Com
alguém falei da Ti Maria varre a casa deixa o pó, esta conversa caricata foi
regresso ao passado quando vivi em Santo Antão, Vila do Porto, na encantadora
ilha de Stª Maria.
De
quando em vez entrava de faxina vassourando tudo o que era canto e não só,
quanto a móveis e objectos expostos para não estarem sós tinham sempre um fiel
companheiro o amigo pó…
Chamava-me
a atenção minha mãe:
- Benjamim
o pó é tanto que dá para escrevermos letras, algarismos.
Que bom
assim poupamos tinta e papel…lá pegava num pincel e passava-o por aqui e por
ali à volta da tarecada de quando em quando tiravam o curso de pára-quedismo
surgia a operação stop sempre que o pincel não passava, entrava de serviço dois
ou três sopros valentes saídos da minha bocarra atirando o pó para o outro lado
quantas vezes entrava-me nas narinas e lá saiam dois ou três espirros…Lá
exclamava a minha mãe: - Deus te ajude! Deus te ajude!
Retorquia
Deus tem mais que fazer pra vir pra aqui limpar o pó.
Louvado
seja Deus estás cada vez mais tarouco; onde é que já se viu limpar o pó assim…
Azedo
respondi aprendi em tudo o vento levou …Tens razão disse a minha mãe o mesmo
vento que te levou a nota de vinte escudos quando rapazinho foste à padaria
comprar pão.
Retorqui
Stº António é que teve a culpa fartei-me de o procurar por todo o lado e ele
não me apareceu nem me ligou; quando me deste a sova por o ter abandonado
quando ele é que se desenfiou das minhas mãos…hei cabeça louca! Mais
respeitinho com os santinhos ouviste?
Ouvi
minha senhora…Como a vida dá tanta volta eu martelo o teclado da velha máquina
num vaivém de recordações que possam provocar sorrisos sem cócegas se não
sorrir hoje sorria depois de amanhã eu gosto de gente sorridente.
Não
deixes para amanhã o que possas dizer hoje…a vida é tão breve que perdemos
tempo a limpar poeira e depois será pázadas de terra sobre o esqueleto…Credo
que macabro dirão alguns!
Para que
não fiques a tremer com o normal da vida deixo algumas quadras escritas para a
revista em dois actos da autoria de José Maria Lopes de Araújo (pai) revista
esta estreada em 59 no Atlântida Cine Aeroporto de Stª Maria.
Dizem que eu tenho língua afiada
Que trabalho melhor de tesoura
Eu não posso ter boca calada
Que isto está tudo a pedir
vassoura
Estrilho…vassourinha! Vassoura
querida!
Contigo ganho a porca da vida!
Vassourinha! Vassoura adorada!
Dizes tudo sem eu dizer nada!
Quantas vezes me sinto bem triste
Sem vontade de nada fazer
Pois a pior porcaria que existe
È a que não me deixam varrer!
É bom
termos Doutores e Professores mas o melhor é gente que trabalhe! Merecem a
nossa consideração os que recolhem o lixo, os que nos limpam as nossas ruas e
quanto cidadão que colabore pelo bem comum, não esqueço os bombeiros,
escuteiros e pescadores, etc, etc…
Cala-te
boca senão levas bordoada…! Ou como diz a nossa gente…Quem diz a verdade não
janta cá.
Brevemente
teremos festa e temporariamente “vestimos o manto da santidade” que em nós não
se ajeita; como o camaleão que muda de cor assim usamos a “máscara da
hipocrisia” infelizmente dura trezentos e sessenta e cinco dias e assim a vamos
mantendo com pouca ou muita pintura ano após ano.
Se choco
alguém me desculpo, sepulcro serei quando morrer…Estou vivo! Grito, barafusto!
O vento passa e volta sempre, eu não sei se voltarei …Só Deus o sabe o Sr. da
verdade….
BENJAMIM CARMO
Povoação, terça-feira, 27 de junho de 2017.
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