Peixe do meu quintal
José Soares
O Cu de Judas
José Soares
O Cu de Judas
O Nordeste, em São Miguel, foi sempre o desterro dentro da Ilha.
Visto de Ponta Delgada, era “a grande aventura” em que só alguns afoitos
ousavam desafiar a sua estrada serpenteada, marcada por pontões estreitos, num
trajeto de três horas em direto, ou mais se tínhamos de parar na Vila da
Ribeira Grande.
Foi assim até ao atual século XXI, excetuando os carros que por serem cada vez mais velozes e confortáveis, o trajeto se podia fazer em duas horas, duas e meia.
Foi assim até ao atual século XXI, excetuando os carros que por serem cada vez mais velozes e confortáveis, o trajeto se podia fazer em duas horas, duas e meia.
E mesmo quando nos Governos de Mota Amaral, o pavimento foi melhorado cobrindo
a calçada com um lençol de asfalto, a imensidão de curvas e obstáculos
continuavam, mas o conforto melhorou pelo pavimento liso. Mota Amaral não
tinha, na altura, os grandes subsídios europeus para fazer melhor. Fez o
possível.
E não esqueçamos o grande
desastre de 1 de janeiro de 1980, na Terceira, onde a minha linda cidade de
Angra sofreu um dos maiores estupros de sempre. Mota Amaral enfrentou tudo sem
subsídios, senão e tão só com a enorme solidariedade que de todo o lado choveu
de forma espontânea, como o próprio terramoto que destruiu.
Depois, veio a grande obra de Carlos César. Desfez o mito de que Nordeste era a
décima ilha e, sem nunca atirar a toalha ao chão, César avançou com o mais
ambicioso projeto rodoviário de sempre nos Açores. As vias rápidas cesarianas
deram às Ilhas uma imagem da modernidade que o resto do mundo (pelo menos
ocidental) há muito vivia. “E César descansou ao sétimo dia”.
Hoje, Nordeste está ao virar da esquina.
Mas se Nordeste era desterro pela sua lonjura, a Povoação sofreu sempre pela sua invejável beleza. A Vila da Povoação é o grande
presépio esquecido das faraónicas do ainda governo socialista dos Açores.
Carlos César já não está, mas a sua obra deveria ser inspiradora para quem lhe
segue as pisadas do bem público.
A Povoação é a
noiva, bela e virtuosa, a quem se promete tudo, até casamento um dia, mas
depois cai nos buracos negros da política regional por mais uns anos. Há quinze
anos que se promete a famigerada estrada entre as
Furnas e a Povoação e tudo
continua adiado.
César era um homem de ação, é verdade! Mas Vasco Cordeiro tem de ser um homem
de palavra neste caso. A Povoação merece
a maior dignidade e atenção da parte de quem nos governa. É sempre um passeio
maravilhoso ir à Povoação.
Mas quando não se trata de passeio, a deslocação diária e obrigatória é
desgastante.
Além de tudo isto, veja-se a diferença de um Nordeste desde que se engrossou o
cordão umbilical até ele: Tem progredido mais rapidamente. Não queremos o mesmo
para mais esta décima Ilha em que se tornou a Povoação?
A Povoação pode custar
o governo a este Partido Socialista/Açores nas próximas eleições.
São tantas já as promessas em falso, que será caso para lembrar Winston
Churchill:
“Aqueles que esquecem os erros da História, estão condenados a repeti-los”
E eu diria: São já muitas as promessas e isto começa a ser muitos cus de Judas.
Estamos a ficar cansados… de ir à Povoação!
Povoação, segunda-feira,19 de março de 2018.
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