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terça-feira, 29 de outubro de 2013

MÃE SUSPEITA DE TER MANTIDO BEBÉ EM MALA DE CARRINHA DURANTE DOIS ANOS

Menina, filha de casal de origem portuguesa que vive em França, foi descoberta desidratada e subnutrida por mecânico. Pais arriscam dez anos de prisão.

Uma mulher de 45 anos de origem portuguesa residente em França é suspeita de ter escondido a filha, um bebé que terá perto de dois anos, na mala de uma carrinha, ocultando a existência da criança à família e aos amigos. A mãe e o pai da menina, um português natural da Póvoa de Lanhoso que diz desconhecer sequer que tinha esta filha, foram detidos na sexta-feira e libertados no domingo, estando sujeitos a apresentações periódicas e proibidos de contactar um com o outro e com os outros três filhos.

A criança, desidratada e subnutrida, foi descoberta na sexta à tarde pelo mecânico de uma oficina onde a senhora tinha ido arranjar o automóvel, encontrando-se desde então internada no Centro Hospitalar de Brive-la-Gallairde, uma comuna da região de Limousin, no Sudoeste de França.

“O estado físico, psicológico e afectivo da menina não corresponde à sua idade, estimada pelos pediatras em 18 meses”, afirmou ao PÚBLICO uma directora da instituição, Beaudet Pouplier, que adianta que a criança continua a ser sujeita a exames. O bebé não fala nem anda e os médicos ainda não sabem se poderá recuperar do atraso físico, mental e psicomotor.

Foi o barulho e o estranho comportamento da senhora, que nunca abandonou o carro, que levaram o mecânico a agir. “A primeira coisa que ela perguntou quando chegou foi se era preciso ir à mala para arranjar o carro”, conta ao PÚBLICO Joaquim Sousa, um dos mecânicos da oficina. Foi, contudo, o barulho que a traiu.

“O meu colega estava a desmontar uma peça no tablier e ouviu um barulho. Perguntou à senhora se tinha um animal no carro e ela respondeu que devia ser um brinquedo eléctrico dos filhos que se tinha ligado”, continua Joaquim Sousa.

Mas o barulho não parava e parecia-se cada vez mais com um gemido. O mecânico pediu a um colega para distrair a cliente e abriu a mala. “Encontrou a garota deitada em cima de sacos do lixo, completamente nua e suja. Parecia estar com dificuldades em respirar”, descreve Joaquim Sousa, que trabalhava num carro mesmo ao lado. A mulher — filha de portugueses, mas nascida em França — pegou na criança, meteu-a numa alcofa que tinha na mala e colocou-a num dos bancos traseiros da viatura, uma carrinha Peugeot 307 SW. Os funcionários da oficina chamaram a polícia e os bombeiros.

A mulher foi detida e nesse mesmo dia a polícia foi buscar o seu companheiro, um operário da construção civil desempregado, à moradia onde viviam, na pequena localidade de Brignac-la-Plaine. Terá encontrado o português alcoolizado, tendo este negado ter conhecimento da existência daquela filha, a mesma tese sustentada pela companheira. A polícia selou a casa para fazer testes e neste momento o casal está a viver, separadamente, em casa de familiares. Estão indiciados por três crimes, um deles de violência habitual sobre menores, incorrendo numa pena que, segundo o procurador de Brive, pode chegar a dez anos de cadeia. Os outros três filhos, uma menina de quatro anos e dois rapazes de nove e dez anos, foram entregues aos serviços sociais e colocados numa instituição.

Os vizinhos nunca se aperceberam da existência de uma quarta criança na casa e recordam agora como era habitual o carro estar coberto com caixas de papelão e cobertores. “Deduzo que fosse para abafar o ruído”, afirma Joaquim Sousa, que tem um amigo que mora em frente dos suspeitos. O mecânico recorda-se ainda de que a senhora já tinha estado outras duas vezes na oficina, a primeira das quais em Agosto, e nessa altura os funcionários já tinham notado o cheiro nauseabundo do carro.

Uma dirigente de uma associação de portugueses em Brive adianta que o casal já terá contratado um advogado para tentar recuperar a custódia dos filhos. “A família não compreende o que se passou. A senhora terá confessado que dava muitos medicamentos à menina para ela dormir e não chorar. Segundo a mãe, o bebé fará dois anos em Novembro”, conta a dirigente.

Fonte: Portugal P, por Mariana Oliveira

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