O
fim de semana passado os furnenses celebraram os 50 anos da Igreja de Nossa
Senhora da Alegria e toda a comunidade viveu em festa as celebrações
comemorativas deste importante marco histórico.
Recordar
estes 50 anos e as personalidades influentes das Furnas que ao longo destes
anos muito contribuíram para o crescimento social e cultural da sua querida
freguesia é importante, até para que as gerações mais novas fiquem a conhecer um
pouco mais os grandes homens da sua terra, bem como a sua história.
Com
a prestimosa colaboração do Dr. Luís Miguel Rodrigues Martins que me
disponibilizou as fotos e a biografia das personalidades furenenses, aqui vos
deixo um importante registo histórico destes destintos cidadãos.
Padre Afonso Carlos Arruda
Quental – Vigário do Vale das Furnas
O Padre Afonso Quental,
nasceu no dia 25 de Dezembro de 1913, na freguesia da Maia, concelho da Ribeira
Grande, no seio de uma abastada família rural aristocrática, filho de Carlos
Arruda Quental e de Rosa da Câmara.
Crescido e criado num
ambiente familiar profundamente tradicional, muito cedo, despertou a sua
vocação para a vida religiosa, demonstrando dotes de excelente aluno,
progredindo com sucesso por todas as etapas, então exigidas, tanto no ensino
público como no ensino preparatório para a vida sacerdotal, num período difícil
e conturbado da nossa história, um tempo cinzento, cheio de contradições e de
incertezas.
Realizou os seus estudos,
no Seminário Maior de Angra do Heroísmo, onde granjeou inúmeras amizades que o
haveriam de acompanhar pela vida fora.
Enquanto estudante no
seminário, foi monitor dos teólogos, destacou-se pelo entusiasmo com que
participava na organização dos estudos e festas do seminário, bem como pelo
acompanhamento que dedicava aos alunos mais novos, orientando-os e
incentivando-os a progredirem os seus estudos.
A sua vasta cultura era
complementada, por uma educação cívica irrepreensível, dominando, com mestria o
mundo dos sons, a música fazia parte da sua sólida preparação académica. Fez
parte do grupo coral do Seminário Maior de Angra do Heroísmo, destacando-se
pela sua belíssima voz, tendo sido um elemento preponderante do “Orfeon”
dirigido naquele tempo pelo famoso Pe. José de Ávila.
O saudoso Monsenhor
António Jacinto Medeiros, de Vila Franca do Campo caracterizou-o como sendo um:
“Sacerdote de natural bondade, de fé inabalável, exemplar obreiro da vinha do
Senhor, o Pe. Afonso Quental foi sempre como colega e amigo uma pessoa de
nobres sentimentos, que conquistava prontamente, no seu alegre feitio, a
amizade e a confiança de todos os que com ele conviviam de perto, pois era
incapaz de qualquer infidelidade para com os colegas”.
Fez a sua ordenação
sacerdotal na Sé Catedral de Angra do Heroísmo em 12 de Junho de 1938,
celebrando sua Missa Nova, na terra natal, na Igreja do Divino Espírito Santo,
Maia, a 19 de Junho deste mesmo ano.
Em 12.11.1938, foi
colocado como Vigário Auxiliar na Paróquia de Santana das Furnas, para
coadjuvar o Padre José Jacinto Botelho, que já se encontrava em idade avançada,
tarefa muito difícil, atendendo à figura do consagrado e exímio orador, Padre
Botelho.
A tarefa de o substituir não
seria, certamente tarefa fácil. A fama do Pe. José Jacinto Botelho, era notória
em São Miguel. A Paróquia de Santana das Furnas, acompanhava a importância da
sua fama pela ilha, pelas prodigiosas procissões que atraíam ao vale, inúmeros
fieis e visitantes durante as suas festividades maiores.
É certo que quando ali
chegou, encontrou uma paróquia rica em humanidades e espiritualidade, mas
atrasada ao nível material, pobre, sem recursos, nem condições para albergar
tão grande número de fiéis no seu principal templo. Nesta época, a freguesia
das Furnas, vivia um dos períodos de maior densidade populacional da sua
história. Cerca de 3.500 habitantes!
No que a realizações
práticas de ordem material, dizem respeito, o Padre Botelho, por razões da sua
própria vontade, nunca se fez realçar. Pelo contrário, a ausência de um templo
condigno nas Furnas, capaz de servir toda a população para os serviços
religiosos, há muito que era sentido.
A acção do Pe. Afonso
Quental, neste aspecto foi desde logo notória, empenhou-se com quantas forças
se pode prover e abalançou-se na árdua tarefa de concluir a igreja que se
encontrava iniciada desde a visita régia de D. Carlos e D. Amélia, ao Vale das
Furnas, em 1901, e interrompidas as obras, desde 1908, ano da morte do seu principal
benfeitor, o Marquês da Praia e Monforte.
Com o agravamento da
guerra mundial, em 1940 e num contexto de crise, houve necessidade de
estacionar, estrategicamente, tropas no território das Furnas, instalando-se um
comando operacional, provisório, no interior das obras, entretanto
interrompidas.
Com o fim das hostilidades
em 1945, com a morte do Padre Botelho, em Maio 1946 e principalmente após a
abertura do testamento da Marquesa de Cuba, filha do Marquês da Praia e
Monforte, falecida em 1949, que lhe destinou importante verba para o fim das
obras da igreja, estavam reunidas as condições para levar a cabo a tarefa
gigantesca de a finalizar, empreendimento que consumir-lhe-ia imensos esforços
físicos e psíquicos durante toda a sua vida.
Graças ao entusiasmo que
colocou nesta tarefa, conseguiu galvanizar, através do seu espírito de
liderança, toda a sociedade furnense em torno deste objectivo, num movimento
cívico nunca antes visto nas Furnas.
Durante vários meses,
correntes impressionantes de força e determinação populares, fizeram chegar até
ao local da obra, toda a pedra necessária para a sua execução.
Como meio de obter verbas,
socorreu-se, uma vez mais do apoio do povo, através da criação do cortejo de
oferendas em Honra de Nossa Senhora da Alegria, bem como da colaboração pessoal
de muitos populares que, gratuitamente, ofereceram horas gratuitas do seu
trabalho e suor.
Sabe-se, inclusivamente,
que o Pe. Afonso Quental, com o intuito de dar o exemplo, chegou mesmo a
carregar pedra, despendendo nesta fase, muito esforço físico.
Teve que negociar com o
Governo Central apoios importantes para a concretização do projecto, por duas
vezes deslocou-se ao continente de forma a preparar todo o programa dos
trabalhos do projecto, entretanto muito ultrapassado.
Só a partir de 1959 é que
se começou a vislumbrar o bom desfecho deste importante capítulo da sua vida.
Finalmente, a 22 de
Novembro de 1962, sessenta e um anos depois do lançamento da 1ª pedra, inaugura
a Igreja nova, na presença do então Ministro das Obras Públicas, Engº Arantes
de Oliveira, que muito contribuiu para o seu bom desfecho, tendo procedido à
bênção D. Manuel Afonso de Carvalho, então Bispo da Diocese de Angra.
Mesmo depois da sua bênção
e da sagração dos altares, teve muito que fazer para pagar despesas,
convertidas em dívidas por ele contraídas e assumidas.
Mas, se a sua profícua
acção se focou em grande parte em torno da construção e finalização da igreja,
outros aspectos relevantes da sua acção, como homem e como prelado não deverão
ser esquecidos.
Foi um continuador da obra
do Padre Botelho, ao nível da pastoral.
Reorganizou o arquivo das
Furnas, disperso e desorganizado, reformulou o ensino da catequese e da
formação religiosa do povo, foi um despertador de vocações, amigo dos mais
necessitados, inovou ao nível social, ao assumir a construção e a reconstrução
de diversas habitações para apoio das famílias mais carenciadas.
Durante a Guerra do
Ultramar (1960-1974) foi um incansável amigo e companheiro dos filhos das
Furnas, que partiram em defesa de um império já moribundo, levando até eles,
palavras de conforto e de esperança.
Para quem teve o grata
oportunidade de com ele conviver, foi de facto um companheiro extraordinário,
um homem que soube viver com inteligência o seu próprio tempo, sempre amigo dos
seus amigos, muito próximo dos seus seminaristas, merecendo natural destaque o
já citado Monsenhor António Jacinto de Medeiros e os Padres Hermenegildo de
Oliveira Galante e o saudoso Dr. Manuel António Pimentel.
Homem de uma Fé
inquebrantável, viveu testemunhando sempre a sua verdadeira amizade aos homens,
aos seus paroquianos e o seu amor a Deus.
A 1 de Abril de 1980,
morre, subitamente, com 67 anos de idade, na sua residência, sita à Rua Pe.
José Jacinto Botelho, quando muito ainda dele, naturalmente, se esperava.
O seu funeral, muito
concorrido, foi um dia de grande tristeza para o povo das Furnas.
Para terminar, e citando o
Maestro e amigo Viriato Costa, numa carta que escreveu ao Padre Afonso, em que
a páginas tantas dizia: “ocorreu-me agora á ideia uma frase algumas vezes por
si empregada: (Aqueles que pelos seus actos, da morte se vão libertando) … É
uma verdade irrevogável… Os maiores têm de passar pelas maiores crises…”
Padre Dr. Manuel António Pimentel
Teólogo - "Amigo dos pobres e dos oprimidos"
Chegou a ser apontado para
BISPO de Angra, mas a escolha acabou por recair em D. António de Sousa Braga.
Benjamim Rodrigues – Músico,
compositor, opositor da Ditadura
Realmente foi um grande
cooperante com a Sociedade Harmónica Furnense, era como se fosse a sua 2ª casa.
A Música desde muito novo entrou na sua vida, foi aprendiz na SHF e mais tarde
ainda jovem por sugestão do padrinho, Alfredo Férin e orfão de pai, ingressou
na Banda Militar, onde se formou e progrediu carreira. Teve sempre um grande
carinho pela SHF a quem dedicou boa parte da sua obra. Mas, se foi um bom
músico melhor o foi como avô!
Obrigado a ambos!
Luís Miguel Rodrigues
Martins
Manuel Pimentel da Costa -
Músico - Serenatas das Furnas
Conhecido por Manuel
Pimentel, notável maestro e compositor furnense, autor de várias composições
que alcançaram assinalável êxito.
Manuel Pimentel, nasceu no
Vale das Furnas a 31.10.1929, filho de Manuel Pimentel Ferreira e de Diamantina
da Costa, faleceu a 2 de Abril de 2010.
Desde tenra idade,
cultivou o gosto pela música, o seu interesse pelo violino começou aos oito
anos de idade, ao assistir, pela primeira vez, à audição de uma pequena
orquestra com um violino. Foram seus primeiros professores, Victor Manuel
Rodrigues (violino) e o Padre Afonso Carlos Arruda Quental (solfejo e canto
coral).
Posteriormente, participou
e colaborou no Grupo Coral das Furnas, inicialmente, como contralto e depois
como violinista. Na Sociedade Harmónica Furnense, tocou clarinete durante
vários anos, tendo a esta secular agremiação dedicado boa parte do seu tempo e
do imenso talento musical que possuía.
No final da década de
sessenta, foi residir para Vila Franca do Campo com a família e aí, para além
de exercer sua actividade profissional, continuou a dedicar-se à música, a
maior das suas paixões. Em Dezembro de 1968, compõe a sua primeira composição,
“É Noite, Noite de Natal.” recentemente editada.
No início da década de
setenta com, Ilídio dos Santos, então professor de violino do Conservatório
Regional de Ponta Delgada, continuou a ter lições daquele instrumento. Aquando
da comemoração do cinquentenário do referido Conservatório, participou na
orquestra de cordas daquela instituição como segundo violino, sob a regência do
mesmo professor.
Entre 1975 e 1977, toma a
seu cargo a regência da Capela de São Pedro de Vila Franca do Campo,
manifestando, a partir deste período, uma maior dedicação à composição de
músicas, tanto de carácter religioso como profano.
Regressa, em Junho de
1977, à sua terra natal onde exerceu, durante cerca de dois anos, os cargos de
regente do Grupo Coral da Igreja de Santana e da Harmónica Furnense que nesta
fase passava por uma grande crise directiva.
Desde então, com todo o
enorme entusiasmo que sempre lhe foi peculiar, dedicou o seu tempo à composição
de músicas de diversos géneros abarcando marchas populares, serenatas, canções
e valsas, sem esquecer a música religiosa com missas, cânticos religiosos e um
Te Deum.
Em Agosto de 1995, foi
constituído nas Furnas o conhecido e afamado “Grupo de Cantares Terra Nostra”
tendo sido Manuel Pimentel convidado para seu primeiro regente e nesta fase com
muita produção artística dedicada à sua terra natal, destacando-se composições
dedicadas às famosas Serenatas das Furnas, “Cantar às Fontes,” e “Acorda Amiga
ou Amigo” entre outras muito populares.
Exímio ensaiador, são-lhe
atribuídas notáveis composições dedicadas às Serenatas das Furnas. No Álbum CD
produzido por Álvaro Melo, “Serenatas das Furnas,” estão editadas “Silêncio da
Noite”, “Ao Luar”, e “Terra Nostra” composições de extrema sensibilidade
musical bem demonstrativas do gosto pelo “canto chorado” género tão cultivado
pelo povo açoriano mas de forma muito peculiar pelo furnense.
Em 2009, Manuel Pimentel
foi o responsável pela produção do CD “No Fumegar das Caldeiras… Melodias de
Natal, Presépio das Furnas,” apresentando nove composições de sua autoria,
música e letra, à excepção da composição que deu o nome ao CD, que partilhou a
autoria com seu filho Paulo Pimentel, num trabalho de notável talento,
tradição, espírito de Natal e acima de tudo de refinada sensibilidade musical,
que tanto o caracteriza.
Em “Fumegar das
Caldeiras,” fica patente a excelência da sua vasta obra musical constituindo um
erudito e importante registo musical, património de inigualável mestria sem
paralelo nos Açores.
Manuel Pimentel, foi para
quem como ele teve o prazer de privar, para além de um grande músico, um homem
bom que deixa saudades, um brioso profissional e um grande Amigo que
dificilmente o tempo apagará da nossa memória.
Merece pois a sua ascensão
à nossa Galeria de Personalidades Açorianas.
Dr. António Manuel Arruda –
Político
Figura conhecida no nosso
meio político e intelectual, nasceu nas Furnas a 27 de Fevereiro de 1943 e fez
os seus estudos primários nas Furnas, tendo posteriormente frequentado o então
Seminário Maior de Angra e concluído a sua licenciatura na Faculdade de Direito
da Universidade de Coimbra, onde foi contagiado pela atmosfera de grande
contestação e militância política por um regime mais justo, o que marcou
indelevelmente a sua extrema sensibilidade democrática.
Ainda como estudante de
Direito, participou nos movimentos democráticos que pretendiam estender a
liberdade aos açorianos, tendo participado activamente ao lado do Dr. Manuel
Barbosa, Borges Coutinho, Jaime Gama, Mário Mesquita, Padre Manuel António Pimentel
e Melo Antunes na campanha eleitoral do MDP/CDE no Distrito de Ponta Delgada em
1969, anunciada pela “Declaração de Ponta Delgada”, que se propunha apresentar
uma candidatura independente às eleições para deputados da Assembleia Nacional
daquele ano.
No seu livro “Luta pela
Democracia nos Açores”, o Dr. Manuel Barbosa refere que “o segundanista de
Direito, António Arruda, (…) prestou ao Movimento um serviço inestimável”,
considerando-o um dinâmico doutrinador dos democratas das Furnas”.
Passada a sua “adolescência
política”, aderiu ao Partido Socialista após a sua fundação. Fiel e coerente
com o seu pensamento político e com o socialismo democrático, repugnou sempre o
“eleitoralismo caciqueiro” e o “carreirismo” o que o levou a recusar cargos de
responsabilidade no país. Após a sua licenciatura regressou aos Açores tendo
por algum tempo leccionado nas Escolas Secundárias Antero de Quental e Domingos
Rebelo, fixando-se definitivamente na sua terra natal – O Vale das Furnas.
Grande admirador de Antero
de Quental, foi grande opositor do chamado “Cavaquismo” e da política
preconizada por Mota Amaral para os Açores. Após prolongada doença faleceu nas
Furnas a 3 de Dezembro de 1994.
Texto extraído “Jornal A
Vila, Suplemento -Roncos do Vulcão”
Marquês
da Praia e Monforte – António Borges de Medeiros Dias da Câmara e Sousa
António Borges de Medeiros
Dias da Câmara e Sousa (1829-1903), 2.º visconde da Praia e 1º marquês da Praia
e Monforte.
Foi agraciado pelo rei D.
Carlos, por decreto de 21 de Janeiro de 1890, com o título de marquês da Praia
e Monforte. Par do Reino, terra tenente na ilha de São Miguel, em Monforte e em
Lisboa, financeiro e grande investidor, assumiu um papel de relevo como mecenas
de diversas iniciativas culturais em Ponta Delgada, incluindo o Museu Carlos
Machado e o actual Jardim António Borges, Lisboa e Monforte.
Foi um dos sócios
fundadores (em 1899) da Empresa do Elevador do Carmo, de Lisboa, sociedade em
nome colectivo, que era constituída por ele, pelo Engenheiro Mesnier de Ponsard
e pelo Dr. João Silvestre D'Almeida, médico cirurgião.
Tinha por objectivo a
construção e exploração do elevador e uma duração de 99 anos, período de tempo
igual ao da duração da concessão.
O seu capital era 75
contos de reis entrando Ponsard com o valor da concessão, avaliado em 9 contos
de reis, e mais dezasseis em dinheiro e os restantes membros com a quantia de
25 contos cada.
Casou em 1859 com Maria
José Coutinho Maldonado de Albergaria Freire, filha do 1.º visconde de
Monforte.
Grande amigo do Vale das
Furnas, proprietário, do actual Parque Terra Nostra, grande parte da sua
riqueza botânica a ele se deve, fundador da Banda Harmónica Furnense e
benfeitor principal da Igreja de Nossa Senhora da Alegria.
Victor
Manuel Rodrigues
“Victor Manuel Rodrigues
nasceu no Vale das Furnas a 3 de Dezembro de 1927. Demonstrando inclinação para
a música, bem cedo mostrou aptidão, gosto e saber para a ciência dos sons.
De 1931 a 1939, por
imposição da carreira militar de seu pai, veio residir para Ponta Delgada, onde
fez os seus estudos primários na Escola do Magistério Primário, no Campo de São
Francisco, terminando os mesmos com distinção.
Paralelamente aos estudos
básicos, recebeu aulas de dança. Ingressou, posteriormente, no então Liceu
Antero de Quental em Ponta Delgada.
A última opção educativa
dos seus progenitores acabou por ser a do jovem Victor receber aulas
particulares orientadas pelo Pe. Afonso Carlos Arruda Quental, então padre
coadjutor da Paróquia de Sant’Ana, quando era vigário o saudoso Pe. José
Jacinto Botelho.
Em 1945, com 18 anos de
idade, ingressa na Orquestra de baile “Terra Nostra”, famoso agrupamento musical
que actuava no hotel das Furnas e no Aeroporto de Santa Maria; onde se destaca
como músico brilhante e brioso, depressa atingindo a posição de primeira
figura.
Teve nesta fase trabalho
profícuo. Sobretudo em Santa Maria, em contacto com o meio cosmopolita que era
o “Hotel Terra Nostra” do Aeroporto naqueles recuados anos, Victor Manuel
Rodrigues, já por natural pendor artístico, já pela necessidade de oferecer a
um auditório exigente e constantemente renovado música moderna e inédita,
começou a compor números de imediato sucesso, mas que se desconhece hoje o seu
paradeiro.
Nesta ilha, prestou
valiosas colaborações à Estação Emissora local, pertença do Clube Asas do
Atlântico, onde gravou semanalmente um programa de música executada por ele
próprio.
Por algumas vezes, também,
se deslocou à Ilha Terceira para executar números de Jazz para os Americanos da
Base Aérea das Lajes.
Sentindo arcaboiço para
mais altos voos, em meados da década de 50, resolve deixar os Açores,
aproveitando um lugar de violinista que lhe fora oferecido na orquestra que
tocava a bordo do paquete “Santa Maria”, da Companhia Nacional de Nevegação.
Lisboa era um meio ingrato
para qualquer artista que lá chegasse de uma qualquer terra de província, pois
para além das exigências próprias de uma capital que dia a dia se tornava mais
cosmopolita, as “capelinhas” de compadrio ainda faziam sentir profundamente os
seus efeitos perniciosos e a sua força inexplicável.
Característica que, ao que
parece, continua… E é assim que só os verdadeiros talentos – e nem todos –
logram conquistar ali o seu lugar ao sol.
Após ter passado por
alguns dissabores, no início desta sua grande mudança de vida, hospeda-se em
casa de D. Helena Moreira Viana, ao tempo considerada das mais proeminentes
professoras de música da capital.
Ingressou em 1954 como
violinista na orquestra do Paquete Santa Maria, o mais famoso navio da frota
mercante portuguesa, onde prestará serviço até 1962.
Por vezes, vamos ainda
encontrá-lo a colaborar na orquestra do Paquete Vera Cruz.
Mas será no “Santa Maria”
que testemunhará e viverá momentos deveras aflitivos, consequência do assalto
ao navio na noite de 21 para 22 de Janeiro de 1961, preparado por Henrique
Galvão, Este acontecimento foi vivido com precaução por Victor Manuel
Rodrigues.
Ocultou sempre os seus
verdadeiros pensamentos e sentimentos com medo do que poderia acontecer quando
chegasse a Lisboa, onde a polícia lhe faria certamente mais perguntas do que a
Alfândega.
Sobre este incidente, dirá
mais tarde: “Quando o barco foi desviado, mantive-me com o meu violino e não
aderi às pretensões dos ocupantes”.
Victor Manuel Rodrigues
orgulhava-se de ter assistido “in loco” a três revoluções. A primeira no ano de
1959 em Cuba, quando Fidel Castro obrigou Fulgêncio Batista y Zaldívar a deixar
aquele país. A segunda, a 28 de Março de 1962, preso por precaução pela polícia
militar Argentina, numa rua de Buenos Aires, na companhia de colegas seus da
orquestra, quando foi deposto o Presidente Arturo Frondizi por um movimento das
Forças Armadas Argentinas.
Finalmente a terceira, a
25 de Abril de 1974, Lisboa, quando o MFA derrubou o regime fascista liderado
pelo Prof. Marcelo Caetano.
É de referir que nesta
última, e pelo facto de residir na Rua da Condessa, rua que fica no enfiamento
do Largo do Carmo, assistiu à mesma da janela de sua casa, designadamente à
rendição do Presidente do Conselho.
De 1963 a 1966, Victor
Rodrigues assimiu a direcção das Orquestras dos Paquetes “Infante Dom
Henrique”, “Príncipe Perfeito” e “Moçambique”, situação em que se manteve até à
sua saída da Empresa Nacional de Navegação.
Durante estes doze anos de
constantes deambulações pelas escalas latino-americanas conheceu muitos países,
desigmadamente o Brasil, Argentina, Uruguai, Venezuela, Cuba, todos os países
de expressão portuguesa (então colónias portuguesas), bem como boa parte dos
países europeus, experiência que mostrar-se-ía enriquecedora para a sua
profissão, uma vez que deste modo teve oportunidade de contactar com vários
estilos de música, para além de ter travado conhecimento com diversos músicos
internacionais.
Será a partir de 1964, que
começa a sua actividade musical concorrendo a quase todos os certames do
panorama da música ligeira portuguesa.
Em 1965, participa no
concurso da “Universal Pictures Co.”
Para a escolha de uma
canção portuguesa que seria cantada pela artista Melina Mercouri, num dos seus
primeiros filmes, não se qualificando.
Nesse ano, contudo,
consegue triunfar em Luanda, no Festival daquela cidade, alcançando uma medalha
de mérito musical.
Em 1966 obtém um honroso
2º lugar na “Grande Marcha de Lisboa com a composição intitulada “Lisboa a
Cantar”, acontecimento muito divulgado na imprensa nacional, com natural
repercussão na imprensa micaelense.
É neste período da sua
vida que será admitido como violinista nas orquestras Ligeira e Sinfónica
Nacional da então Rádio Emissora Nacional da Rádio Difusão, sem que antes, em
1963, não tivesse tentado a sua integração na Orquestra do Rádio Clube de
Moçambique, sem sucesso.
Com a carreira a
mostrar-se promissora, em Setembro de 1966, Victor Rodrigues ao violino e D.
Helena Moreira Viana ao piano, anunciam uma série de serões na Sociedade
Harmónica Furnense, espectáculos que reverteram a favor daquela sociedade,
alcançando assinalável êxito.
Nesta visita ao Vale das
Furnas D. Helena Viana fez mesmo questão de compor uma canção, homenageando a
Água da Helena, com letra também de sua autoria.
Victor Manuel Rodrigues a
partir do ano de 1967 vai colaborar de forma assídua para o sucesso do Festival
da Canção de Luanda, organizado pelo activo Adulcino Silva, vencendo a na
edição de 1971 com a canção “Folha Caída” interpretada por Sissi.
Em 1973 vence nas Grandes
Marchas de Lisboa, com a marcha “Lisboa cheia de Luz”.
Autor de diversa
composição musical, colaborou com diversas instituições musicais dos Açores,
Lisboa e Cascais, mantendo sempre regular colaboração com a Sociedade Harmónica
Furnense, com as Marchas Populares de Vila Franca do Campo e com a Orquestra da
Povoação de quem foi co-fundador. Faleceu subitamente em Lisboa em 1992.
Viriato Pacheco Costa
Músico, compositor de raro talento - Serenatas das Furnas Nasceu no Vale das
Furnas a 5 de Junho de 1922.
Desde pequeno que Viriato
Costa demonstrou grande aptidão para a música e pelo teatro.
Com apenas 12 anos foi
convidado para ingressar na Sociedade Harmónica Furnense, ao tempo dirigida
pelo maestro Benjamim Rodrigues, seu primeiro mestre.
Aos desaseis anos, compôs
a que se julga ser a sua primeira composição, “Estrelas” com letra do poeta e
homem de teatro, João Machado Viveiros.
A partir desta primeira
experiência, numa mais deixou de compor, essencialmente, “valsas-serenatas”,
melodias carregadas de sentimentos e romanismo.
Em 1943, casou com Maria
Inês Costa, filha de um famoso cantador-improvisador natural da Povoação, de
quem houve seis filhos: Viriato, Osvaldo, Aida, Mário, Paulo e Hélder.
Na cerimónia do seu
próprio casamento foi executada uma marcha nupcial que impressionou Benjamim
Rodrigues e o Prof. Ilídio de Andrade, este último, pessoa por quem Viriato
Costa confessou ter sentido sempre grande estima e gratidão pelos estímulos
recebidos.
Muito cedo se ausentou da
Família, indo, em 1947, para Santa Maria pela mão de João Luís da Câmara para
trabalhar como empregado de bar e como músico no Hotel Terra Nostra, do
Aeroporto daquela ilha.
Naquela ilha formou o
conjunto musical “Jazz Terra Nostra” que abrilhantava os serões para as altas
individualidades nacionais e estrangeiras que por ali viajavam em trânsito.
Neste período de grande
actividade, Viriato Costa, compôs várias composições, consideradas muito belas,
destacando-se “Saudades dos Meus”, “Desilusão Constante”, “Sonho Cor de Rosa”,
“Recordação de um Beijo”, “Fox-swing” e “Adeus a Santa Maria”.
Em 1951, mudou-se para a
Terceira, para a Base das Lajes onde explorou durante dois anos um bar, ilha
onde granjeou muitas amizades.
Em 1956, de volta a São
Miguel, e a convite do Dr. Frederico Moniz Pereira, Viriato Costa assumiu a
Direcção da Sociedade Harmónica Furnense, onde fez um trabalho profícuo,
seguindo tal como os seus antecessores as honrosas tradições e fama daquela
agremiação furnense, berço de grandes músicos e compositores.
Sob a sua tutela “fez
renascer a mística que entretanto havia desaparecido e catapultou a banda para
os lugares cimeiros, tendo vencido vários concursos promovidos pela Academia
Musical de Ponta Delgada.
Em 1966, fixou residência
em New Bedford, Estados Unidos da América.
Naquele país, editou
discos, formou grupos e teve sempre grande actividade como músico e compositor.
Mas, será nas Serenatas das
Furnas que Viriato Costa se distinguirá e se consagrará, sendo as suas
composições hoje património de todos nós.
João Jacinto Pacheco
Vieira
Antes de ontem avistei o
Amigo, Engenheiro João Jacinto Pacheco Vieira, numa das artérias da nossa
cidade de Ponta Delgada, no presente e no passado, sempre na sua constante
labuta diária, pulsando com emoção, com determinação o talento raro do exemplo
que é saber viver.
O Eng.º João Jacinto
Pacheco Vieira, é hoje o meu segundo homenageado. Não, por ser ocasião de
efeméride especial, mas sim e apenas, pelo seu exemplo de pessoa e de cidadão,
vivendo o prelúdio dos seus 87 anos de idade, certamente merecedor de todas as
justas homenagens.
Nasceu no Vale das Furnas
(em casa de meu bisavô António Tavares da Silva) a 21 de Agosto de 1924, filho
do célebre Engenheiro Manuel Pacheco Vieira, considerado um dos pioneiros da
Electrificação dos Açores (nos Concelhos de Angra do Heroísmo e Povoação) e de
D. Berta Silva Pacheco Vieira, seguiu a tradição paterna e formou-se Engenheiro
Electrotécnico pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, com
distinção, num tempo onde as práticas académicas eram notoriamente mais
exigentes.
Com 24 anos de idade, a 18
de Julho de 1945 é alistado no Exército, tendo sido incorporado a 6 de Abril de
1946, num período conturbado da história da humanidade, num ambiente
político-social, ainda muito influenciado pelo belicismo, no culminar da II
Guerra Mundial, terminando a sua breve carreira militar como Oficial Miliciano
a 22 de Agosto de 1950.
Cumpridas com as suas
obrigações para com a pátria, como obrigavam as boas práticas do antigo regime,
ingressou na Empresa Eléctrica da Povoação, com sede no Vale das Furnas,
propriedade de sua família, em Agosto de 1953, onde exerceu o cargo para o qual
se formou, até Outubro de 1955, findo o qual passou à condição de Director
Técnico daquela empresa.
Com a reestruturação do
sector eléctrico, empreendida nos últimos anos da década de cinquenta, nesta
ilha, foi a sua empresa integrada na Federação dos Municípios da Ilha de São
Miguel, para onde foi convidado a exercer, entre 1958 e 1962, as funções de
Chefe do Serviço de Exploração daquele recém criado organismo.
A vivência familiar,
naturalmente influenciada por um forte pendor técnico, na área da electricidade,
marcou de forma indelével e decisiva a sua carreira. De 1962 a 1970 para além
das funções que já desempenhava, acumulou a Chefia do Serviço de Estudos e
Construção, área onde se especializou.
Com o definhamento da
actividade empreendida pela Federação dos Municípios da Ilha São Miguel no
sector eléctrico, e de acordo com as novas directrizes emanadas pelo Ministério
das Obras Públicas do então Governo do Prof. Marcelo Caetano, foi a
reestruturação do sector energético, no então Distrito de Ponta Delgada, levada
a sério, originando o aparecimento de uma empresa de capitais mistos e cunho
distrital a que se denominou - Empresa Insular de Electricidade, onde
prosseguiu com brilhantismo a sua carreira.
Na EIE, o Eng.º João
Pacheco Vieira, entre 1970 e 1978, desempenhou o cargo de Chefe de Serviço de
Movimento e Distribuição de Energia, transitando depois entre 1978 e 1981, para
responsável do Gabinete de Planeamento e Normalização, entidade que preparou a
criação da nova empresa, que deu origem à Empresa de Electricidade dos Açores,
EP, hoje denominada por Electricidade dos Açores, S.A.
O Engenheiro Pacheco
Vieira, nunca descurou a sua vertente de bom cidadão, participando e
colaborando com diversos organismos públicos, merecendo destaque o cargo de
Vogal do Grupo de Trabalho das Infra-estruturas da Comissão de Planeamento da
Região Açores, período onde teve profícua colaboração, designadamente, na IV
Semana de Estudos dos Açores, com o trabalho “A Actual Situação do Problema
Eléctrico dos Açores” há muito por ele identificado, e no “Plano Geral dos
Centros Produtores Hidráulicos e Térmicos e de Electrificação do Distrito de
Ponta Delgada (1971/80) bem como no Projecto relativo ao “Plano de
Electrificação do Arquipélago dos Açores”, entre outros importantes trabalhos.
Já em plena vigência da
EDA, é convidado para responsável do Departamento Central de Planeamento,
empresa onde posteriormente exerceu diversos cargos até à sua aposentação que
ocorreu em 1992.
Em 1991, a Presidente do
Conselho de Administração, em exercício, da EDA, Dra. Berta Maria Correia de
Almeida de Melo Cabral, actual Presidente da Câmara de Ponta Delgada,
concedeu-lhe um merecido louvor de que se transcreve parte: “depois de uma
longa carreira profissional no sector eléctrico, o conselho de Administração
deliberou manifestar publicamente o seu agradecimento pela colaboração prestada
e enaltecer a competência e zelo profissionais por si sempre demonstrados”.
Fica o meu registo de
agradecimento, Amigo com A grande, quero cumprimentá-lo com um forte abraço,
alargando este merecido elogio público a sua consorte, D. Jacinta Pacheco
Vieira, de quem nutro especial carinho e admiração.
Paulo Martinho Tavares
Machado Viveiros, Nasceu nas Furnas 27.9.1949. Publicitário, jornalista,
produtor.
Foi seminarista entre 1957
e 1964 nos Seminários de Ponta Delgada e Angra do Heroísmo.
Participou na Guerra
Colonial na Província de Moçambique.
Funcionário da RTP-Açores
entre 10.8.1975 e 1.1.2003, Paulo Martinho durante estes anos manteve um
presença assídua no seio do jornalismo açoriano sendo, por isso considerado “um
histórico da televisão açoriana”.
Teve uma interessante
experiência como ator em séries televisivas dirigidas por José Medeiros.
Emprestou a sua magnífica
voz a diversos documentários de índole regional alguns dos quais dedicados à
sua amada terra natal, o Vale das Furnas de quem é sempre acérrimo defensor.
Atualmente, reformado
dedica-se à fruticultura, na produção de maracujá num prédio que possui na
Ribeira Grande (2013).
Um Olhar Povoacense agradece ao Dr. Luís Miguel Rodrigues Martins a cedência das fotos e biografias dos ilustres cidadãos furnenses.
Gostei de ver o mey avó e o meu tio aqui. :)
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