Artigo de Opinião
do Dr. Pedro Silva Carvalho
Médico psiquiatra,
psicoterapeuta, fundador do Instituto da Memória e Saúde Mental.
ABUSAMOS
DE ANTIDEPRESSIVOS?
A
identificação e o tratamento da patologia depressiva é muito importante, devido
às implicações na qualidade de vida do próprio e dos que o rodeiam. A depressão
é um grande problema de saúde pública, pela sua frequência, repercussão física,
psicológica, laboral e social. Quantas vezes com curso crónico, com elevadas
taxas de recaída, com morbilidade e mortalidade relevante.
Ainda
não vai uma década e nas formações sobre o assunto se referia que o diagnóstico
da depressão nos cuidados de saúde primários era muito inferior à realidade do número
de casos existente (seriam 1/5), comparávamos os diagnósticos efetivados a uma
ponta do iceberg, a grande maioria confundida com outras patologias,
arrastando-se por vezes anos e anos, com franco transtorno para o doente.
Por
isso a identificação e o tratamento da depressão passou a ser uma questão
premente, pelo tomar de consciência de que se corretamente tratada representava
um menor custo para a sociedade e para o próprio.
Em
caso de opção pela intervenção farmacológica podem ser prescritos medicamentos
como as benzodiazepinas, os quais não devem ser utilizadas nos casos de
depressão por um período superior a 2-4 semanas,… ou anti-histamínicos com ação
sedativa. A meu ver é de mais evidente que as benzodiazepinas são o principal
problema na questão do abuso, têm muito maior grau de capacidade de criar
dependência e tolerância que os antidepressivos, e tudo indica que a acção
sobre a memória também é mais pesada.
Para
os casos de ansiedade ligeira existem outras alternativas, bem mais seguras,
como por exemplo a valeriana….
O
recurso a medicamentos mais inócuos, como o caso da valeriana, é tantas vezes a
solução a ter, nomeadamente nos quadros de ansiedade ligeira a moderada, e por
vezes em situação de insónia. Doses de 500mg até três vezes por dia de
valeriana, podem evitar uma ida para benzodiazepinas, que muitas vezes se
eternizam na sua toma, pela dependência e tolerância que criam….
Por
tudo o que se sabe, generalizar sobre este tema não é consensual, haverá de
certeza muitos pacientes que abusam de antidepressivos, provavelmente muitos
mais abusaram de benzodiazepinas (vários casos vi de tomas, em automedicação
crónica, dignas de entrar para um livro guinness de recordes… E quanto difícil
é a retirada!!). Por outro lado quantos quadros depressivos se arrastam sem ser
tratados?
Para
finalizar penso que a ideia a deixar é que a medicação tem justificação em
muitos casos, nalguns para toda a vida, mas o prolongar é desnecessário para a
maioria. No caso dos antidepressivos o conhecimento atual aponta para toma de
um ano, devendo na grande parte dos casos ser retirado gradualmente ao fim
deste tempo.
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