Os investigadores Filipe Teles e Patricia Silva |
Seis anos depois da
aprovação do estatuto das entidades intermunicipais, um estudo da Universidade
de Aveiro (UA) sugere que as comunidades intermunicipais “cumpriram amplamente
o seu objetivo” de aproximar municípios com vistas à resolução de problemas
comuns. No entanto, por concretizar, estão as expectativas das comunidades
intermunicipais que há seis anos julgavam quer iriam conseguir mais financiamentos
do que aqueles que até agora conseguiram. Às comunidades intermunicipais falta
ainda envolver outros atores regionais e cidadãos.
O estudo parte de um
inquérito às comunidades intermunicipais do território continental, incluindo
as Áreas Metropolitanas de Lisboa e Porto, nas quais todos os 278 concelhos se
encontram representados.
“As associações
intermunicipais cumpriram amplamente o objetivo de estimular a aprendizagem
mútua entre municípios e de permitir aos municípios obter ganhos de escala,
isto é, os municípios passaram a cooperar para resolver problemas que
ultrapassam as fronteiras dos municípios individuais”, aponta a investigadora
Patrícia Silva, politóloga e investigadora do Departamento de Ciências Sociais,
Políticas e do Território (DCSPT) e da
Unidade de Investigação Governança, Competitividade e Políticas Públicas
(GOVCOOP) da UA.
A autora do trabalho, a par
de Filipe Teles e Joana Ferreira, também da UA, diz que “esta capacidade de
cooperar – e até a vontade expressa de alargar formas de cooperação
intermunicipal a outras arenas – sugere sinais muito positivos”, sobretudo
quando se pensa que “o contexto português foi durante muito tempo caracterizado
por rivalidades entre os municípios, com escassa vontade de cooperar e que, em
larga medida, a pertença às comunidades intermunicipais foi imposta aos
municípios”.
Exceções à regra
A única exceção a este
cenário parece ser a perceção quanto à capacidade de as associações obterem
fundos comunitários. Se, por um lado, descreve Patrícia Silva, “tal pode estar
relacionado com as elevadas expectativas (e necessidade!) dos municípios
relativamente à diversificação das fontes de financiamento para assegurar os
projetos municipais e intermunicipais”, por outro lado “a obtenção de fundos
depende muito da capacidade de interação com outros níveis de governação e,
naturalmente, das oportunidades de financiamento”. Por isso, sublinha a
investigadora, “não se trata de uma dimensão que dependa exclusivamente do
compromisso dos municípios para com os projetos intermunicipais”.
A investigação chama ainda a
atenção para as questões de legitimidade das comunidades intermunicipais que “é
indireta, na medida em que os membros e, naturalmente, o presidente não são
escolhidos diretamente pelos cidadãos”. Os eleitores escolhem ‘apenas’ os
representantes dos municípios nas Eleições Autárquicas e são estes que estão
representados na assembleia intermunicipal e no conselho executivo das
Comunidades intermunicipais. Pelo menos parcialmente, aponta Patrícia Silva,
“esta questão ajuda a explicar o pouco interesse dos cidadãos relativamente às
atividades das Comunidades intermunicipais”.
A única exceção identificada
é o caso das empresas da região que “têm revelado maior interesse pelas
atividades das comunidades do que revelam pelas atividades dos seus
municípios”.
Para além das questões de
legitimidade que o estudo refere, “esta incapacidade de envolver outros atores
pode limitar a capacidade das comunidades intermunicipais de mobilizar outros
recursos e outras competências e capacidades que as regiões têm”. Além disso,
“a capacidade de envolver e de obter consensos com outros atores (políticos,
empresariais, da academia, etc.) também poderia ser uma forma de evitar a
duplicação de funções e, muitas vezes, de estruturas”.
O trabalho do DCSPT da UA
procurou analisar a capacidade de governação das comunidades intermunicipais,
considerando cinco dimensões
específicas: âmbito de cooperação (motivos para a cooperação e áreas de
intervenção); o compromisso dos municípios e o seu contributo para os objetivos
da comunidade; a sua arquitetura (em termos de número de funcionários e
financiamento), democracia (a forma como as comunidades se relacionam com os
cidadãos e com outros atores regionais) e estabilidade (considerando a perceção dos benefícios da
cooperação, a capacidade de tomada de decisões e a vontade expressa dos
municípios de alargar o âmbito de cooperação a outras áreas).
Investigação da Universidade de Aveiro
Povoação,
terça-feira, 19 de fevereiro de 2019
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