O Natal deverá ser
vivido o ano todo no que diz respeito aos valores de vida a si associados.
Porque tudo o resto é hipocrisia, materialismo, gula
"Ontem
quem ajudei e me atraiçoou exigiu-me mais. Disse-me que é Natal." Durkheim
Não
é nada fácil escrever e falar sobre a hipocrisia de alguns dos valores
praticados nesta altura do ano. Dos valores do Natal e das ditas Boas Festas.
Não é fácil, porque ao fazê-lo com coerência e com sinceridade não se pode
deixar de olhar à nossa volta e sacudir o exagero e a falsidade de muito do que
nos circunda a esse propósito. Desde logo, porque é triste e falso o muito do
que assistimos com o frenesim da época. Época que, nas últimas décadas, nos
tentam enfiar pela cabeça e guelra abaixo, como sendo a época da alegria, da
festa, da amizade, da família e do perdão. Nada de mais exagerado. Porquanto,
nós, europeus e católicos, somos cada vez menos atreitos à prática dos valores
cristãos e cada vez mais somos violadores dos seus princípios e cada vez mais
somos materialistas e desestruturados nos valores de vida, cultores do espírito
do Natal. Aliás, é politicamente incorrecta, mas impõe-se a seguinte questão -
Natal sem religião é Natal? Ou é simplesmente um tempo para dias de férias,
consumismo, barriga farta, troca de prendas e vida mais fácil? Sei que nos
tempos que correm tudo isto é desprovido de actualidade, quiçá grosso modo
polémico e pouco significativo (só para ser minimamente educado...). Mas não
escondo que é para muitos de nós redutor viver o Natal com o frenesim da gula
gastronómica e materialista, com a falsidade da procura do perdão e amizade
inexistentes e sobretudo com a festa sem sentido. Muitos de nós, crentes,
católicos e natalícios desde a nascença, somos encadeados pela hipocrisia do
Natal sem religião. Encadeados e, não há que esconder, iludidos pelo lado
materialista, consumista e relativista do Natal, passando de quadra e de ano
como se tudo fosse normal. Mas não é. Andamos anos a fio, a alimentar muito do
que não é Natal. Perdões falsos. Valores familiares falsos. Etc. Etc.
Talvez
os nossos antepassados tivessem razão. Só pode viver normalmente (e já nem
sequer se exige bem) o Natal quem já o viveu o ano todo. O Natal deverá ser
vivido o ano todo no que diz respeito aos valores de vida a si associados.
Porque tudo o resto é hipocrisia, materialismo, gula e é por isso que se impõe
contra a corrente, que se diga alto e em bom som - o Natal sem religião em
coerência não é Natal. O contrário é tempo e festa da matéria e folia humana.
Que tem tido espaço, tempo e força para se impor.
Mas,
tal não é natural. Mas sim, e só, mais uns dias de gula, descanso, festa e
convívio. Pagãos. Mas, no mínimo, que agradeçam e não menosprezem, durante o
resto do ano, os valores de vida associados directa e indirectamente ao Natal.
Por
Feliciano Barreiras Duarte
Publicado
em 29 Dez 2014
Fonte:
Jornali
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