A REPÚBLICA
PORTUGUESA
Em
Portugal não há memória de outro sistema político para além dos republicanos. A
monarquia caiu há 103 anos e, desde então, os homens de sangue azul não
voltaram a controlar a nação. Mas antes de 5 de Outubro de 1910, o poder da
realeza em Portugal via-se gravemente ameaçado, a 1 de Fevereiro de 1908 por
exemplo, o Rei Carlos e o príncipe D. Luís foram assassinados em Lisboa. Os
dois anos seguintes foram de liderança débil, dirigidos por D. Manuel, que provavelmente
nunca pensou assumir o trono e muito menos numa idade tão jovem.
Este
momento sangrento é o ponto de partida para este documentário. Num momento em
que a porta está aberta para a mudança permanente. Porque caiu a monarquia e
como se estabeleceu um regime republicano que mantinha quase todos os vícios da
monarquia? As respostas são dadas pelas personagens principais deste drama.
Basear-nos-emos no testemunho dos descendentes dos primeiros presidentes da
República e também no dos últimos chefes de Estado. Cada um à sua maneira irá
ajudar-nos a compreender as três etapas diferentes do exercício do poder.
Ajudar-nos-á a analisar a instabilidade da primeira etapa Republicana, a
ditadura da segunda, e a estabilidade conseguida na terceira fase.
REVOLUÇÃO
ESTUDANTIL DE COIMBRA
«Sua
Ex.ª Senhor Presidente da República, dá-me licença que use da palavra nesta
cerimónia em nome dos estudantes da Universidade de Coimbra?» O pedido foi
feito por Alberto Martins, então presidente da Associação Académica de Coimbra,
ao Presidente Américo Tomaz. A palavra foi-lhe negada e a cerimónia terminou.
Estávamos a 17 de Abril de 1969 e o dia tornar-se-ia histórico para os
estudantes universitários de Coimbra e para todos os portugueses. Aquela
simples cerimónia de inauguração do Edifício das matemáticas da Universidade de
Coimbra, transformou-se num dos momentos mais importantes na resistência à
ditadura.
A
recusa das autoridades em ouvir os estudantes acendeu um rastilho de indignação
que acabaria por mergulhar Coimbra num estado generalizado de desobediência
cívica. As tradicionais receitas repressivas do Estado para controlar a revolta
não só falharam, como ainda serviram para reforçar a unidade estudantil sob o
domínio da esquerda, contra a direita fascista.
O
que aconteceu aos estudantes de antão? Como vêem o presente e adivinham o
futuro? Procuramos nas fotografias e nos relatos da época quem foram os
protagonistas desde episódio, e hoje, vamos reencontrá-los para ouvir, na
primeira pessoa, os relatos de um episódio que mudou a História de Portugal.
Quarenta anos depois, pretendemos recordar um tempo de censura e de vozes
silenciadas, mas queremos também mostrar que esse foi ainda um tempo de coragem
e de determinação em que jovens estudantes sonhadores lutaram contra os poderes
instituídos para que o país conquistasse um dos bens mais elementares do
indivíduo: A LIBERDADE.
O ÚLTIMO DIA DA
REVOLUÇÃO
No
Verão de 1975 pairavam sobre Portugal um desconforto e uma tensão latentes. A
seguir à euforia vivida em 1974, vinham agora as verdadeiras revoltas.
Multiplicavam-se as greves e as manifestações. As relações entre as pessoas
deterioravam-se. O Verão de 1975 é marcado por ataques às sedes dos partidos
políticos, principalmente as do PCP situadas no Norte. No Sul, Alentejo, muitas
terras e habitações foram ocupadas pelos trabalhadores rurais que procuravam
uma melhor forma de subsistência. Na cidade de Lisboa um grupo de feministas
fez uma manifestação e queimou: tachos, panelas e soutiens, símbolos da antiga
forma como as mulheres eram vistas. A 12 de Novembro um grupo de trabalhadores
cerca a Assembleia da República com os deputados lá dentro. Quando estes saem,
ao fim de algumas horas de clausura, são apupados à porta. Todos, menos os
deputados do PCP. Os militares estão atentos a este sinal. A 5ª Divisão do
Estado-Maior das Forças Armadas publica no seu boletim oficial: «Queremos o
Socialismo, sim…mas não o da Suécia, da Noruega ou da Holanda….O Socialismo que
queremos é o da RDA, da Polónia, Bulgária, Roménia…»
Esta
sucessão de episódios vai acelerar o desfecho do Processo Revolucionário em
Curso, e a 25 de Novembro as tropas estão de novo nas ruas, mas não todas do
mesmo lado. Dois entendimentos diferentes de Liberdade e de Democracia
confrontam-se no Portugal de 1975. Neste confronto existe a possibilidade de
Portugal, membro fundador da Nato, entrar para a lista dos países comunistas.
No lado de lá do Oceano, os Americanos assistem apreensivos ao desenrolar dos
acontecimentos. Chega a colocar-se a hipótese de invadir o país. Será que sim?
Ou será que não foi nada assim? O PCP avançou para o conflito? Ou temeu a
Guerra Civil? Porquê? Será que a Espanha pensou em dominar a “desordem” no país
vizinho, sobretudo depois da vandalização da sua Embaixada? Estas são as
questões que queremos ver esclarecidas. Para o fim deixamos a hipótese: e se em
25 Novembro de 1975 Portugal se tivesse tornado num país comunista, aliado da
URSS? Como seria a Diplomacia nos últimos anos da Guerra-Fria?
25 MINUTOS DE UMA REVOLUÇÃO
O
dia 25 de Abril de 1974 ditou o fim da ditadura e o início de um país livre,
democrático e sem repressões. Uma operação levada a cabo por um grupo de
militares portugueses que ousaram desafiar o regime, escrevendo uma das páginas
mais marcantes da história de um país. Um dia incontornável para Portugal que,
agora, será revisitado pela voz de muitos dos que trouxerem para a rua a
Revolução dos Cravos.
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