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segunda-feira, 11 de março de 2013

HINO NÃO INSTITUCIONAL DOS AÇORES FAZ 30 ANOS


A canção "Ilhas de Bruma", escrita há 30 anos por Manuel Medeiros Ferreira, transformou-se num "hino não institucional" da açorianidade e da autonomia, um tema que "também serviu para contestar" e continua a ser recreado.

 “É um hino não institucional. As ‘Ilhas de Bruma’ são a autonomia a falar. Ela de facto teve sucesso por várias razões. Uma delas é porque realmente encarna o espírito da autonomia”, afirmou à Lusa Manuel Medeiros Ferreira, que em julho de 1983 escreveu o refrão num dia de bruma em que “não se via nada e as gaivotas vinham mesmo beijar a terra”.

A canção, que levou dois meses a escrever e a aperfeiçoar, foi tocada em público pela primeira vez na primeira edição do Festival Maré de Agosto, que decorre na ilha de Santa Maria desde 1984, mas verdadeiramente o sucesso popular chegou quando a RTP/Açores aproveitou o tema para algumas das suas séries mais emblemáticas na década de 80 do século passado.

“O conhecimento público de grande dimensão foi a partir da ‘Balada do Atlântico’, depois o maestro Emílio Porto, do Orfeão do Pico, fez um arranjo polifónico e tornou-a mais nobre. Depois nunca mais pararam as versões. Não sei quantas há, mas penso que vão para cima de cem”, referiu o autor da letra, que foi técnico de biblioteca em Ponta Delgada.

Manuel Medeiros Ferreira, que tem hoje 62 anos, disse que a maior homenagem que lhe podem prestar é continuar a cantar a sua música, revelando que se emociona sempre que vê o público cantarolar a letra de um tema que se tornou "emblemático para todos os açorianos".

“Eu não fiz com nenhuma intenção de atingir nada, mas de me afirmar eu próprio como açoriano. Não fazia a mínima ideia do sucesso dele. O que senti sempre é que sempre que a cantasse as pessoas iam ter respeito”, afirmou o autor, que também viveu em Lisboa e Paris, e para quem este tema “é uma síntese da poesia e da música açoriana” de uma determinada época.

Em casa, com vista privilegiada para o Oceano Atlântico e rodeado de livros, música e imagens de José Afonso, Vinicius de Moraes e Jacques Brel, Manuel Medeiros Ferreira confessou que quando escreveu “Ilhas de Bruma” existia “um certo complexo de inferioridade entre os açorianos” e a canção “também serviu para contestar, para despertar a autoestima do povo”, algo que “hoje já não se coloca”.

“Ainda sinto os pés no terreiro/ Onde os meus avós bailavam o pezinho”, escreveu na primeira estrofe das “Ilhas de Bruma”, uma referência direta aos antepassados que viveram nos Mosteiros, freguesia da ilha de S. Miguel onde também nasceu.

Nas veias continua a correr-lhe basalto negro e na lembrança tem vulcões e terramotos, mas se voltasse a escrever “Ilhas de Bruma” chamar-lhe-ia “Ilhas do Espírito Santo”, por ser um “elemento identitário e verdadeiramente unificador do povo açoriano”.

Manuel Medeiros Ferreira, que continua a escrever e a compor canções com o seu violão, garantiu que “só as palavras mais simples atingem as maiorias”, sendo o grande problema da transmissão “justamente, conseguir transformar palavras muito eruditas em coisas simples”.

Por este motivo, não se admira que os açorianos saibam de cor a letra da sua música e o mesmo não aconteça com a letra do hino institucional dos Açores, da autoria da poetisa açoriana Natália Correia.


Fonte: Açoriano Oriental.

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