria em terras venezuelanas. Um jornal de Caracas publicou um
artigo sobre esta emblemática obra e descreve as seguintes palavras: «Um grupo
de sessenta e cinco trabalhadores, especializados em alvenaria e carpintaria,
obedeciam escrupulosamente à direcção de um mestre de obras micaelense, senhor
José de Sousa Moniz, homem dotado de uma larga experiência, de excepcional e,
sobretudo, de uma preocupação extrema para com a obra que aspirava “ser eterna”
»
O Povoacense José de Sousa Moniz (José Cardoso) faleceu no dia dois de Janeiro de 1970 com um ataque do coração.
Mestre José Cardoso está imortalizado em Caracas no
Templo de São Pedro. A sua figura está estampada em pintura no teto daquela
igreja. Os responsáveis daquela cidade venezuelana souberam reconhecer o quanto
este homem foi importante na construção do seu templo e não fizeram por menos,
lá está e permanecerá para sempre o Povoacense José de Sousa Moniz (José
Cardoso) nas paredes da Catedral de São Pedro de Caracas. Para nós Povoacenses
deve ser motivo de orgulho ter um irmão nosso com tamanha obra e distinção
noutro país. Que ao menos saibamos dar valor à sua história.
No nosso cemitério José de Sousa Moniz (José
Cardoso), construiu um jazigo a uma família de Povoacenses que emigraram rumo
aos E.U.A., uma obra prima diga-se em abono da verdade, porque, quem vai ao
nosso cemitério e repara naquela campa toda talhada à mão a escopro e martelo
com o pormenor daqueles bordados todos, fica certamente encantado. Fomos ao
nosso cemitério e fotografamos a campa, hoje propriedade do seu sobrinho João
Jacinto Sousa Furtado. Está a ser restaurada e merece a nossa admiração,
realmente uma obra de arte.
Para nós foi um enorme prazer dar a conhecer aos nossos leitores esta interessante história, desconhecida para a maioria, mas, estamos certos, que ficará na memória daqueles que se interessam pelo concelho da Povoação suas gentes e seus feitos.
Pedro Damião Ponte / Fonte: Luís Dinis
Grande orgulho para todos os Povoaçênses, Ilha de S. Miguel, Açores e Portugal. Obrigado Mestre José de Sousa Moniz.
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