Depois
de algumas pesquisas encontramos uma interessante e sempre atual entrevista
conduzida pelo Jornal Ribeira Quente no ano de 2006 ao ribeiraquentense,
António Rita Amaral, um grande homem do mar e de terra, pois também conduziu os
destinos da sua freguesia como presidente da Junta local com enorme saber e
responsabilidade, mas, melhor mesmo, é ler a entrevista na íntegra.
António
Rita Amaral é filho de António Junípero Amaral e de Maria da Costa Rita. O
apelido “Sacadura” já vinha do seu pai, que quando era criança tinha um pequeno
barco com o qual brincava na ribeira e pelo mesmo ser veloz (à semelhança de um
barco de Vila Franca que era muito veloz e se chamava “Sacadura”) deram-lhe o
apelido de “Sacadura”. Tem 70 anos, pois nasceu a 28 de Outubro de 1942 e
cresceu na casa dos pais, na Rua do Garajau, denominação que tinha na altura,
que ficava entre o prédio do Saraiva e a atual casa do Sr. José Franco.
Entre
os 12 e os 13 anos, enveredou pela profissão da família, a de pescador,
entrando na Companha do pai no Novo Sacadura. Aos 14 anos foi tirar a Cédula
Marítima a Vila Franca do Campo. Era obrigatório ter o exame da quarta classe e
“dar uns mergulhos” para que confirmassem que sabia nadar. Em 1968 tirou a
carta de Contra-Mestre em Ponta Delgada e, vinte anos mais tarde, em 1988,
conclui na Escola Profissional de Pesca de Lisboa o curso de Mestre Costeiro
Pescador.
Jornal Ribeira
Quente – Como era a vida de um pescador quando começou no mar?
António
Rita Amaral – Era muito diferente de agora. Os barcos eram a remos e também à
vela, quando o vento ajudava. Para irmos para o Nordeste saíamos à meia-noite e
chegávamos lá pelas seis/sete da manhã.
Ao
nível da pesca não havia tantas restrições e não se falava em quotas, tínhamos
tabelas a cumprir. No entanto, apesar de haver muito peixe, passávamos meses
sem poder ir ao mar, pois, como não havia motores, não podíamos sair com o mar
mais picado.
R. Q. – Com que
idade foi dono do primeiro barco?
António
Rita Amaral – Por volta de 1970/71, com 28 anos, tive o primeiro barco, o
Carlos António, em sociedade com o meu pai. O barco já tinha motor. O nome veio
de um afilhado de meu pai, que também é meu afilhado agora. Este barco foi
vendido para Rabo de Peixe. Depois deste, em 1985, comprei um barco na Lagoa,
que intitulei de Novo Sacadura, em homenagem ao primeiro barco onde andei. A
lotação da embarcação constava de 16 a 17 tripulantes.
R. Q. – Fala-se do
tocar do Búzio. Sabia tocar o Búzio? O que recorda a este respeito?
António Rita Amaral – Eu sabia tocar, mas quem
tocava em cada barco era quem tinha mais jeito. No primeiro Novo Sacadura
lembro-me que quem tocava era o João Bolinha, já falecido, e tocava muito bem.
Pelo tocar do Búzio os vendilhões e a população, já sabiam de quem era o barco
que se aproximava. O som de cada um era diferente e pela demora do toque
sabia-se se o barco vinha mais carregado de peixe ou não.
Também
se tocava o Búzio para chamar a população para ajudar a varar o barco se o mar
estava mais bravo.
R. Q. – Conte-nos
um pouco do seu percurso pelas traineiras?
António
Rita Amaral – A primeira traineira em que fui Mestre, foi a Garça, há 30 anos
atrás. Depois desta seguiu-se Ribeira Quente, Mariante, Pico Ruivo, S. Pedro
II, e, por fim, a Pérola dos Açores. Nelas praticava-se a Pesca do Atum. De
verão andava nas traineiras e, de Inverno, andava no Novo Sacadura.
R. Q. – Mas a
Pérola dos Açores, foi a primeira de que foi dono. Quando a adquiriu e como?
Para
adquiri-la, surgiu uma candidatura para traineiras daquele género, à qual
concorri, depois fui chamado para entrevistas e acabei por ser um dos selecionados.
Neste momento esta embarcação já foi abatida e agora sou proprietário de um
outro Atuneiro com o nome de Pepe Cumbrera.
R. Q. – Para
finalizar as questões sobre a sua vida marítima, gostaríamos de saber o
episódio que mais o marcou positiva e negativamente como pescador?
António
Rita Amaral – O meu melhor momento como pescador foi quando ganhei o concurso
para ficar com a Pérola dos Açores, era um sonho que tinha há muitos anos e que
felizmente se concretizou.
O
pior momento foi a 29 de Novembro de 2004 quando o barco do Pedro virou e
passámos por aquela grande agonia; vimos a morte à nossa frente e perdemos
mesmo um dos membros da tripulação, o João Bolinha. Foi um episódio do qual
ainda não recuperei totalmente.
R. Q. – Já era
empresário na área das pescas mas a sua atividade empresarial não se ficou por
aqui. Associou-se ao projeto da Seawatch.
António
Rita Amaral – Fiz sociedade com o José Franco, e investimos no projeto de
turismo que consistia no Whale Watching em 2001.
R. Q. – E nessa
altura, achou que teria o sucesso que é visível por todos?
António
Rita Amaral – Claro que quando investimos em alguma coisa é sempre na esperança
de dar certo, e estávamos confiantes, mas não sabíamos se as pessoas iriam
aderir.
R. Q. – E o
restaurante surgiu posteriormente, porquê?
António
Rita Amaral – O restaurante Garajau surgiu para ser um suplemento ao barco no
meio das viagens marítimas. No entanto, tem tido muita adesão, e é já uma das
referências para muita gente de fora da freguesia. Temos também o Jeep Safari
que tem muito sucesso.
R. Q. – Passemos a
outra faceta da sua vida, a de político. Por que decidiu concorrer pela
primeira vez à Junta de Freguesia de Ribeira Quente?
A
meio do mandato do Partido Social Democrata entrei para secretário da Junta de
Freguesia.
R. Q. – Tornou a
concorrer em 1997 e ganhou. Qual a diferença entre esta candidatura e a
anterior?
António
Rita Amaral – Da segunda vez comprometi-me com as pessoas que ia deixar o mar.
Disponibilizei mais tempo e as pessoas reconheceram isso. Ganhei por mais de
100 votos. A candidatura de 2001 era inevitável para dar continuidade ao
trabalho que vínhamos a desenvolver e concluir os projetos que tínhamos em
mente.
R. Q. - Que
freguesia encontrou na altura?
António
Rita Amaral – Uma freguesia pós-catástrofe, muito carenciada. A Ribeira Quente
evoluiu muito após a catástrofe e à custa desta. Costumo dizer que só perdeu
quem morreu. A freguesia nasceu de novo, infelizmente, às custas daquela
tragédia.
R. Q. – Que balanço
faz destes últimos oito anos?
António
Rita Amaral – É um balanço bastante positivo. A freguesia está mais dinâmica. O
porto foi reconstruído de raiz e houve a remodelação da frota pesqueira.
A
Junta fez o seu trabalho do que destaco: a ampliação do cemitério; o
polidesportivo, o apoio aos jovens, idosos, pescadores, entidades culturais e
desportivas; festas da freguesia, à Igreja de S. Paulo; às escolas; empresas, e
todas as pessoas que solicitaram o nosso apoio. Fizemos o possível com os meios
que temos.
Conseguimos
também uma caixa de Multibanco e reforçar a rede TMN. É isto que me recordo
agora de repente.
R. Q. – Valeu a
pena assumir o cargo de Presidente da Junta de Freguesia?
António
Rita Amaral – Sim. Nos oito anos de mandato respeitaram-me sempre; as pessoas
foram sempre corretas comigo. Fiz os possíveis para que a Ribeira Quente fosse
outra, fez-se alguma coisa, mas ainda há mais a fazer.
R. Q. - Sente-se com
a consciência de dever cumprido?
António
Rita Amaral – Sim. Há sempre coisas a fazer, mas dentro do que me foi possível
fiz.
R. Q. – Nunca se
arrependeu de ter assumido a candidatura?
António
Rita Amaral – Não. Como toda a gente, nalguns episódios do dia-a-dia, quando as
coisas não corriam da melhor maneira, e da maneira que deveriam ser, sentia-me
frustrado, mas não me arrependo.
R. Q. – Por que não
se recandidatou?
António
Rita Amaral – Após o incidente no mar a minha saúde não sendo a mesma achei que
já não tinha a idade para me recandidatar, que devia haver uma renovação na
imagem do presidente, apesar da restante equipa da junta ser bastante jovem.
R. Q. – Acha que a Junta de Freguesia está bem
entregue?
António
Rita Amaral – Sou suspeito para responder a esta pergunta, como é óbvio, mas
acho que está muito bem entregue, com pessoal novo e dinâmico. A freguesia
estava bem, mas não fica a perder.
O
jornal Ribeira Quente agradece-lhe a atenção que nos dispensou, com votos de um
ano de 2006 com muita felicidade e saúde.
Sem comentários:
Enviar um comentário