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quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

TERMAS DAS FURNAS - “FIZERAM ASNEIRA SOBRE ASNEIRA E LIMPARAM O TERMALISMO”

Correio dos Açores - Temos uma foto que mostra as banheiras das termas das Furnas abandonadas nos estaleiros da empresa ‘Sanibetão’. Que comentários lhe merece este abandono?

Adelino Dinis (médio, especialista em termalismo) - Não me ponha mais triste do que aquilo que já estou. Está a dar-me uma notícia daquelas de arrepiar. Isto para mim é uma coisa inconcebível que me dá uma tristeza imensa.

Eu quero retirar da cabeça esta ideia das termas que tem sido um desastre total. É toda uma situação lamentável e eu quero é afastar-me dela e não pensar mais nisso.

Foi feito tudo contra a minha opinião, contra os meus pareceres, contra tudo e mais alguma coisa. Aquilo tem aspecto até de uma legalidade muito duvidosa. Veja, por exemplo, que aquele projecto foi lançado na perspectiva de que era uma adenda. A adenda inicial até não era má, atribuía às termas um determinado tipo de responsabilidades dentro daquilo que era possível mas nada disso foi cumprido. 

O que iria ser uma reestruturação das termas acabou por ser transformado num hotel. Limparam o termalismo de vez com meias coisas tolas como argumento.

Está a dizer-me que destruíram a nascente de termas que havia lá?...

As nascentes estão lá. Deram cabo foi de várias coisas. Por exemplo, acabaram com uma característica muito importante das termas que era ter depósito de arrefecimento. Mas, também, como eles não pensaram fazer grandes tratamentos termais, acabaram com aquilo tudo e reduziram o termalismo a uma coisa mínima, ínfima: uma piscina e duas banheiras. Julgaram que cumpriam, com isso, o caderno de encargos, o que, na minha perspectiva, é errado.

O que é que fizeram?

Arrancaram aquelas banheiras todas que, antes de serem lá colocadas, deram muito trabalho a escolher porque os materiais de que são feitas, são a única coisa que resiste àquele tipo de água. Destruíram isso tudo, puseram lá umas camas e fizeram um hotel que nunca mais abre porque não tem viabilidade nenhuma.

Ainda por cima os quartos estão todos instalados a um piso que, como sabe, não é nada habitável. São asneiras atrás umas das outras.

Estas banheiras das termas das Furnas, agora abandonadas, são património.

Foram bem caras. Na altura, foram escolhidas porque a água destruía tudo. Era plástico, PVC, fibras de vidro, nada resistia. O que conseguia manter-se era aquele modelo em mármore. Foram feitas, custaram um dinheirão, foram aplicadas mas mal foram usadas. Já na altura, o processo foi mal conduzido. Isto aconteceu no último governo do PSD. Depois veio o primeiro governo do PS, houve ali um entusiasmo inicial mas, enquanto não escangalharam tudo outra vez, pondo isso nas mãos dos privados, não descansaram. Quiseram entregar o ‘menino’ e foi mal entregue. É assim, o que lhe hei-de dizer mais?...

O que se pode fazer com aquelas banheiras e todo o equipamento?

Eu não sei de quem é isso e a quem isso pertence. Aquele património foi, infelizmente, todo delapidado. Não sei se fizeram qualquer inventário daquilo. Aquilo foi tudo para o empreiteiro e ele destruiu. Não faço a mínima ideia. Nem quero.

Como médico e especialista na área do termalismo, o que se pode fazer com aquelas banheiras?

Nada, eles não têm onde as colocar. Acabaram com o destino delas que era servirem o termalismo em termos de banhos de emersão com águas sulfúricas. Não é isso que está no projecto futuro, portanto, acabou-se. A não ser que, no futuro, as termas voltem a ser reanimadas com outra perspectiva. Mas, no contexto actual, nem pensar. Não vejo vontade nem, sequer, há dinheiro para isso.

É património que está em degradação…

Pois está. Mas, nós somos ricos e podemos estar a estragar tudo e mais alguma coisa. Este país está como está graças a atitudes destas de políticos perfeitamente irresponsáveis. Fazem as coisas a seu belo prazer e não medem as consequências nem os custos. Não lhes sai do bolso, não é?

Foi uma asneira danada retirar as termas na secretaria da Saúde. Eu, na altura, também tive um pouco de culpa nisso. O objectivo é que fosse para a Economia porque havia mais dinheiro e havia possibilidade de as dinamizar. Havia a vertente económica que era preciso reabilitar. De facto, não é só tratamentos, também tem alguma coisa em termos de impacto turístico, impacto económico. Alinhei, na altura, um bocado nisso, mas, depois, não foi nada concretizado daquilo que foi previsto.

O secretário do Turismo disse no Parlamento que quer certificar as termas dos Açores…

Quer o quê?

…Certificar as termas dos Açores…

Todos dizem muita coisa mas, na prática, não se faz nada. Eu estou desanimado com tudo isso.

Os governantes arranjam meia dúzia de argumentos para fazerem um discurso e, na prática, é só contradições de toda a ordem.

Na saúde, por exemplo, diz-se que é preciso poupar e centralizar serviços e os resultados não são grande coisa. Pelo contrário, os profissionais andam todos desmotivados e desanimados.

Voltando às termas das Furnas…

Sabe, nem me fale mais nisso. Eu vou todos os dias para a Povoação e até olho para o outro lado para não olhar para aquele edifício. Foi um delapidar de dinheiro. Foi um delapidar de recursos. Foi um delapidar de património sem rei nem roque, sem controlo, sem nada.

Foi uma das coisas que deixaram ao ‘Deus dará’ e está na situação em que está.

Aquilo nunca mais vai ser recuperado. É difícil. Pode ser que um dia estas banheiras voltem outra vez ao seu lugar primitivo que era aí que deviam estar. Mas, não sei se isso acontecerá. Tudo tem a sua oportunidade nesta vida e há coisas que se perdem e, depois, para recuperar, nunca mais.

Eu tive oportunidade de chamar a atenção para o que acabou de acontecer. Mas não ia fazer uma revolução por causa disso. Ninguém ligou ao que eu escrevi. E está à vista o que se vê. E eu também tenho de pensar em outras coisas para não ficar frustrado.

Fonte: Correio dos Açores, escrito por João Paz


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