Queridos
irmãos e irmãs!
Agradeço
ao Senhor por poder celebrar esta Santa Missa de início do ministério petrino
na solenidade de São José, esposo da Virgem Maria e patrono da Igreja
universal: é uma coincidência densa de significado e é também o onomástico do
meu venerado Predecessor: acompanhamo-lo com a oração, cheia de estima e
gratidão.
Saúdo,
com afecto, os Irmãos Cardeais e Bispos, os sacerdotes, os diáconos, os
religiosos e as religiosas e todos os fiéis leigos. Agradeço, pela sua
presença, aos Representantes das outras Igrejas e Comunidades eclesiais, bem
como aos representantes da comunidade judaica e de outras comunidades
religiosas. Dirijo a minha cordial saudação aos Chefes de Estado e de Governo,
às Delegações oficiais de tantos países do mundo e ao Corpo Diplomático.
Ouvimos
ler, no Evangelho, que «José fez como lhe ordenou o anjo do Senhor e recebeu
sua esposa» (Mt 1, 24). Nestas palavras, encerra-se já a missão que Deus confia
a José: ser custos, guardião. Guardião de quem? De Maria e de Jesus, mas é uma
guarda que depois se alarga à Igreja, como sublinhou o Beato João Paulo II:
«São José, assim como cuidou com amor de Maria e se dedicou com empenho
jubiloso à educação de Jesus Cristo, assim também guarda e protege o seu Corpo
místico, a Igreja, da qual a Virgem Santíssima é figura e modelo» (Exort. ap.
Redemptoris Custos, 1).


Entretanto
a vocação de guardião não diz respeito apenas a nós, cristãos, mas tem uma
dimensão antecedente, que é simplesmente humana e diz respeito a todos: é a de
guardar a criação inteira, a beleza da criação, como se diz no livro de Génesis
e nos mostrou São Francisco de Assis: é ter respeito por toda a criatura de
Deus e pelo ambiente onde vivemos. É guardar as pessoas, cuidar carinhosamente
de todas elas e cada uma, especialmente das crianças, dos idosos, daqueles que
são mais frágeis e que muitas vezes estão na periferia do nosso coração. É
cuidar uns dos outros na família: os esposos guardam-se reciprocamente, depois,
como pais, cuidam dos filhos, e, com o passar do tempo, os próprios filhos
tornam-se guardiões dos pais. É viver com sinceridade as amizades, que são um
mútuo guardar-se na intimidade, no respeito e no bem. Fundamentalmente tudo
está confiado à guarda do homem, e é uma responsabilidade que nos diz respeito
a todos. Sede guardiões dos dons de Deus!
E
quando o homem falha nesta responsabilidade, quando não cuidamos da criação e
dos irmãos, então encontra lugar a destruição e o coração fica ressequido.
Infelizmente, em cada época da história, existem «Herodes» que tramam desígnios
de morte, destroem e deturpam o rosto do homem e da mulher.
Queria
pedir, por favor, a quantos ocupam cargos de responsabilidade em âmbito
económico, político ou social, a todos os homens e mulheres de boa vontade:
sejamos «guardiões» da criação, do desígnio de Deus inscrito na natureza,
guardiões do outro, do ambiente; não deixemos que sinais de destruição e morte
acompanhem o caminho deste nosso mundo! Mas, para «guardar», devemos também
cuidar de nós mesmos. Lembremo-nos de que o ódio, a inveja, o orgulho sujam a
vida; então guardar quer dizer vigiar sobre os nossos sentimentos, o nosso
coração, porque é dele que saem as boas intenções e as más: aquelas que
edificam e as que destroem. Não devemos ter medo de bondade, ou mesmo de
ternura.
A
propósito, deixai-me acrescentar mais uma observação: cuidar, guardar requer
bondade, requer ser praticado com ternura. Nos Evangelhos, São José aparece
como um homem forte, corajoso, trabalhador, mas, no seu íntimo, sobressai uma
grande ternura, que não é a virtude dos fracos, antes pelo contrário denota
fortaleza de ânimo e capacidade de solicitude, de compaixão, de verdadeira
abertura ao outro, de amor. Não devemos ter medo da bondade, da ternura!
Hoje,
juntamente com a festa de São José, celebramos o início do ministério do novo
Bispo de Roma, Sucessor de Pedro, que inclui também um poder. É certo que Jesus
Cristo deu um poder a Pedro, mas de que poder se trata? À tríplice pergunta de
Jesus a Pedro sobre o amor, segue-se o tríplice convite: apascenta os meus
cordeiros, apascenta as minhas ovelhas. Não esqueçamos jamais que o verdadeiro
poder é o serviço, e que o próprio Papa, para exercer o poder, deve entrar
sempre mais naquele serviço que tem o seu vértice luminoso na Cruz; deve olhar
para o serviço humilde, concreto, rico de fé, de São José e, como ele, abrir os
braços para guardar todo o Povo de Deus e acolher, com afecto e ternura, a
humanidade inteira, especialmente os mais pobres, os mais fracos, os mais
pequeninos, aqueles que Mateus descreve no Juízo final sobre a caridade: quem
tem fome, sede, é estrangeiro, está nu, doente, na prisão (cf. Mt 25, 31-46).
Apenas aqueles que servem com amor capaz de proteger.
Na
segunda Leitura, São Paulo fala de Abraão, que acreditou «com uma esperança,
para além do que se podia esperar» (Rm 4, 18). Com uma esperança, para além do
que se podia esperar! Também hoje, perante tantos pedaços de céu cinzento, há
necessidade de ver a luz da esperança e de darmos nós mesmos esperança. Guardar
a criação, cada homem e cada mulher, com um olhar de ternura e amor, é abrir o
horizonte da esperança, é abrir um rasgo de luz no meio de tantas nuvens, é
levar o calor da esperança! E, para o crente, para nós cristãos, como Abraão,
como São José, a esperança que levamos tem o horizonte de Deus que nos foi
aberto em Cristo, está fundada sobre a rocha que é Deus.
Guardar
Jesus com Maria, guardar a criação inteira, guardar toda a pessoa,
especialmente a mais pobre, guardarmo-nos a nós mesmos: eis um serviço que o
Bispo de Roma está chamado a cumprir, mas para o qual todos nós estamos
chamados, fazendo resplandecer a estrela da esperança: Guardemos com amor
aquilo que Deus nos deu!
Peço
a intercessão da Virgem Maria, de São José, de São Pedro e São Paulo, de São
Francisco, para que o Espírito Santo acompanhe o meu ministério, e, a todos
vós, digo: rezai por mim! Amen.
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