Era Francisco de Freitas de espírito alegre e folgazão, imprimindo ao Carnaval, do seu tempo, um cunho acentuadamente carnavalesco e artístico.
Ainda hoje se recordam, com viva saudade, os seus cortejos cheios de graça e arte, que desaparecerem com Francisco de Freitas.
Gostava muito de pregar as suas «partidas» aos amigos que, por sua vez, também, se «desforravam», retribuindo-lhe sempre, as suas graças.
De uma vez, comprara, ele, ervilhas, as primeiras daquele ano. E encontrando-se com alguns amigos, após aquela compra, fizera-lhes saber que ia ter, para o almoço daquele dia, ervilhas novas e frescas!
Logo os amigos forjaram pregar-lhe grossa partida.
Era palrador… e aqueles entusiasmaram-no, numa arengada improvisada no momento e, como quem não quer a coisa, foram-no levando, embevecido naquela conversa, para um estabelecimento que existiu em frente da Câmara Municipal.
Chico Pintor estava embevecidíssimo e no auge daquela conversa em que ele era um prodígio de gesticulação e, para aliviar as mãos, distraidamente, poisara, sobre o balção do estabelecimento, o pacote das ervilhas novas.
Nesta altura, a conversa redobrava de entusiasmo, da parte de todos… e o pacote das ervilhas novas já desaparecera do balcão, como por encanto, para num ápice, habilmente, voltar ao sítio e posição primitivas. E a conversa estava, também, terminada.
Voltado que foi o pacote das ervilhas novas aquele balcão, despediram-se todos os amigos, retomando o nosso Chico Pintor o caminho de casa, pedindo à esposa que lhe preparasse aquelas ervilhas novas para o almoço, e saiu.
Quando voltara, de novo, para o almoço, estranhando que não lhe serviram das tão apetecidas ervilhas novas, pergunta à esposa, entre admirado e surpreso, pelas suas ervilhas…
- “Que ervilhas homem?!... Que ervilhas?!...”
Retorquira-lhe, sorridente, a esposa. E, a rir, perdidamente, acrescentou:
- “O que tu me trouxeste, homem, foi um pacote de cascas!...”
Tinham-lhe, os amigos, no momento daquela entusiástica conversa, “bifado” todo o grão, debulhando as ervilhas e enchendo-lhe o pacote com as cascas destas. (1)
De uma outra vez, manhã cedo, acabara de chegar, da Ribeira Quente, um vendilhão, com sardinhas ainda a escorrerem água salgada.
O nosso Pintor aproxima-se do homem do peixe e ajustara a compra de certa porção. E pedira, num estabelecimento ali em frente, um saco de papel donde fez contar o peixe.
A caminho de casa, e os amigos na peugada do Chico Pintor…
- Que levas aí, Chico?...
E nova e bem urdida conversa, se estabeleceu logo!
Com a água de que o peixe vinha impregnado, começou o papel do saco a fender-se, no fundo.
A pouco tempo, da conversa… o peixe começou a escapulir-se pela aberta que a água ia fazendo no papel…
Vendo os amigos que mais não era preciso, despediram-se, indo cada qual para o seu lado e o Pintor, de novo, a caminho de sua casa.
A cada passo do Chico Pintor, as sardinhas, iam, uma a uma, caindo no chão, pelo caminho… e ao chegar a casa, apenas se encontrara com uma sardinha dentro do saco de papel!...
Um dia, pelo Carnaval, Chico Pintor comprara um bacio, de barro, da Lagoa, e mandara enchê-lo de vinho branco.
Escolhera uns biscoitos bem torrados e deitou-os dentro do bacio.
Depois,
mandara-os de presente, aqueles seus amigos…
. . . . . . . .
Era assim que se vingava o Pintor, das partidas que lhe pregavam os seus amigos… e é desnecessário dizer da relutância que sentiram aqueles ao receberem uma tão extravagante oferta.
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(1) Foram o Pe. Dionísio Moniz de Almeida e Manuel Soares Brandão, sendo o primeiro quem, habilmente, fez desaparecer as ervilhas.
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