Foi
num ambiente de festa, alegria e solenidade que a família que compõe a
Sociedade Filarmónica Marcial Troféu realizou ontem a sua devoção à Padroeira
dos Músicos.
Saiu
da sede da centenária Banda povoacense pelas 17:50h a procissão de Santa
Cecília, com o seu bonito andor a ser carregado por jovens elementos músicos.
Após
a chegada à Igreja Matriz, celebrou-se a Santa Missa conduzida pelo jovem padre
João Ponte, que no decorrer da homilia apelou à participação enérgica dos
jovens músicos nos cânticos da igreja e os convidou a visitar com maior
frequência a casa do senhor, porque são eles que têm de dar o exemplo aos mais
velhos.
Terminada
a celebração da Missa, seguiu-se a procissão de volta à sede da Marcial troféu,
seguindo-se um animado convívio entre a família da centenária filarmónica
povoacense.
História
de Santa Cecília
Padroeira
da Música, Santa Cecília foi uma jovem de suave beleza que, com inquebrantável
força de ânimo e possuída da mais ardente fé, professou e difundiu o
Cristianismo.
Interpretada
pelos mais notáveis pintores, escultores e poetas, sempre lhe foram atribuídos
os mais variados símbolos musicais, embora com particular predilecção pelo
órgão. Isso deve-se em grande parte ao carácter religioso que, a partir do
século XV, se atribui a este instrumento.
Historicamente
as mais antigas referências não lhe conferem dotes particulares de
musicalidade. Sabe-se, contudo, que era uma jovem patrícia muito culta,
pertencendo a uma das mais ilustres famílias de Roma pelo que, tendo recebido
esmerada educação, a prática da música ser-lhe-ia habitual, tocando,
provavelmente, algum instrumento mais consentâneo com a sua feminilidade, como
a harpa, a lira ou o saltério, pois o órgão, com que tão frequentemente é
representada, era ainda um instrumento grosseiro e pouco difundido.
Segundo
uma " Paixão " publicada no século V para satisfazer a curiosidade
dos peregrinos que visitavam a primitiva Igreja " in Trastévere "
dedicada à sua memória em Roma, Cecília, desposada contra vontade por imposição
de seus pais, cumpriu o voto de castidade, já anteriormente formulado fazendo saber a Valeriano - o noivo
- que a sua alma, bem como o seu corpo, estavam consagrados a Deus.
Valeriano
sentiu-se tocado pela pureza daqueles propósitos e, não só prometeu respeitar
tais votos, como, procurando o venerando bispo Urbano, que exercia o ministério
sacerdotal escondido nas catacumbas, recebeu das suas mãos o baptismo.
Ao
regressar, encontrou Cecília em oração e um anjo a seu lado. Este, que tinha
duas coroas na mão, colocou uma sobre a cabeça da jovem e a outra sobre a de
Valeriano. Penetrado pela graça, o nobre príncipe romano, anima seu irmão
Tibúrcio a receber igualmente o baptismo.
Entretanto
recrudescia a perseguição aos cristãos e os dois irmãos davam-se à piedosa
missão de recolher os corpos daqueles confessores da fé a quem as autoridades
imperiais recusavam um lugar nos cemitérios. Pouco depois foram também eles
presos e decapitados. Por sua vez, Cecília foi igualmente presa por ter ousado
dar-lhes sepultura na sua "vila" da Via Ápia onde, com grande fervor,
exercia a caridade acudindo aos pobres e protegendo os perseguidos.
Colocada
perante a alternativa de sacrificar aos deuses de Roma ou a morrer, não hesitou
e dispôs-se ao sacrifício. Quando, durante os interrogatórios, o prefeito
Almáquio lhe lembrava ter sobre ela direito de vida e de morte, respondeu :
"É falso, porque podes dar-me a morte, mas não me podes dar a vida."
Almáquio
condenou-a a morrer asfixiada por vapor
mas, como Cecília sobreviveu a esse suplício, ordenou que lhe cortassem
a cabeça. O carrasco, por imperícia ou por ter vacilado ante a serenidade
angélica da condenada, depois de três golpes sucessivos não chegou a decepar a
formosa cabeça deixando a mártir em dolorosa agonia.
Só
passados três dias exalou o último suspiro e todos quantos haviam presenciado o
modo sublime como aceitara tamanha provação, convertidos por tal exemplo à
mesma fé, suplicavam a sua intercessão para que, na hora suprema, tivessem o
mesmo valor e heroísmo por ela demonstrados, mesmo nas maiores angústias.
Nas
"Actas" do martírio de Santa Cecília, que se crê tenha ocorrido no
ano de 230, lê-se :
Enquanto
ressoavam os órgãos, a Virgem Santa Cecília, no íntimo da sua mente, só a Deus
se dirigia e cantava : "Permiti, Senhor, que o meu coração e o meu corpo
permaneçam imaculados ", tradução da frase original assim iniciada -
" Cantantibus organis Caecilia Domino decantabat dicens..." Tomando falsamente a palavra
"organis" (designação sumária de instrumento) por órgão, os pintores
já no século XV a fantasiavam tangendo-o como acompanhador dos seus piedosos
cânticos.
Feita
deste modo a primeira iconografia, nada mais natural do que os músicos logo a
tenham escolhido para sua protectora.
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