Das
entrevistas, que constituíram uma das bases deste estudo, podemos concluir que
a obra dos túneis da Ribeira Quente não oferecia nenhuma segurança.
A
insegurança da obra e o descontentamento de lá trabalharem, foram muitas vezes frisados
pelos entrevistados.
Invoquemos
aqui um caso exemplar. Conta-nos o Sr. José Pimentel, que aos seus dezanove ou
vinte anos iniciou-se na obra, mas que o pai desde o início não esteve de
acordo, devido ao perigo que a obra constituía, persuadindo-o a desistir do
serviço. Tentativa infrutífera, pois José Pimentel permaneceu no trabalho, pela
falta que fazia ao magro orçamento familiar o pouco dinheiro que ganhava.
Os
próprios trabalhadores, em cada dia que iniciavam o serviço, duvidavam sair de
lá com vida.
Esses
homens trabalhavam lado a lado com o perigo.
Embora
o seu número seja escasso, há notícias de alguns acidentes ocorridos na obra.
Mas na memória do povo, ficaram registados três acidentes com alguma gravidade.
Dois devido à insegurança da margem da Grota Suja, que fez com que duas
crianças ao lançarem as pedras na grota, fossem projetadas também, resultando
daí ferimentos e alguns membros partidos.
O
outro acidente, de caris mais grave, provocou uma morte, constituindo notícia
na imprensa da época. (7)
No
dizer dos trabalhadores, quando se processava o lançamento da pedra da
pedreira, por cima do túnel, um dos pedregulhos desabou, colhendo Manuel Simão,
que trabalhava do lado esquerdo do túnel. Apesar do pregão do vigia, este fora
insuficiente para impedir a morte repentina do trabalhador.
Em
relação à insegurança da obra, conta-nos o Sr. José Pimentel, que num dia de
Entrudo, quando não estavam a trabalhar, caíram quebradas da pedreira, que
arrebentaram a armação do túnel, obrigando a que no dia seguinte, se tivesse de
construir tudo de novo.
A
abertura do túnel é assim caracterizada pelos trabalhadores, como uma autêntica
“ratoeira”.
Relacionado
com a segurança da obra há que fazer referência às condições de trabalho.
Os
trabalhadores, na condição de não contratados, não usufruíram quaisquer
regalias. Além do horário de trabalho diário ser extremamente longo, com poucas
horas de descanso, estes homens não tinham garantidos os seus direitos de
seguro de vida, nem da segurança social.
Nestas
condições, não lhes era garantida nenhuma segurança no trabalho. Tal como eram
convidados a trabalhar na obra, assim poderiam ser convidados a sair.
Do
relato dos trabalhadores, bastantes vezes as crianças foram mandadas trabalhar
ao ritmo do “vime” para apressar o serviço. Unânime é também a opinião de que
este fora “um trabalho de escravidão”.
Em
contrapartida, os funcionários da Junta Geral, nomeadamente o apontador e o
capataz, na condição de funcionários públicos usufruíam de mais regalias e de melhores
condições de trabalho.
Poderemos
assim concluir que as condições de trabalho, tal como a segurança da obra, eram
bastante precárias, sobre tudo para os trabalhadores.
(7)
Diário dos Açores, Sexta-feira, 10 de Junho de 1936.
Fonte: Livro de Maria de Deus Raposo Medeiros Costa “Os Túneis da Liberdade”
Fonte: Livro de Maria de Deus Raposo Medeiros Costa “Os Túneis da Liberdade”
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