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segunda-feira, 30 de março de 2015

MAIS FRITOS QUE COZIDOS

Um ano após o assunto ter vindo à praça pública pela primeira vez, as taxas a aplicar pela Câmara Municipal da Povoação na zona dos cozidos da Lagoa das Furnas vão passar a ser, agora, aplicadas.

O mesmo assunto foi já objecto de opinião neste espaço a 27 de Março de 2014, na qual expressei a minha apreciação contrária ao então pretendido.

Considerei que qualquer acto que possibilitasse uma melhor gestão do local, a qual se reconhece nem sempre tem sido a mais ordenada possível, mereceria total aprovação, independentemente de ser efectuada por qualquer entidade pública da administração local ou regional.

Na altura critiquei o anunciado “modelo de gestão inovador” que “introduz(iria) o conceito de prestação de serviços com a contrapartida de pagamento” no que, possivelmente, se referia à utilização das covas dos cozidos, das mesas, do parque de estacionamento e das instalações sanitárias.

Embora nem todas as intenções possam ter sido confirmadas, muito graças à pressão que a sociedade efectuou com realização de manifestações e outras formas de protesto, a autarquia avançou com a aplicação de taxas que pretendem arrecadar verbas dos turistas, mas que prejudicam obviamente os habitantes de São Miguel, que são, no fundo, quem mais visita o local e o valoriza.

Poderá uma comunidade viver sustentadamente de um destino turístico se não se identificar com o mesmo? Por este andar, com situações análogas que possam decorrer nos próximos tempos, não sei se estaremos a matar as nossas galinhas ou se estaremos a matar inclusive as crias dos seus ovos.

À referida data, classifiquei de aceitável o pagamento de uma quantia simbólica no que respeitaria à utilização das covas dos cozidos, desde que essa prestação beneficiasse e disciplinasse o serviço. No fundo esse pagamento foi, até aqui, efectuado por muitos dos utilizadores através de gorjeta aos funcionários que operam no local.

E continuo com a mesma opinião: seria o único serviço que poderia ser efectivamente pago no local!

Aplicar taxas como a que consta de recente portaria que fixa o valor do estacionamento de viaturas - a preços de centro urbano, semelhantes, por exemplo, a parques subterrâneos de Ponta Delgada - parece-me um exagero desmedido. A este exagero devem ser somadas, ainda, as receitas das coimas!!!

Se o parque de estacionamento nunca teve uma utilização que necessitasse de uma taxa que viabilizasse a circulação de viaturas e consequente libertação de lugares e se, por outro lado, o modelo agora em implementação usará acima de tudo máquinas de controlo de entradas e saídas, não promovendo emprego, custará assim tanto manter o espaço, ao qual não serão acrescentadas significativas mais-valias?

Mas, afinal, que destino terão as verbas auferidas pelo município na zona dos cozidos da Lagoa das Furnas?

Lamento muito a situação e o consequente impacto na perda de identidade do local para a população de São Miguel, e até para os turistas, esperando ansiosamente que as mentes brilhantes que a criaram evoluam ou sejam sucedidas por outras melhores.

Escrito por Diogo Caetano
Fonte: Jornal Correio dos Açores

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