A propriedade da Grenã,
adquirida no final dos anos 80 pelo Estado Português junto à lagoa das Furnas,
nos Açores, está "em vias de desaparecer por completo" alertou hoje
um historiador açoriano, alegando que o "cenário é dantesco".
“O Estado Português deixou
arruinar por completo o imóvel e hoje a Grenã é um escombro, um cadáver em
decomposição avançado e em vias de desaparecer por completo”, afirmou José de
Almeida Mello, em declarações à agência Lusa, recordando que a propriedade foi
adquirida para servir de residência de apoio às figuras de Estado que se
deslocassem aos Açores.
A propriedade, adquirida
pelo Estado em junho de 1987 por cerca de 104,9 mil euros, inclui um parque
densamente arborizado, um curso de água atravessado por uma ponte, um jardim e
um palacete construído por um antigo cônsul inglês na década de 50 do século
XIX.
José de Almeida Mello
explicou que depois dos ingleses, e já no século XX, a propriedade passou para
a família Mendonça Dias e foi uma das últimas herdeiras que a vendeu à
Presidência da República, no mandato de Mário Soares.
“Já na altura, na reta
final da família Mendonça Dias, a casa já estava a precisar de obras. A partir
daí e até à atualidade, estando numa zona de grande vegetação e humidade, a
casa passou rapidamente a ser invadida pela vegetação e a transformar-se num
espetáculo dantesco de destruição total”, referiu, acrescentando que o imóvel
está sem telhados, sobrados e janelas.
Esta situação tem sido por
diversas vezes denunciada publicamente, numa tentativa de chamar a atenção dos
responsáveis para a necessidade de conservar aquilo que o historiador considera
“um marco importante” da presença da comunidade inglesa nos Açores.
Em 2009, Mota Amaral e
Joaquim Ponte, deputados do PSD eleitos pelos Açores para a Assembleia da
República, questionaram o Governo sobre a situação da propriedade, adquirida
para ser residência de membros dos órgãos de soberania em visita ao arquipélago
e que já foi uma das mais bonitas propriedades da ilha de S. Miguel.
Neste documento, denunciam
a "frontal recusa" do Ministério das Finanças a todas as diligências
realizadas pela Região Autónoma dos Açores para passar o prédio para o seu
património e guarda.
Na resposta, o Ministério
das Finanças referiu que a propriedade foi cedida à Secretaria de Estado da
Presidência do Conselho de Ministros em março de 1988, tendo sido devolvida ao
ministério em 2002 com o objetivo de ser cedida "a título definitivo e
gratuito" ao governo açoriano.
O problema é que a Lei do
Orçamento determinava a "obrigatoriedade da onerosidade das alienações de
imóveis do Estado", tendo a propriedade sido avaliada em 300 mil euros,
quase o triplo do valor pelo qual tinha sido adquirida.
Em finais de 2005, uma
informação interna do Ministério das Finanças referia que a propriedade
"integra o domínio privado do Estado, pelo que pode transitar para a
esfera jurídica da Região Autónoma dos Açores".
A 3 de abril de 2006, o
secretário de Estado do Tesouro e das Finanças de então deu a sua concordância
a esta informação, mas o processo não sofreu nenhum desenvolvimento posterior
por faltar a análise da Direção Geral do Património.
Segundo o historiador José
de Almeida Mello, o Estado tem no arquipélago vários imóveis que carecem de
recuperação ou que lhes seja dado um destino, como é o caso, por exemplo, dos
fortes da costa da ilha de s. Miguel.
“Em 1832 um inglês
descobre e maravilha-se com a zona envolvente da lagoa das Furnas, aí compra
uma grande extensão de terreno para construir uma casa. Esta construção no
entanto só aconteceu mais tarde com outro proprietário, o Cônsul inglês de
Ponta Delgada, de seu nome Vines, no ano de 1858.
Aí construiu uma casa e
deu início nos terrenos circundantes a um jardim, a esta propriedade deu o nome
de Grená, onde vinha passar o verão com a família. Este nome tem haver com a
esposa do cônsul que era sobrinha do politico irlandês Daniel O’Connel que
organizou o movimento católico na Irlanda, tendo a senhora passado a juventude
em Killarney numa estancia da família cujo nome era Grená, o Cônsul Vines em
agrado á esposa deu esse nome á sua casa de verão na lagoa das Furnas.
Após a morte do cônsul
Vines, esta é cedida em 1874 a um cirurgião de Londres chamado Hinton, que
publicou na altura várias obras sobre os órgãos auditivos e higiene. Isto
porque D. Catharina após a morte do marido não voltará mais às Furnas. Com a
morte do cirurgião Hinton em 1875 a Grená passa para Jorge Brown que a explora
como hotel durante o verão durante alguns anos. Durante este período acolheu
alguns viajantes estrangeiros importantes entre os quais a escritora inglesa
Alice Backer que escreveu o livro “A Summer in the Azores with a glimpse of
Madeira” , entre outros como alguns que deixaram referências literárias e
cientificas sobre as Furnas. Em 1882 a Grená é vendida pelo filho de D.
Catarina a Jorge Hayes após a morte de Jorge Brown neste ano. Sendo mais tarde
alugada por José do Canto enquanto este construía a sua casa do outro lado da
lagoa e preparava a sua propriedade e a construção da ermida de Nossa Senhora
da Vitória.
Informação tirada do livro
de CORRÊA, Marquez de Jacome, Leituras sobre a história do Valle das Furnas,
São Miguel, Oficina de Artes Gráficas, 1924.”
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