A
Universidade dos Açores está a desenvolver um estudo nas Furnas, ilha de São
Miguel, que visa a monitorização clínica das pessoas que estão expostas aos
gases que são emitidos pelo solo vulcânico, que “podem ser mortais”.
“Os
vulcões são fontes de uma série de compostos que vão sendo libertados para a
atmosfera. O que nos preocupa e temos medido ao longo destes anos são os
efeitos que estes produtos vão gerando nas populações”, disse hoje à agência
Lusa Armindo Rodrigues, do Centro de Vulcanologia e Avaliação de Riscos
Geológicos da academia açoriana.
Segundo
o biólogo, o estudo, que já envolveu cerca de 300 pessoas, concluiu que 50% das
habitações nas Furnas foram construídas sobre zonas de desgasificação difusa do
solo, aumentando este valor para 95% no caso da Ribeira Quente, freguesia
localizada na vertente sul do vulcão.
O
especialista explicou que a desgasificação difusa do solo é um processo através
do qual se libertam gases gerados pela atividade vulcânica que, associados à
temperatura, ultrapassam os vários níveis do solo e são libertados na atmosfera
através de microfraturas para o interior das habitações e locais de trabalho,
onde as pessoas estão mais expostas, ou outras construções.
O
investigador salientou que os gases emitidos em zonas vulcânicas “podem ser
mortais”, isto quando as pessoas estão expostas a elevadas concentrações.
Armindo
Rodrigues declarou que se está a falar de “atmosferas bastantes distintas do
que se considera normal” no caso das Furnas, acrescentando que, na prática, o
projeto desenvolve-se através da monitorização da geoquímica dos gases e,
posteriormente, na perspetiva biológica e epidemiológica, a equipa segue as
populações através de questionários.
O
cientista adiantou que, além dos questionários, realizados a voluntários, já se
procedeu à recolha de cabelos para análise, bem como das células que revestem a
cavidade bocal, estando-se igualmente atento ao sistema respiratório, uma vez
que se trata predominantemente de inalação de compostos, a par das alterações
provocadas ao nível do ADN.
“A
nossa equipa é, talvez, daquelas que, mesmo a nível mundial, mais trabalhos tem
com estudos sobre os efeitos deste tipo de vulcanismo (não temos vulcanismo
explosivo) sobre a saúde das populações”, afirmou Armindo Rodrigues.
Considerando
que o que interessa é, principalmente, perceber como é que as populações estão
a responder aos gases no vulcão das Furnas, o biólogo destacou que o Centro de
Vulcanologia e Avaliação de Riscos Geológicos tem, desta forma, desenvolvido
informação que pode ser “muito útil” em termos de ordenamento do território,
uma vez que as autarquias poderão ter de tomar decisões sobre as zonas e tipo
de construções a adotar em função da atividade vulcânica e do risco para a
saúde das populações.
Texto: Lusa / U.O.P.
Sem comentários:
Enviar um comentário