Dr. Miguel Leão |
Esclerose tuberosa:
diagnóstico precisa-se!
A
esclerose tuberosa (ET) é uma doença genética resultante de mutações do ADN que
podem envolver dois genes (TSC1 e TSC2). As manifestações clínicas são muito
variáveis, mas podem atingir qualquer órgão ou sistema. Os achados mais comuns
são a ocorrência de tumores benignos na pele, cérebro, rins, pulmões e coração
que condicionam a função dos órgãos atingidos. Os estudos recentes estimam que
existam cerca de 1600 doentes com esclerose tuberosa em Portugal. É uma doença
genética autossómica dominante, com expressão clínica variável, mas com
penetração completa que pode ser causada por mutações num dos dois genes: TSC1
e TSC2.
Doença
autossómica dominante significa, em termos práticos, que o risco de um doente
com ET ter um filho com a mesma doença é de 50%. Penetração completa significa
que sempre que um doente apresenta uma mutação num dos genes (TSC1 ou TSC2) irá
apresentar sinais e sintomas da doença, apesar de estes poderem ser muito
diversos (expressão clínica variável).
No
caso da ET, cerca de dois terços dos casos resultam de mutações "de
novo", isto é, em cerca de dois terços dos doentes não existe ET em nenhum
dos progenitores. Como resulta óbvio, em cerca de um terço dos doentes com ET
um dos progenitores apresenta a doença.
Nos
casos em que são encontradas mutações, 24% são mutações do gene do gene TSC1 e
66% do gene TSC2.
Em
regra, os casos mais graves de ET (risco acrescido de deficiência intelectual,
de autismo e de linfangioleiomiomatose) são causados por mutações no gene TSC2.
O
diagnóstico de esclerose tuberosa pode ser definitivo ou possível e ser
realizado segundo critérios genéticos ou clínicos. É suficiente para o
diagnóstico definitivo a identificações de mutações patogénicas num dos genes
conhecidos TSC1(Tuberous Sclerosis Complex 1) e TSC2 (Tuberous Sclerosis
Complex 2). Deve, contudo, salientar-se que em cerca de 10 a 25% dos casos que
cumprem critérios clínicos de diagnóstico não são identificadas mutações quando
são usados métodos de investigação convencionais. O diagnóstico definitivo pode
ser também estabelecido quando um doente apresenta 2 critérios major ou 1 major
e 2 minor, reservando-se a designação de diagnóstico possível quando o doente
apresenta apenas 1 critério major e 2 ou mais critérios minor. Na criança, uma
das manifestações mais frequentes são os espasmos infantis.
Cerca
de 80% dos doentes com ET tem epilepsia e 50% dos doentes apresentam atraso de
desenvolvimento ou deficiência intelectual. Entre as principais causas de morte
estão o estado de mal epilético e a pneumonia de aspiração, que resultam, em
cerca de 33% dos casos, de deficiência mental profunda. Um terço das crianças
com esta patologia apresentam dificuldades de aprendizagem, uma situação que
está, claramente, relacionada com a ocorrência de espasmos infantis ou de um
mau controlo de crises epilépticas.
A
doença renal associada a ET é a segunda causa de morte prematura (27,5%) logo a
seguir à deficiência intelectual profunda.
É
uma doença que necessita de uma abordagem multidisciplinar a ser realizada em
unidades com casuística adequada à aquisição de competências no diagnóstico,
tratamento e aconselhamento genético. É neste contexto que deve equacionada a
realização de tratamentos promissores e específicos para a ET hoje já
disponíveis, mas cuja aplicação deve estar sujeita a intervenção médica
especializada e com experiência adequada.
A
esclerose tuberosa ainda é uma doença, claramente, subdiagnosticada em Portugal
e no mundo e é cada vez mais importante disponibilizar informação sobre esta
doença junto da comunidade médica e da população.
Artigo de Miguel
Leão, Neuropediatria e Geneticista do Centro Hospitalar de São João
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