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sexta-feira, 22 de março de 2024

POLUIÇÃO LUMINOSA: LABORATÓRIOS E EXPERIÊNCIAS AJUDAM A ESTUDAR IMPACTO NAS AVES MARINHAS ADULTAS

Foto de: Tânia Pira

Terminou o projeto internacional INTERREG EELABS (Uso sustentável da Luz Artificial), cujo principal foco era a poluição luminosa e os seus efeitos nas aves marinhas na Macaronésia. Nos Açores, entre os vários objetivos alcançados destacam-se, na ilha do Corvo, a implementação de Laboratórios de Poluição Luminosa autónomos e a realização de duas experiências junto das colónias de cagarros, para perceber melhor os efeitos que a luz artificial tem sobre estas aves. 


No que diz respeito ao Laboratório de Poluição Luminosa, instalado na ilha do Corvo em 2021, este consiste num conjunto de fotómetros autónomos que permitem medir a escuridão do céu noturno e aferir se esta se aproxima da escuridão natural (aquela que haveria no caso de não existir qualquer iluminação artificial à noite) e serviu de base para a realização de experiências sobre o efeito da poluição luminosa em adultos de cagarro Calonectris borealis.


O efeito da poluição luminosa nos adultos das aves marinhas é ainda um mistério, que quisemos ajudar a desvendar com este estudo. Ao mesmo tempo, queríamos aferir quais serão as luzes mais adequadas para mitigar potenciais impactos” aponta Elizabeth Atchoi, investigadora da OKEANOS-UAç e responsável junto dos técnicos da SPEA pela realização das duas experiências de poluição luminosa desenvolvidas entre 2022 e 2023 na ilha do Corvo.



A primeira experiência  foi realizada no verão de 2022, durante o início de crescimento das crias de cagarro, quando existe maior movimentação dos adultos nas colónias. O objetivo desta experiência era determinar se a velocidade ou a tortuosidade (se os voos são direitos ou serpenteados) dos voos dos adultos, enquanto se moviam do mar para a colónia, se alteravam face à ausência da única fonte de poluição luminosa na ilha, a Vila do Corvo.


Após avaliação dos dados os investigadores não detetaram diferenças na velocidade ou tortuosidade dos voos entre noites com e sem iluminação pública. Embora o número de aves e trajetos que estas fizeram tenha sido baixo, os resultados sugerem que a exposição crónica à iluminação artificial pode levar à habituação dos cagarros adultos.


A segunda experiência decorreu em 2023, e teve como objetivo testar o efeito de diferentes tipos de luz (luz branca e luz vermelha) no comportamento dos cagarros adultos, quando estes visitavam a colónia. De modo a comparar duas populações com níveis distintos de habituação à poluição luminosa, foram monitorizadas as aves de uma colónia virada para a Vila do Corvo, ou seja, iluminada durante toda a noite, e uma colónia num vale na costa oeste da ilha, que só esporadicamente é exposta a luz artificial por algum barco ou pessoa em caminhada.



Em cada colónia, os investigadores compararam a influência da luz branca, da luz vermelha e da ausência de luz no número de cagarros adultos junto aos ninhos, durante a noite. Os resultados indicam uma menor presença de adultos à entrada do ninho na presença de luz branca, tendo os adultos sido detetados em maior número durante tratamentos com luz vermelha e nos períodos sem luz. Assim, a experiência parece indicar que a luz vermelha tem menor impacto nas aves marinhas – dados que podem informar futuras medidas de mitigação da poluição luminosa.  


Para além das experiências realizadas, este projeto promoveu ações de mitigação concretas, como a redução da iluminação pública ou o apagão de zonas críticas nos municípios de Santa Cruz da Graciosa, Povoação, Nordeste, Vila Franca do Campo e em particular no Município do Corvo, que desde 2019 realiza apagões gerais para diminuir o impacto desta ameaça sobre os juvenis de Cagarro.


Foto de: Tânia Pipa

Os resultados preliminares do seguimento dos apagões na ilha do Corvo, indicam que 85% dos acidentes com juvenis desorientados acontecem com a iluminação pública ligada. Em 2023, foram ainda marcados 3 juvenis de Cagarro com marcas GPS-GSM de modo a seguir os seus movimentos após abandonarem o ninho e foi observado que  estas aves jovens permanecem entre 5 e 6 dias em redor da ilha até se afastarem completamente, sugerindo um período de aprendizagem em que são suscetíveis de voltar a ser afetados pela poluição luminosa.


Finalmente, o projeto INTERREG EELabs delineou uma estratégia de sensibilização sobre poluição luminosa, contribuindo com ferramentas online e realizando quase 140 atividades para mais de 3500 participantes, e promovendo ações de ciência-cidadã associadas à campanha SOS Cagarro (promovida pela DRPM do Governo dos Açores) em São Miguel e Corvo. Desde 2020, foram organizadas 87 brigadas que envolveram 861 voluntários e resgataram mais de 4433 cagarros. No Corvo foram ainda promovidas brigadas em agosto para o resgate do estapagado Puffinus puffinus, ave marinha menos conhecida, mas abundante nas ilhas ocidentais. 


Chegado ao fim, podemos afirmar que o projeto EELABs foi mais um passo para conhecer, avaliar, minimizar o impacto da poluição luminosa sobre as aves marinhas e implementar a Estratégia para a Mitigação da Poluição Luminosa na Macaronésia” afirma Tânia Pipa, técnica de conservação marinha da SPEA. 

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