Menina,
filha de casal de origem portuguesa que vive em França, foi descoberta
desidratada e subnutrida por mecânico. Pais arriscam dez anos de prisão.
Uma
mulher de 45 anos de origem portuguesa residente em França é suspeita de ter
escondido a filha, um bebé que terá perto de dois anos, na mala de uma
carrinha, ocultando a existência da criança à família e aos amigos. A mãe e o
pai da menina, um português natural da Póvoa de Lanhoso que diz desconhecer
sequer que tinha esta filha, foram detidos na sexta-feira e libertados no
domingo, estando sujeitos a apresentações periódicas e proibidos de contactar
um com o outro e com os outros três filhos.
A
criança, desidratada e subnutrida, foi descoberta na sexta à tarde pelo
mecânico de uma oficina onde a senhora tinha ido arranjar o automóvel,
encontrando-se desde então internada no Centro Hospitalar de
Brive-la-Gallairde, uma comuna da região de Limousin, no Sudoeste de França.
“O
estado físico, psicológico e afectivo da menina não corresponde à sua idade,
estimada pelos pediatras em 18 meses”, afirmou ao PÚBLICO uma directora da
instituição, Beaudet Pouplier, que adianta que a criança continua a ser sujeita
a exames. O bebé não fala nem anda e os médicos ainda não sabem se poderá
recuperar do atraso físico, mental e psicomotor.
Foi
o barulho e o estranho comportamento da senhora, que nunca abandonou o carro,
que levaram o mecânico a agir. “A primeira coisa que ela perguntou quando
chegou foi se era preciso ir à mala para arranjar o carro”, conta ao PÚBLICO
Joaquim Sousa, um dos mecânicos da oficina. Foi, contudo, o barulho que a
traiu.
“O
meu colega estava a desmontar uma peça no tablier e ouviu um barulho. Perguntou
à senhora se tinha um animal no carro e ela respondeu que devia ser um
brinquedo eléctrico dos filhos que se tinha ligado”, continua Joaquim Sousa.
Mas
o barulho não parava e parecia-se cada vez mais com um gemido. O mecânico pediu
a um colega para distrair a cliente e abriu a mala. “Encontrou a garota deitada
em cima de sacos do lixo, completamente nua e suja. Parecia estar com
dificuldades em respirar”, descreve Joaquim Sousa, que trabalhava num carro
mesmo ao lado. A mulher — filha de portugueses, mas nascida em França — pegou
na criança, meteu-a numa alcofa que tinha na mala e colocou-a num dos bancos
traseiros da viatura, uma carrinha Peugeot 307 SW. Os funcionários da oficina
chamaram a polícia e os bombeiros.
A
mulher foi detida e nesse mesmo dia a polícia foi buscar o seu companheiro, um
operário da construção civil desempregado, à moradia onde viviam, na pequena
localidade de Brignac-la-Plaine. Terá encontrado o português alcoolizado, tendo
este negado ter conhecimento da existência daquela filha, a mesma tese
sustentada pela companheira. A polícia selou a casa para fazer testes e neste
momento o casal está a viver, separadamente, em casa de familiares. Estão
indiciados por três crimes, um deles de violência habitual sobre menores, incorrendo
numa pena que, segundo o procurador de Brive, pode chegar a dez anos de cadeia.
Os outros três filhos, uma menina de quatro anos e dois rapazes de nove e dez
anos, foram entregues aos serviços sociais e colocados numa instituição.
Os
vizinhos nunca se aperceberam da existência de uma quarta criança na casa e
recordam agora como era habitual o carro estar coberto com caixas de papelão e
cobertores. “Deduzo que fosse para abafar o ruído”, afirma Joaquim Sousa, que
tem um amigo que mora em frente dos suspeitos. O mecânico recorda-se ainda de
que a senhora já tinha estado outras duas vezes na oficina, a primeira das
quais em Agosto, e nessa altura os funcionários já tinham notado o cheiro
nauseabundo do carro.
Uma
dirigente de uma associação de portugueses em Brive adianta que o casal já terá
contratado um advogado para tentar recuperar a custódia dos filhos. “A família
não compreende o que se passou. A senhora terá confessado que dava muitos
medicamentos à menina para ela dormir e não chorar. Segundo a mãe, o bebé fará
dois anos em Novembro”, conta a dirigente.
Fonte:
Portugal P, por Mariana Oliveira
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