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terça-feira, 10 de novembro de 2020

DEPOIS DE VÁRIOS ANOS A TRABALHAR NA INFORMÁTICA, JOVEM NATURAL DA POVOAÇÃO É HOJE MAIS FELIZ A VENDER CACHORROS QUENTES EM ALVERCA

Com 22 anos de idade saiu pela primeira vez dos Açores com o objectivo de emigrar, acabando por se fixar em Alverca, a cidade em que viviam os avós maternos e onde agora tem o seu negócio, o “Açoriano - Hot Dogs”. Depois de anos de insatisfação a trabalhar na área da informática e no atendimento ao público, Sérgio Freitas optou por dar a conhecer aos seus clientes um pouco dos Açores através dos seus cachorros quentes, privilegiando a matéria-prima açoriana.


Nascido e crescido na Povoação, Sérgio Freitas, hoje com 27 anos de idade, é já conhecido como “o açoriano” dos cachorros quentes em Alverca, no distrito de Lisboa, depois de ter optado por seguir os passos dos seus familiares e emigrar e, acima de tudo, depois de mudar o rumo da sua vida profissional, optando por fazer algo que o deixa verdadeiramente preenchido.

Todo o seu percurso escolar foi feito na Povoação, onde tirou um curso profissional com equivalência ao 12.° ano de gestão e programação de sistemas informáticos, área na qual acabou por trabalhar durante vários anos.


Porém, à medida que foi passando o tempo, depressa descobriu que esta é “uma área pela qual não tem qualquer interesse”, admitindo que na altura optou por tirar este curso por considerar que “era a melhor opção que tinha naquele momento”, e por gostar informática e de computadores.


Contudo, depois de trabalhar na área, passando também por call centers e pelo atendimento ao público, Sérgio Freitas depressa descobriu que não seria um trabalho de secretária que o faria sentir-se realizado, necessitando “de um trabalho activo em que tenha que falar com pessoas, que tenha movimento e acção”.


No entanto, a sua sede por mudança não o levou directamente a Alverca, uma vez que acabou por - em primeiro lugar – viver durante seis meses no Canadá, um dos países onde tem família.


Aliás, esta é uma característica que atribui ao povo açoriano, devido às várias vagas de emigração que ocorreram ao longo dos séculos e que levaram os açorianos a espalharem-se pelos vários continentes, considerando que os seus conterrâneos, tal como este jovem, “nascem já com o bichinho de emigrar e de conhecer novos sítios” por mais que adorem a terra onde nasceram.


“Sempre tive, desde sempre, a vontade de sair dos Açores. Não por não gostar dos Açores, porque gosto mesmo muito, mas porque uma grande parte da minha família estava emigrada e falava-me sobre como era. Tenho tios na Suíça, no Canadá, em Portugal continental, tenho amigos e conhecidos na América e cresci com isso, portanto foi natural para mim querer seguir e explorar esse caminho e emigrar”, conta.


Apesar de ter gostado do tempo que passou no Canadá, Sérgio Freitas acabaria por ter que voltar prematuramente a São Miguel devido a uma lesão num joelho, uma tendinite patelar que os médicos canadianos não conseguiram diagnosticar e tratar.


“Vivi e gostei muito do Canadá porque também tem muitos açorianos e identifico-me com a cultura canadense. Até que me magoei num joelho, tive uma tendinite patelar, uma inflamação muito grave no tendão do joelho que me obrigou a voltar aos Açores. No Canadá não encontrei solução para o meu problema nem encontrei a origem do problema. Voltei depois de seis meses por uma questão financeira”, explica.


Foi esta lesão, no entanto, que viria a abrir-lhe a porta para se mudar para Portugal continental, onde acabaria por se apaixonar, por casar e por comprar a casa onde, noutros tempos, viveram os seus avós maternos.


Aí continuou a viver a sua vida, a trabalhar na área para a qual estudou, mas, conforme explica, ao fim de alguns anos já não conseguia lidar com o estilo de vida que levava, uma vez que “saía de casa muito cedo e chegava a casa muito tarde”, o que – aliado ao facto de não se encontrar a fazer algo de que gostasse – contribuiu para que tomasse uma decisão quanto a isso e criar algo seu.

Desde a pandemia não tive nenhum mês pior do que o anterior”


“Chegou a uma altura em que não aguentava mais esse tipo de trabalho, não me identificava com isso e como também gosto muito, muito de fazer comida, porque gosto muito das comidinhas açorianas, a primeira orientação que tive foi a de fazer algo relacionado com comida.


Foi um plano um pouco maluco e aventureiro que executei com muito apoio também da parte da minha esposa, que incidiu em representar uma coisa que é dos Açores e da qual gosto muito, que são os cachorros quentes”, explica, nascendo assim a marca “O Açoriano – Hot Dogs”.


Um dos aspectos que o levou a arriscar neste modelo de negócio, para o qual contou também com o apoio do pai que, como é serralheiro no concelho da Povoação, construiu e enviou até Sérgio o carrinho necessário para colocar o projecto em andamento, foi o facto de o conceito de cachorro quente não ser muito explorado em Portugal continental, havendo preferência por bifanas, churros e hambúrgueres.


“(...) Aqui no continente é tudo muito à base dos restaurantes, não há tanto aquilo que nós conhecemos como os carrinhos de cachorros quentes, então obviamente que não ia já aventurar-me a fazer um restaurante. Experimentei aqui na área um conceito diferente”, relembra.


Depois do carrinho, restou a Sérgio Freitas entrar em contacto com fornecedores locais que lhe pudessem assegurar um stock de carnes açorianas, o principal ingrediente do cachorro quente, e arranjar as licenças necessárias para que no primeiro dia do ano de 2020 vendesse o seu primeiro cachorro quente “exactamente como se faz nos Açores”.


Porém, muitas vezes dá por si a explicar aos seus clientes quais as características de um cachorro quente, precisando – por vezes – de garantir aos seus clientes que irão apreciar a experiência gastronómica ali oferecida, sendo que estes clientes acabam na grande maioria das vezes por saírem surpreendidos com a qualidade da carne: “A primeira coisa que as pessoas elogiam é a carne, dizem que não tem nada a ver com o que conhecem no continente”.


Por outro lado, os clientes são também frequentemente surpreendidos pela positiva quando se apercebem que estão a ser atendidos por um açoriano, o que acaba por originar um contacto mais alargado com os seus visitantes que ora ficam à espera de saber mais sobre “o açoriano”, ora anseiam por partilhar as suas histórias vividas nos Açores.


Três meses após oficializar o início da sua actividade, tendo já conquistado alguns fiéis clientes, chega a pandemia a Portugal, levando a que a restauração encerrasse portas ao público e que também Sérgio Freitas ficasse sem trabalhar durante pouco mais de um mês. Contudo, nem a pandemia levou a que colocasse o projecto em causa.


“Nunca coloquei o projecto em causa. Por uma questão de segurança e por preocupação estive pouco mais de um mês parado. Parei mas não desisti, adaptei o carrinho para estar mais seguro, tal como o cliente, adicionei-lhe uma espécie de viseira e assim as pessoas sentem-se seguras para lá ir. A partir daí retomei a actividade e foi sempre a subir, não tive nenhum mês pior do que o anterior. As pessoas estão a aderir, a experimentar, a gostar e voltam”, diz o jovem povoacense.


Para além da qualidade do produto que vende, diz, considera que o facto de este ser um projecto que permite que as pessoas estejam ao ar livre enquanto comem faz com que este tenha mais sucesso neste momento, uma vez que as pessoas acabam por se sentirem mais seguras.


“Este conceito foi muito bom por causa da Covid-19, porque os restaurantes ficaram extremamente limitados e os restaurantes take-away tiveram muito mais trabalho. Tive também que me adaptar. Comecei a utilizar o Uber Eats e a Glovo, e como agora é obrigatório fechar às 22h30 posso continuar trabalhar com a Glovo até mais tarde”, completa.


No futuro, e uma vez que este tipo de negócio “já está explorado nos Açores”, Sérgio Freitas espera poder continuar a servir cachorros quentes “em sítios onde ele não é conhecido”, nomeadamente mais perto da capital, embora este seja um passo que terá que ser dado “com muita calma e com cabeça”, uma vez que pretende eventualmente ter “um espaço mais fixo”.


Sempre admirei e continuo a admirar muito o meu pai”


Que sonhos alimentou em criança?


Em criança tinha o sonho de ser feliz. Desejava ter uma família feliz tal como na família que fui criado. E Sempre quis conhecer e explorar mais.


O que mais o incomoda nos outros? E o que mais admira?


Talvez seja pessoas que se acomodam. O que mais me admira é precisamente o oposto, gosto muito de pessoas aventureiras.


Que coisas gostaria de fazer antes de morrer?


Conhecer mais culturas e países.


Gosta de ler? Diga o nome de um livro de eleição.


Não gosto de ler, o mais próximo que tenho dessa vertente, e que tenho muito gosto, é de ler as notícias para estar a par do que se passa no mundo.


Como se relaciona com a informação que inunda as redes sociais?


A verdade é que não sou muito adepto das redes sociais, porém, mantenho me envolvido na representação do meu negócio, porque reconheço o poder de divulgação e a influência que tem nas pessoas. Tem dado muitos resultados positivos. Também é ótimo para estar a par da opinião dos clientes.


Conseguia viver hoje sem telemóvel e internet?


Sim, e nesse sentido tenho muito a agradecer aos meus pais, porque fui


criado e ensinado a valorizar o calor humano.


Gosta de viajar? Que viagem mais gostou de fazer?


É das coisas que mais gosto, já viajei e conheci alguns países. Mas a viagem que mais gostei foi a ida a Toronto, Canadá.


Quais são os seus gostos gastronómicos?


O meu gosto pessoal é muito à base de carne, o que aprecio mais é um bom bife da vazia com molho regional ou de queijo dos Açores.


Que notícia gostaria de encontrar no jornal?


Gostava de encontrar uma notícia sobre um tal Açoriano no meio de Lisboa a representar as ilhas com os seus cachorros quentes e um sotaque engraçado.


Qual a máxima que o inspira?


Em relação a inspiração, de um modo geral sempre admirei e continuo a admirar muito o meu pai. Foi a pessoa que me ensinou a ser como sou, e a pessoa que ainda me ensina muitas coisas.


Em que época histórica gostaria de ter vivido? Porquê?


Sinceramente, gosto muito da época moderna, mas pudesse voltar a trás, talvez voltasse para uma época onde houvesse mais princípios, porque sinto que com o passar do tempo, foram-se perdendo muitos valores.


Por: Joana Medeiros


In jornal Correio dos Açores, domingo, 8 de novembro de 2020.

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