Nasceu
ma Povoação, a 25 de julho de 1924, sendo o mais novo de três irmãos, dois
rapazes e uma rapariga.
Filho
de António Jacinto de Medeiros e de Silvana da Conceição Medeiros, pais que
“cedo perceberam a vocação religiosa do filho e sempre o encorajaram a
prosseguir estudos no Seminário”(20), neto paterno de Manuel Joaquim de
Medeiros e de Maria Júlia da Conceição e materno de João Inácio de Medeiros e
de Maria da Conceição Medeiros.
O
Batismo foi-lhe conferido pelo coadjutor Pe. José de Paiva Amaral, na igreja
Matriz da Povoação, aos 13 de Agosto de 1924, (N.º 81, Fls. 22), sendo
padrinhos Manuel Tomás Pacheco e sua esposa Evangelina da Conceição Pacheco.
Foi
crismado na mesma igreja Matriz, no dia 19 de março de 1935, pelo Dom Guilherme
Augusto Inácio da Cunha Guimarães, tendo como padrinho Manuel Soares Brandão.
“Partiu
de casa aos 11 anos para frequentar o Seminário de Angra, onde permaneceu por
mais onze anos”. Tendo concluído os estudos, foi ordenado Sacerdote na Sé
Catedral de Angra, aos 12 de junho de 1949, tendo celebrado a sua Missa Nova na
igreja Matriz da Povoação, aos 26 de junho do mesmo ano.
Atividade Pastoral(21)
Entrou
ao serviço da Comunidade de São Miguel Arcanjo de Vila Franca do Campo, aos 7
de dezembro de 1949, tendo celebrado a primeira Eucaristia na igreja Matriz de
São Miguel Arcanjo, aos 8 de dezembro do mesmo ano. “Foi sucessivamente nomeado
Ouvidor Substituto e Vigário Coadjutor, em 11 de março de 1966, Capelão da
Santa Casa da Misericórdia, a 11 de março de 1969, Pároco e Prior da Matriz de
São Miguel Arcanjo a 8 de dezembro de 1969, data que passa a ser o Ouvidor
Eclesiástico de Vila Franca do Campo” (22), cargo este que desempenhou durante vários
mandatos.
As
suas Bodas de Prata sacerdotais foram celebradas na Matriz de Vila Franca, aos
12 de junho de 1974, o mesmo acontecendo com as Bodas de Ouro, comemoradas com
solene Eucaristia concelebrada por vários sacerdotes da ilha, aos 12 de junho
de 1999.
Muito
se podia escrever sobre as atividades desenvolvidas pelo Prior António Jacinto
de Medeiros. No entanto, como não é nossa intenção esgotar o assunto, vamos
socorrer-nos de algumas passagens extraídas da obra de Maria Gaspar, já citada,
e do semanário A Crença, de 13 de junho de 1999, comemorativo das suas Bodas de
Ouro.
“A
pastoral social da igreja foi sempre praticada ativamente pelo Prior António.
Pouco tempo depois de ter chegado à Vila ambicionou abrir um centro de convívio
para os idosos, quando ainda não existia o conceito, pois na sua opinião muitos
dos cidadãos mais velhos denotavam existências solitárias, carentes de diálogo
e atividade recreativas”. Para concretizar os seus objetivos, “divulgou os seus
propósitos junto dos elementos da Comissão Concelhia de Assistência…tendo a sua
ideia sido bem acolhida”. No entanto, “o projeto nunca foi avante porque
encontrou ‘oposição de alguns vilafranquenses influentes nesta Vila’, talvez
porque a ideia não tinha partido deles(23).
O
prior António Jacinto de Medeiros pode (e deve) ser considerado um “dinâmico
impulsionador da vida religiosa, cultural e social da Vila, como provam as
diferentes iniciativas que tomou ao longo de mais de cinquenta anos”(24).
A
juventude, sobretudo a feminina, mereceu a sua especial atenção. Pensando nela,
fundou a “Casa de Trabalho de Vila Franca do Campo, cujo objetivo foi a
formação da juventude feminina do concelho, permitindo a muitas jovens
adquirirem qualificações essenciais ao seu desenvolvimento pessoal, social e profissional.
Muitos
novo ainda, por morte do Prior João de Melo Bulhões assumiu o cargo de Diretor
do Externato de Vila Franca, responsável pela formação e educação de muitas
gerações de vilafranquenses, criando as bases para o sucesso social e
profissional de muitos deles. Exerceu estas funções até 1987, quando, por força
da legislação vigente, o Externato cessou a sua atividade devido à criação da
Escola Preparatória de Vila Franca do Campo.
Foi
o principal impulsionador de muitas obras na paróquia e na Santa Casa da
Misericórdia, nomeadamente a construção das Capelas do Senhor dos Passos e do
Senhor Bom Jesus da Pedra, construção da escadaria e do Santuário de Nossa
Senhora da Paz e melhoramentos na zona envolvente e grande restauro da igreja
Matriz.
Foi
fundador do Agrupamento 436 dos Escuteiros de Vila Franca do Campo.
Assumiu,
ainda, as funções de Diretor de Semanário “A Crença”, órgão de comunicação
social, fundado pelos padres Manuel Ernesto Ferreira e Cónego João de Melo
Bulhões, jornal que desempenha um importantíssimo papel na divulgação da
Mensagem Cristã e das notícias vilafranquenses, quer a nível local, quer junto
das comunidades emigrantes.
A
ele se deve também a instalação de um Jardim de Infância para apoiar os filhos
das mães trabalhadoras e a construção do Salão Paroquial, onde se ministra a
catequese e se promovem atividades de caráter religioso e cultural, dando
grande apoio aos Grupos de Jovens.
O
articulista afirma a certa altura: “… guardo o exemplo da dedicação e empenho
pelas causas justas, o interesse prioritário pelo bem do próximo, o respeito
pelas memórias privadas e coletivas, a obediência esclarecida e convicta pelas
instituições e as leis dos homens e de Deus”.
No
dizer do Professor Orlando Augusto Brandão, outro articulista, “O Prior António
Jacinto Medeiros soube deter a marcha do seu Tempo e nele fixar-se,
apercebendo-se da fragilidade das coisas terrenas e da inconsistência dos
êxitos fáceis. Soube ter força necessária para reconhecer a sua fraqueza humana
e fortalecer-se no Senhor, dedicando-lhe todas a sua vida ao serviço do
Próximo. Vila Franca jamais esquecerá o seu nome pois as obras que realizou e a
ação espiritual que desenvolveu ultrapassaram em muito o que humanamente lhe
era exigido e projetaram-se com grande impacto no engrandecimento e valorização
do nosso património sócio-cultural e religioso, honrando este Conselho, de que
é Cidadão Honorário, e a sua terra natal, o Concelho da Povoação”(25).
Como
sinal do profundo reconhecimento dos vilafranquenses, a Câmara Municipal
deliberou atribuir o seu nome a uma rua da Vila e colocar a sua fotografia no
Salão Nobre dos Paços do Concelho, junto de outros grandes vultos
vilafranquenses, que muito deram ao concelho.
Na
situação de Prior jubilado da Matriz de S. Miguel Arcanjo, foi nomeado por Sua
Excelência Rev.ma, D. António de Sousa Braga, Reitor do Santuário de Nossa
Senhora da Paz, ao qual dedicou muito do seu empenho e zelo pastoral.
Faleceu em Vila
Franca do Campo, no dia 1 de setembro de 2006, contando 82 anos de idade. A
data da sua morte coincidiu com o encerramento das Festas do Bom Jesus da Pedra
que tanto promoveu e nas quais sempre pôs todo o seu entusiasmo. Ainda chegou a
participar no Tríduo, na procissão da Mudança no sábado e na solene concelebração
do domingo de Festa, a qual foi presidida pelo Bispo de Angra, D. António de
Sousa Braga, bem como na Procissão. O seu último ato público foi no Santuário
da Senhora da Paz, no final da tarde de quarta-feira, na peregrinação anual dos
emigrantes.
Os
jornais noticiaram a sua morte(26) destacando que ele marcou “uma época de meio século
que os vilafranquenses não esquecerão”, pois “deixa uma obra notável a todos os
níveis e será sempre recordado pelo seu temperamento forte e disciplinador,
mas, ao mesmo tempo, humano, sensível e empreendedor”(27).
A Câmara Municipal
de Vila Franca do Campo, na sua reunião de 4 de setembro aprovou um Voto de
Pesar pelo seu falecimento. “Por toda a sua vida e obra, é imenso o
reconhecimento do Povo vila-franquense, e esta Câmara Municipal, sua legítima
representante, exprime, em tão dolorosa circunstância, o seu profundo pesar
pelo falecimento do Senhor Prior António Jacinto de Medeiros, e que o mesmo
seja transmitido à Diocese de Angra do Heroísmo e ilhas dos Açores, à Paróquia
da Matriz de S. Miguel Arcanjo e ainda aos seus familiares”.
“Sacerdote
por opção e vocação, íntegro e dedicado, disponível e persistente, deixa aos
vilafranquenses que serviu, uma notável e incontornável herança, enquadrada na
sua ação pastoral, na cuidada e empenhada preservação e valorização do património
religioso e, sobretudo, no dia-a-dia no elevado exemplo de dedicação, empenho e
doação aos vilafranquenses…” (Correio dos Açores, 1 de outubro de 2006, p.20).
Terminamos
com texto dos párocos in solidum: “Há
muitos que passam pelo mundo como passam as palavras: leva-os o vento. O padre
António Jacinto de Medeiros não passou como passam as palavras. Da sua vida e
trabalho, ficou algo que será registado para sempre na história de Vila Franca
do Campo”(28).
_____________________________
20 Cf. Maria Gaspar,
Nossa Senhora da Paz Santuário Mariano do Atlântico, Vila Franca do Campo,
Editorial Ilha Nova, Câmara Municipal de Vila Franca do Campo, 2004., pp.
97-120
21 Cf. Idem.
22 Cf. Maria Gaspar,
ob. Cit., p. 98
23 Maria Gaspar, ob.
cit., pp.98-99
24 Maria Gaspar, ob.
cit., p. 99
25 Cf. Maria Gaspar,
Nossa Senhora da Paz Santuário Mariano do Atlântico, Vila Franca do Campo,
Editorial Ilha Nova, Câmara Municipal de Vila Franca do Campo, 2004; A CRENÇA,
n.º 4131, de 13 de junho de 1999, Edição especial comemorativa das Bodas de
Ouro sacerdotais do Prior António Jacinto de Medeiros.
26 Cf., entre outros,
“Morreu o último Prior da Vila”, Correio dos Açores, 2 de setembro de 2006, pp.
1 e 5; “Sr. Prior, é Rui [Presidente da Câmara], Correio dos Açores, 8 de
setembro de 2006, p. 15; “Câmara Municipal de Vila Franca do Campo, Voto de
Pesar”, Correio dos Açores, 6 de outubro de 2006, p. 27; “A Homenagem
merecida”, e “Em memória e com memória”, Correio dos Açores, 1 de Outubro de
2006, p. 20; “Recordando com Saudade”, A Crença, 14 de setembro de 2007, p. 6;
“1º Aniversário”, A Crença, 14 de setembro de 2007, p. 6; “Recordando o senhor
Prior…”, A Crença, 14 de setembro de 2007, p. 7;
27 Morreu o último
Prior da Vila, Correio dos Açores, 2 de setembro de 2006, p. 1.
28 Correio dos
Açores, 1 de Outubro de 2006, p. 20.
Fonte:
Clero da Ouvidoria da Povoação de Octávio Henrique Ribeiro de Medeiros (2ª
Edição revista e atualizada, ano de 2014)
Povoação,
sexta-feira, 21 de dezembro de 2018.
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