Segundo
a lenda, há muitos anos no local onde atualmente está localizada a Lagoa das
Furnas, existia uma bonita aldeia onde as pessoas viviam felizes, faziam muitas
festas e viviam quase sem trabalhar. Numa bela manhã de céu e sol claro, como
era costume fazer na aldeia, um rapaz saiu de casa para ir a uma fonte próxima
buscar água para as lides domésticas e para dar de beber aos seus animais.
Mas
a água que costumava ser sempre de agradável paladar estava estranhamente
salgada, parecia água do mar e o rapaz teve uma premonição que ia acontecer
alguma coisa estranha na sua aldeia e com os seus conterrâneos. Correu para
casa dos seus vizinhos para contar o que lhe acontecera, o que vira e o que
pensara sobre o caso. Ninguém acreditou nas apreensões do rapaz, e alguns dias
depois ele teve de voltar à fonte para ir buscar mais água.
No
lago em frente à nascente, para onde corria a bica da água, os peixes saltavam
na água e desta para terra, onde acabavam por morrer. Definitivamente
convencido de algo ia acontecer à sua aldeia, correu para junto da população,
mas novamente ninguém acreditou nele, a não ser o seu avô.
O
idoso disse às pessoas da aldeia que parassem com os bailes e com as festas;
que um dos mais ligeiros habitantes da aldeia fosse a correr até ao pico mais
alto em redor para ver o mar e olhar para o norte, para tentar ver se havia
alguma ilha no horizonte, alguma terra à vista a norte. Como ninguém o levou a
sério, só o idoso e o seu neto subiram ao monte mais alto.
Quando
lá chegaram, via-se no horizonte terra nova, uma ilha despontava pelo meio da
bruma. Aflito, o idoso gritou para os aldeões que fugissem para a igreja, vinha
aí grande desgraça, no horizonte encontrava-se a ilha encantada das Sete
Cidades. Novamente ninguém ligou, nem ao idoso nem ao seu neto. Possivelmente
nem o ouviram de tão alta era a música. Desceram ambos o monte, e depois de
passarem pela igreja foram tratar dos animais e da vida imediata.
Passou
um, dois dias e nada acontecia. O rapaz e o avô resolveram sair da aldeia para
levarem os animais ao mercado da aldeia vizinha e por lá se demoraram alguns
dias a negociar. Quando voltavam à sua aldeia, à medida que se foram
aproximando foram-se apercebendo que as coisas estavam diferentes. Havia terra
revoltada e montanhas novas. Ao chegar ao lugar onde devia estar a sua aldeia,
esta tinha desaparecido e no seu lugar encontrava-se uma grande lagoa de águas
cristalinas e tranquilas. Fora um cataclismo que soterrara para sempre a
aldeia.
As
pessoas da ilha de São Miguel, reza a lenda, acreditam que os aldeões continuam
a viver debaixo das águas da lagoa, e que as borbulhas de gás vulcânico que se
vê a sair da água são as pessoas a cozinhar lá no fundo. Dizem que os fumos,
tipo fogo-fátuo que por vezes se elevam das águas junto com um cheiro a pão de
milho cozido, são as mulheres a aquecer o forno escondidas nos fundos e nas
reentrâncias da bela lagoa.
FURTADO-BRUM,
Ângela. Açores, Lendas e Outras Histórias (2a. ed).. Ponta Delgada: Ribeiro
& Caravana Editores, 1999. ISBN 972-97803-3-1 p. 203-204.
Fotos: Google imagens
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