Sou
um velho casarão povoado de fantasmas e teias de aranhas parasitas, amontoado
de poeira que me sufoca procuro arejar o cérebro não existe ventilação que me
valha. Sou autómato. Boneco articulado meus gestos e dizeres se repetem sou
velho disco riscado colocado no gramofone repetindo a lenga lenga de sempre,
sou tronco carunchoso ressequido braços aberto na berma do caminho numa prece
indefinida a espera de libertação que tarda em chegar. Viver por viver, utopia
vegeto erva daninha esmagada por presente e passado triste que a madrasta
natureza doou. Assim é na passarele todos temos um pouco o deserdado.
Vive na solidão ligado a grilhões, dor,
um sorriso, ganas de chorar, gritar, carinho amizade no sulco da terra de todas
as cores todas as raças e contradições do homem da mulher vicitudes-virtudes
encontro olhar benévolo, que aponte caminho de redenção de perdão semente de
esperança renascida alma convertida. A dor, a fiel companheira não se afasta
com ligeira brisa se faulha. Pudera ser arvore frondosa ramificada de verde folhagem
oxigénio de corpo e alma, abrigo de pária – marginalizado de quanto está
cansado encontre vida no bramir do vento na fragância da brisa que abraça
acarinha, ouvir sentir a maresia esculpida de luar, estender os braços com as
mãos colher estrelas adornar-se com perolas de orvalho para o Divino Pai ouço o
vem até mim, vem, vem, vem meu amor. Não tem fim, não tem fim. É Amor! É Amor!
Benjamim
Carmo
Povoação,
terça-feira, 13 de Junho de 2017.
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