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quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

RIBEIRA QUENTE - OS TÚNEIS DA LIBERDADE: A SEGURANÇA DA OBRA (continuação)

Das entrevistas, que constituíram uma das bases deste estudo, podemos concluir que a obra dos túneis da Ribeira Quente não oferecia nenhuma segurança.

A insegurança da obra e o descontentamento de lá trabalharem, foram muitas vezes frisados pelos entrevistados.

Invoquemos aqui um caso exemplar. Conta-nos o Sr. José Pimentel, que aos seus dezanove ou vinte anos iniciou-se na obra, mas que o pai desde o início não esteve de acordo, devido ao perigo que a obra constituía, persuadindo-o a desistir do serviço. Tentativa infrutífera, pois José Pimentel permaneceu no trabalho, pela falta que fazia ao magro orçamento familiar o pouco dinheiro que ganhava.

Os próprios trabalhadores, em cada dia que iniciavam o serviço, duvidavam sair de lá com vida.

Esses homens trabalhavam lado a lado com o perigo.

Embora o seu número seja escasso, há notícias de alguns acidentes ocorridos na obra. Mas na memória do povo, ficaram registados três acidentes com alguma gravidade. Dois devido à insegurança da margem da Grota Suja, que fez com que duas crianças ao lançarem as pedras na grota, fossem projetadas também, resultando daí ferimentos e alguns membros partidos.

O outro acidente, de caris mais grave, provocou uma morte, constituindo notícia na imprensa da época. (7)

No dizer dos trabalhadores, quando se processava o lançamento da pedra da pedreira, por cima do túnel, um dos pedregulhos desabou, colhendo Manuel Simão, que trabalhava do lado esquerdo do túnel. Apesar do pregão do vigia, este fora insuficiente para impedir a morte repentina do trabalhador.

Em relação à insegurança da obra, conta-nos o Sr. José Pimentel, que num dia de Entrudo, quando não estavam a trabalhar, caíram quebradas da pedreira, que arrebentaram a armação do túnel, obrigando a que no dia seguinte, se tivesse de construir tudo de novo.

A abertura do túnel é assim caracterizada pelos trabalhadores, como uma autêntica “ratoeira”.

Relacionado com a segurança da obra há que fazer referência às condições de trabalho.

Os trabalhadores, na condição de não contratados, não usufruíram quaisquer regalias. Além do horário de trabalho diário ser extremamente longo, com poucas horas de descanso, estes homens não tinham garantidos os seus direitos de seguro de vida, nem da segurança social.

Nestas condições, não lhes era garantida nenhuma segurança no trabalho. Tal como eram convidados a trabalhar na obra, assim poderiam ser convidados a sair.

Do relato dos trabalhadores, bastantes vezes as crianças foram mandadas trabalhar ao ritmo do “vime” para apressar o serviço. Unânime é também a opinião de que este fora “um trabalho de escravidão”.

Em contrapartida, os funcionários da Junta Geral, nomeadamente o apontador e o capataz, na condição de funcionários públicos usufruíam de mais regalias e de melhores condições de trabalho.

Poderemos assim concluir que as condições de trabalho, tal como a segurança da obra, eram bastante precárias, sobre tudo para os trabalhadores.

(7) Diário dos Açores, Sexta-feira, 10 de Junho de 1936.

 Fonte: Livro de Maria de Deus Raposo Medeiros Costa “Os Túneis da Liberdade” 

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