Artigo de Opinião
Dr. Duarte Correia
- Presidente da Associação Portuguesa para o Estudo da Dor
A
dor orofacial é percecionada no rosto e/ou cavidade oral. Pode ser provocada
por distúrbios de estruturas regionais, disfunção do sistema nervoso ou ser
referida na região oro facial com origem em fontes e locais distantes, agravada
pela proximidade de outras estruturas, a exemplo dos olhos, nariz, dentes,
língua, seios perinasais, ouvidos, músculos e articulações temporomandibulares.
A
dor odontogénica/dentária é o exemplo típico de uma algia na face. A patologia
odontogénica deve estar sempre presente nas hipóteses de diagnóstico que
colocamos e a avaliação do doente deve incluir os dentes e as suas estruturas
de suporte. Pode ter origem numa cárie com extensão à dentina ou polpa
dentária, numa infecção ou necrose pulpar, num abcesso periapical ou
periodontal nas fracturas ou traumas dentários. Por vezes esta sintomatologia
pode simular uma nevralgia do trigémio, uma enxaqueca, uma cefaleia
trigemino-autonómica. Devido à similaritude das queixas de dor odontogénica com
outras entidades de dor orofacial, a patologia dentária deve ser sempre
excluída.
Uma
das causas de dor orofacial são as disfunções temporomandibulares que podem ser
provocadas pela articulação temporomandibular (ATM) ou pelos músculos
mastigatórios (DMM). É mais frequente no género feminino, com pico de incidência entre os 20 e 40 anos
e a sua prevalência é avaliada ente 9 a 13% da população. A DMM afeta os
músculos de encerramento da mandíbula, é agravada pela mastigação, podendo
estar associada a outra sintomatologia. A artralgia da ATM pode resultar de
trauma e/ou sobrecarga desta articulação. Manifesta-se como uma dor aguda,
agravada pela carga e movimento articular, irradiando para o ouvido. O
diagnóstico é essencialmente clínico e o tratamento poderá ser centrado numa
abordagem biopsicossocial.
O
Distúrbio de Dor Dento-Alveolar Persistente manifesta-se com sintomas de dor
persistente e contínua, localizada na região dento-alveolar, que não pode ser
explicada no contexto de outras doenças ou distúrbios. Os mecanismos
fisiopatológicos envolvidos são de natureza psicológica ou neuropática. O
tratamento é baseado no parecer do especialista e podem ser úteis os
anticonvulsivantes e antidepressivos tricíclicos, aliados à terapia
cognitivo-comportamental.
A
Nevralgia do Trigémio e a Nevralgia do
Glossofaríngeo, são síndromes dolorosos complexos no seu tratamento, de
etiologia diversa. O Síndrome da Boca Ardente, a Dor Facial Idiopática
Persistente e a Dor Orofacial Neurovascular (DON), são patologias pouco
frequentes, de difícil diagnóstico e tratamento.
Como
depreendemos pela cronicidade e intensidade, a dor orofacial pode condicionar a
qualidade de vida do doente e ter um impacto social e psicológico
significativo. A sua desvalorização e o inadequado conhecimento sobre as suas
causas podem conduzir a diagnósticos imprecisos e à ineficácia das terapêuticas
prescritas.
O
tratamento da dor crónica orofacial deverá ser efetuado num contexto
multidisciplinar e interdisciplinar, englobando entre outros, médicos
dentistas, fisioterapeutas e psicólogos, numa abordagem global de natureza
biopsicosocial, considerando o paciente como um “todo” e não apenas a dor que
ocorre no momento. É importante que o médico assistente pondere a eventual
necessidade de tratamento multidisciplinar da dor e proceda ao encaminhamento
adequado, em tempo útil.
A
APED (Associação Portuguesa Para o Estudo da Dor), capítulo português da IASP,
dedica este ano uma atenção particular à “dor orofacial”, realizando diversas
ações, para pacientes e profissionais de saúde, integradas no “Global Year
Against Orofacial Pain”.
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