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sexta-feira, 28 de março de 2014

SAUDADE

Como se tivesse deixado a minha ilha e partido para terras distantes.

Bate novamente o mar contra os rochedos, que do alto dos miradouros se avista. Belo e misterioso.

Soam novamente os sinos, lembrando que longe, muito longe, num pequeno ponto entre o céu e o mar, onde a beleza habita, aí fica São Miguel.

Procuro em mim mesma a visão dos Açores a partir do mundo e o que tenho são doces lembranças, tão doces quanto os tradicionais doces...

Quando pela primeira vez escrevi sobre os Açores, mais precisamente sobre a ilha de São Miguel, as palavras foram ditadas pela emoção. Emoção de ter retornado às origens e descoberto a minha família açoriana. Emoção de ter conhecido a terra da qual minha mãe contava histórias. Essa emoção era forte e vibrante.

Agora, com o passar do tempo, as lembranças são como um sonho suave que chama de volta ao passado.

E assim, com a imagem dos penhascos floridos do miradouro da Ponta do Sossego, o passado alinhava o presente.

Pão, vinho, igreja do Senhor Santo Cristo, Convento da Esperança, pedras negras, vento, chuva, sol. Palavras que expressam a minha lembrança as quais coloco no papel para, quem sabe, unir com coerência e formar uma bela história.

Não nasci nos Açores, mas no momento sinto como se assim fosse. Como se tivesse deixado a minha ilha e partido para terras distantes.

Para os que estão do lado de cá do oceano, não há como escrever sem ter como norte a palavra saudade. E é essa saudade, creio eu, que preserva a memória e a tradição de um povo. Quer seja na culinária, em fotografias, ou simplesmente contando aos filhos e netos, de geração em geração, histórias da terra distante onde o chão tremia e o mar era furioso e fascinante.

Tanto os que ficam como os que partem têm na alma a coragem e no coração a saudade. Os que partem têm coragem para enfrentar o desconhecido. Os que ficam, coragem para tentar construir um futuro sustentável, apesar do isolamento e das dificuldades. Sou descendente dos que partiram, dos que têm a saudade no coração. Dos que tentam preservar a memória e a tradição, estando dispersos pelo mundo.

No Brasil sei que existem colônias de açorianos em Florianópolis e no Rio Grande do Sul. No Rio de Janeiro não somos muitos.

Nós brasileiros, de um modo geral, não vemos os Açores como uma região autônoma e tão pouco como um arquipélago distante. Fala-se de Portugal de uma forma geral, é como se as ilhas fossem ali bem pertinho do continente. Não temos idéia do isolamento que faz com que cada ilha tenha suas próprias características, seu próprio sotaque. Inclusive eu, que só tive essa percepção quando visitei São Miguel.

Creio ser muito interessante o intercambio e parabenizo o Mundo Açoriano, que no momento em que completa três anos, nos dá de presente a oportunidade de participar desse intercambio e compartilhar a nossa emoção e opinião com tantos outros ao redor do mundo. Oportunidade de trazer ao Brasil um pouco da cultura açoriana.

Assim é minha relação com os Açores, com a minha ilha de São Miguel. Uma relação de amor, saudade e dualidade. Metade Brasil, metade Açores. Talvez não me acostumasse a viver no ritmo lento e no silêncio das ruas desertas da Ribeira Grande. Provavelmente estaria angustiada ao sentir-me isolada no oceano, sobre um vulcão...

Mas em certos momentos em que a alma pede calma, adoraria estar ouvindo o silêncio da Lagoa do Fogo ou apenas olhando o mar em um dos miradouros do nordeste e sentindo, paradoxalmente, uma imensa saudade do meu Brasil.

MARGARETH MEDEIROS RUFINO

Farmacêutica

Natural do Rio de Janeiro, onde reside (filha de mãe micaelense)

Fonte: Mundo Açoriano

2 comentários:

  1. Gostei imensamente de ver o texto que escrevi, publicado e com ilustrações tão bonitas.

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  2. muito bem elaborado o texto, parabéns

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