Um
ano após o assunto ter vindo à praça pública pela primeira vez, as taxas a
aplicar pela Câmara Municipal da Povoação na zona dos cozidos da Lagoa das
Furnas vão passar a ser, agora, aplicadas.
O
mesmo assunto foi já objecto de opinião neste espaço a 27 de Março de 2014, na
qual expressei a minha apreciação contrária ao então pretendido.
Considerei
que qualquer acto que possibilitasse uma melhor gestão do local, a qual se
reconhece nem sempre tem sido a mais ordenada possível, mereceria total
aprovação, independentemente de ser efectuada por qualquer entidade pública da
administração local ou regional.
Na
altura critiquei o anunciado “modelo de gestão inovador” que “introduz(iria) o
conceito de prestação de serviços com a contrapartida de pagamento” no que,
possivelmente, se referia à utilização das covas dos cozidos, das mesas, do
parque de estacionamento e das instalações sanitárias.
Embora
nem todas as intenções possam ter sido confirmadas, muito graças à pressão que
a sociedade efectuou com realização de manifestações e outras formas de
protesto, a autarquia avançou com a aplicação de taxas que pretendem arrecadar
verbas dos turistas, mas que prejudicam obviamente os habitantes de São Miguel,
que são, no fundo, quem mais visita o local e o valoriza.
Poderá
uma comunidade viver sustentadamente de um destino turístico se não se
identificar com o mesmo? Por este andar, com situações análogas que possam
decorrer nos próximos tempos, não sei se estaremos a matar as nossas galinhas
ou se estaremos a matar inclusive as crias dos seus ovos.
À
referida data, classifiquei de aceitável o pagamento de uma quantia simbólica
no que respeitaria à utilização das covas dos cozidos, desde que essa prestação
beneficiasse e disciplinasse o serviço. No fundo esse pagamento foi, até aqui,
efectuado por muitos dos utilizadores através de gorjeta aos funcionários que
operam no local.
E
continuo com a mesma opinião: seria o único serviço que poderia ser
efectivamente pago no local!
Aplicar
taxas como a que consta de recente portaria que fixa o valor do estacionamento
de viaturas - a preços de centro urbano, semelhantes, por exemplo, a parques
subterrâneos de Ponta Delgada - parece-me um exagero desmedido. A este exagero
devem ser somadas, ainda, as receitas das coimas!!!
Se
o parque de estacionamento nunca teve uma utilização que necessitasse de uma
taxa que viabilizasse a circulação de viaturas e consequente libertação de
lugares e se, por outro lado, o modelo agora em implementação usará acima de
tudo máquinas de controlo de entradas e saídas, não promovendo emprego, custará
assim tanto manter o espaço, ao qual não serão acrescentadas significativas
mais-valias?
Mas,
afinal, que destino terão as verbas auferidas pelo município na zona dos
cozidos da Lagoa das Furnas?
Lamento
muito a situação e o consequente impacto na perda de identidade do local para a
população de São Miguel, e até para os turistas, esperando ansiosamente que as
mentes brilhantes que a criaram evoluam ou sejam sucedidas por outras melhores.
Escrito
por Diogo Caetano
Fonte:
Jornal Correio dos Açores
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