Crimes políticos – OSVALDO
CABRAL, in Correio dos Açores, edição de hoje.
«Nas Furnas, desde sempre conhecidas como a
maior hidrópole do mundo, está-se a cometer um dos maiores crimes políticos da
nossa história contemporânea. Conhecido pelas suas mais de 70 nascentes de
água, conferindo-lhe o título de capital do termalismo português, o Vale das
Furnas tinha motivos para potenciar a sua riqueza ao nível da
internacionalização.
A política deu cabo de
tudo. Ao atribuir a exploração das termas à ASTA Atlântida, uma parceria entre
os Grupos Martins Mota e Paim, sem qualquer experiência no sector, o governo
dos Açores matou, à nascença, esta mina de ouro natural.
A requalificação das
termas, com a construção do Furnas SPA Hotel, arrastou-se durante sete anos e
há mais de três que está parada e em ruínas. Mais grave: é possível que haja
alguma nascente de água medicinal que já se tenha perdido. É o mesmo que dar
cabo de um valioso poço de petróleo.
Tem razão o Presidente da
Junta de Freguesia das Furnas quando se queixa de que, “além de se ter mexido
com o património, ele funcionava, curava doenças e dava emprego, mexendo-se com
a economia de uma localidade; (…) Deram cabo das águas e, se isto é verdade,
devia alguém responder criminalmente”.
Os furnenses podem esperar
sentados. Crimes políticos nunca são julgados, porque os amigos, o compadrio
partidário, a oligarquia, são sempre protegidos.
A mesma empresa,
entretanto falida, recebeu mais de 10 milhões de euros de dinheiros públicos
para construir, também, o famoso Casino da Calheta. Nós, contribuintes, ficamos
sem o dinheiro, em troca de dois mamarrachos. O das Furnas é mais grave, porque
se destruiu todo um património que colocava a freguesia num dos maiores
emblemas do termalismo mundial. Foi com base nesta potencialidade que, nos anos
30, se construiu o Hotel Terra Nostra, agora remodelado, num investimento
magnífico, sem megalomanias e novo-riquismos.
O ruinoso Hotel SPA das
Furnas ainda não estava na fase de conclusão e já tinham acrescentado ao
projecto mais 11 quartos aos 44 inicialmente previstos, acrescentaram mais umas
centenas de metros quadrados à área do SPA, outra sala de refeições, esplanada,
transformando o investimento de 6 milhões para... 10 milhões! “Quando os
políticos metem mão nas Furnas, sai asneira”, disse-me no fim de semana um
furnense lá residente. É o caso, também, da Presidência da República, ao tempo
de Mário Soares. O Estado resolveu comprar a bonita casa da Grená, na margem da
lagoa das Furnas, para local de férias e repouso de suas excelências.
Conclusão: mais um monte de ruínas, daquela
que foi construída por um cavalheiro inglês em finais do século XIX e que
pertenceu à família Mendonça Dias. Entretanto investiram-se mais uns milhões em
Observatórios Microbianos, Exposições Virtuais e Permanentes, Observatórios de
Investigação nas margens da lagoa, sem que se transmita ao público os
resultados dessas investigações científicas, o que fazem, para que servem, já
que o problema da eutrofização parece continuar na mesma, largos anos depois de
tantas promessas e de tantos milhões afundados.
Eu já estou como o
arquitecto Soares de Sousa, questionando para que servem aquelas “megalíticas
construções que eram dispensáveis e nada acrescentam à harmonia natural” nas
margens da lagoa. Para colocar casinhas de madeira nas árvores para a
nidificação de pássaros e morcegos não era necessário tamanho investimento. Mas
nesta terra tudo é possível. Até um dos Grupos que deixou falir as Termas das
Furnas, teve como prémio... as Termas da Ferraria.
Branco mais branco não há.» Pico da Pedra,
Junho de 2013 Porque hoje é quarta
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