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domingo, 11 de abril de 2021

O MEU PEIXE SALGADO SECO DO SOL EM CASA DOS MEUS PAIS EM RIBEIRA QUENTE

Na época em que me criei não havia máquinas de refrigeração, ou seja, frigoríficos ou arcas congeladoras e por isso, durante muitos anos os alimentos tais como as carnes das matanças dos porcos e peixes eram salgados em balsas próprias para sua conservação. Era assim, o meio tradicional de conservar certos alimentos para o ano inteiro. Era uma tradição já muito antiga que vinha proveniente dos meus antepassados que passaram de geração em geração como se costuma   dizer na gíria popular até aos nossos dias. Há  quem, ainda,  se interessa por esse processo, para relembrar algo do nosso passado para não cair em desuso, apenas para matar saudades, quanto bom é degustar dessa maravilhosa iguaria. No entanto, é ainda o meu caso quando encontro á venda chicharros ou cavalas bastante grandes. Quem não fazia esse tipo de método no passado? E quem não faz hoje ainda atualmente?


Faço ainda! Tenho por hábito salgá-lo e depois colocar á exposição do sol para secar e quando o processo tiver concluído, ou seja, após ter apanhado alguns dias de sol, coloco num saco e preservo na arca frigorífica para ir degustando quando apetecer.  Era assim na Ribeira Quente, visto que é uma pequena freguesia piscatória em que na época era abundante apanha do peixe e o mais capturado para esse tipo de processo era o chicharro.

A população local valiam-se dos meses da época de verão para fazer a sua salmoura, para depois comeram ao longo do ano, principalmente no inverno em caso de crise da apanha do referido peixe e em tempos de má tempo em que os barcos não poderiam ir á sua labuta, faina piscatória. Era assim um dos meios de sobrevivência nos lares da Ribeira Quente.


Após o peixe já estar todos pronto ( salgado), havia diversas maneiras de ser cozinhado, o que eu ainda preservo a maneira de cozinhá-lo como aprendi com os meus antepassados, essencialmente com a minha mãe. 


Hoje em dia, com o aparecimento das novas tecnologias, ou seja, os electrodomésticos nomeadamente frigorífico ou arca frigorífica, esse hábito de trabalhar o peixe em salmoura, foi-se perdendo para outros novos hábitos alimentares. No entanto, como já referiu atrás, continuo a fazê-lo com muito orgulho para uso pessoal cá de casa e ninguém fica indiferente. Perguntam-me muitas vezes se não faz mal á saúde esse método de peixe assim? Tenho por hábito de responder que não é todos os dias que se come e questiono de imediato: e o bacalhau também não faz mal á saúde?...


Enfim!...

Recordo-me com alguma nostalgia em casa dos meus pais, quando a minha mãe demolhava-o, depois levava uma  ou mais fervuras para tirar todo aquele salgado (como se faz com o bacalhau hoje em dia) e depois fazia um, grande e forte cebolada á sua maneira, utilizando os ingredientes, temperos, de então, como lhe desejava fazer ou aplicar. Normalmente, minha mãe quando cozinhava esse tipo de alimentação, muitas vezes fazia em grande fartura e levava num tacho muito bem preparado para as pessoas que estavam nas nossas terras, na apanha dos seus produtos agrícolas, essencialmente o meu pai e quem mais estivesse com ele.


Em abono de verdade digo: atualmente ainda preservo muitos actos tradicionais dos nossos antepassados, mormente esse tipo de alimento.


Cá em minha casa todos adoram esse tipo de cozinhado. Muito bom, mesmo! Por isso, digo, ou tenho o hábito de dizer, que eu não preciso de ir comprar bacalhau, porque quase todo o ano, tenho-o em casa, ( uma forma de brincadeira que faço).


Um bem haja a todos vós



João Costa Bril

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