Prémio de 2014
anunciado na manhã de sexta-feira pela "luta contra a repressão das
crianças e pelo seu direito à educação".
O
Prémio Nobel da Paz foi atribuído sexta-feira passada, 10 de outubro de 2014, à
ativista paquistanesa Malala Yousufzai e ao indiano Kailash Satyarthi.
O
anúncio foi feito de manhã em Oslo pelo presidente do Comité Norueguês do
Nobel, Thorbjoern Jagland, que afirmou que "as crianças têm de ir à escola
e não podem ser financeiramente exploradas". O prémio foi atribuído aos
dois ativistas "pela sua luta contra a repressão de crianças e jovens e
pelo direito de todas as crianças à educação", segundo o comité.
O
Comité Nobel chama a atenção para a atribuição do prémio a "um hindu e a
uma muçulmana, um indiano e uma paquistanesa, que se juntam numa luta comum
pela educação e contra o extremismo".
Malala
Yousufzai tornou-se conhecida pela sua defesa do direito universal à educação
em todo o mundo. Em 2013, a paquistanesa de 17 anos foi galardoada com o Prémio
Sakharov, atribuído pelo Parlamento Europeu. Torna-se agora a mais jovem
vencedora do Prémio Nobel.
Em
2012, fez quinta-feira passada dois anos, a jovem foi alvo de um atentado por
um grupo de taliban que controlava a região paquistanesa onde vivia. Malala
sobreviveu e tornou-se uma das vozes mais ouvidas na área dos direitos das
crianças à educação. Entre as muitas ações em que participou, sublinha-se o
discurso da jovem na sede da ONU em Nova Iorque, em que apelou à tolerância e
compreensão entre os povos.
Malala Yousafzai:
"Deus deu-me uma segunda vida"
O
dia 12 de Julho, data do seu aniversário, foi batizado pela ONU como o “Dia de
Malala”. Há um ano foi publicada a sua biografia, Eu Malala, da autoria da
jornalista britânica Christina Lamb.
Na escola, como é
habitual
A
notícia do Nobel já chegou a Malala, que “estava na escola, como é habitual”,
segundo um porta-voz da Edelman, uma empresa de relações públicas que gere a
sua imagem, citado pela AFP. Desde que foi vítima do atentado a jovem vive com
a família em Birmingham, no Reino Unido.
A
acompanhar o primeiro Nobel da Paz atribuído a uma adolescente (Malala é a mais
jovem de sempre a receber o prémio) surge um ativista dos direitos das
crianças: Kailash Satyarthi, 60 anos, abandonou uma carreira de engenheiro eletrónico
para se dedicar à luta contra o trabalho infantil nos anos 1980. A organização
que fundou, Bachpan Bachao Andolan, já conseguiu retirar perto de 80 mil
crianças do trabalho escravo, conseguindo devolvê-las à educação e ajudar na
sua reintegração.
O
ativista agradeceu o prémio, que representa o "reconhecimento da dor que
milhões de crianças sofrem", em declarações à agência Press Trust of
India.
Satyarthi
é o promotor de vários movimentos da sociedade civil, incluindo o maior
dedicado a este tema, a Marcha Global contra o Trabalho Infantil, que une
organizações não-governamentais, sindicatos de professores e de comércio de
todo o mundo (2000 grupos em 140 países). Também fundou a Campanha Global pela
Educação, que visa combater a crise global na área.
Na
Índia, promoveu ações para tornar a educação num artigo constitucional. Na
sequência disso, em 2009, foi aprovado no seu país a Lei do Direito à Educação
Gratuita e Obrigatória. Outras leis foram entretanto aprovadas, mas o problema
continua a ser a prática, consequência da pobreza e da corrupção (que diminuiu
as hipóteses de os empregadores serem responsabilizados pelas autoridades), mas
também da falta de escolas com boas condições e de professores.
Um primeiro dia de escola chocante
"O
meu primeiro dia de escola foi emocionante, mas também foi chocante. Havia uma
criança da minha idade a trabalhar à porta da escola com o pai. Perguntei ao
meu professor por que é que aquela criança não vinha à escola e ele não
respondeu. Falei com o diretor e ele disse: 'É comum, são crianças
pobres'", contou o agora laureado numa entrevista ao PÚBLICO, em 2005.
Quando ganhou coragem e foi falar com o miúdo, este explicou-lhe que toda a sua
família tinha começado a trabalhar na infância. "Nós nascemos para
trabalhar", disse-lhe.
Na
mesma entrevista, Satyarthi conta à jornalista Ana Cristina Pereira que, ainda
jovem, começou a fazer uma revista chamada A Luta Deve Continuar "sobre as
pessoas ignoradas e as suas lutas", uma publicação que fazia sozinho e
enviava para as autoridades. "Um dia, apareceu-me um homem com 40 e muitos
anos, cheio de fome e sede e com umas revistas dessas na mão. Um leitor
tinha-lhe dado e dito que me procurasse. Ele contou-me que tinha sido vendido e
que durante 17 anos estivera a trabalhar numa fábrica. Fugiu de noite, com a
família, porque os patrões queriam vender a filha, de 14, 15 anos a um
bordel", recordou, numa conversa à margem da Conferência Europeia sobre
Tráfico de Crianças.
Por:
João Ruela Ribeiro e Sofia Lorena
Fonte:
Público
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