Palavras
leva-as o vento, mas dentro em nós fica o eco, o pensamento, de quando em vês
recordamos algo bom ou menos bom que apreciamos.
Amadurecido
p’la vida faço vindima de meus sonhos e esta quadra tão desejada, tão querida
traz-me o doce amargo que irrompe da penumbra da saudade; é o passado que
persiste em estar presente.
Quanta
simplicidade a poetizar a quadra natalícia que tanto nos fala ao coração.
Vejo-me criança com os meus queridos pais e irmãos que me ensinaram a viver
outros natais – sou um menino perdido no tempo, que sonha e tem esperança que a
paz que Jesus nos oferece anda por aí algures no coração do homem de boa
vontade, o homem e a mulher que Deus ama.
Não
deixemos extinguir a esperança, é luz em nossa vida, é estrela a guiar-nos a
caminho de Belém como os Reis Magos à procura do Menino do Salvador – na Belém
da nossa Freguesia, Vila ou Cidade encontremos o Menino, a Salvação ao abrirmos
o coração ao amor.
Na
velha casa onde vivo, tear de ternura, abrigo da minha solidão e saudade,
repassa imagens d’outros Natais, plenos de sonho e amor no seio familiar, e não
só. Recordo com um misto de alegria e tristeza a infância longínqua impregnada
do amor de pessoas queridas com olhos embaciados; vejo rostos luminosos ou
enrugados, mas sempre belos em porta-retratos colocados sobre móveis e paredes,
nestas penduravam minha avó e minha mãe Ramos naturais dispersos de cedro,
funcho, laranjeira e tangerina com frutos deliciosos e aromatizados a dar um ar
de festa – Do pinhal coração trazia meu pai o verde pinho que minha mãe com
ternura espalhava e enfeitava o térreo chão. Estou vendo o Menino Jesus com seu
sorriso benévolo em minúsculo trono, protegido pela redoma na velha cómoda
enfeitada com trigo, ervilhaca e camélias como era moda. Nos dias de festa
almoço e ceia era melhorada uma boa sopa, cozido de carne, chouriço, morcela,
com batata em abundância, doce e inglesa, e toucinho e outras iguarias. Comíamos
como “o abade”, todos os derivados oriundos da terra e do porco, que dias antes
fora abatido na festa dos porcos, se assim não acontecia, matava a mãe uma ou
duas galinhas velhas, não poedeiras, os ovos eram necessários para a
alimentação e para troca por troca de produtos na velha mercearia.
É
tradicional o peditório para o Menino Jesus na Lomba do Loução e Alcaide, nesta
última baterem à porta do Senhor X, que abrindo-a sorridente disse – Ó mulher
trás a galinha, que é esgravatadeira, que só faz mal ao quintal da vizinha.
Pressurosa
e presenteira lá trouxe a mulher a galinha que a caraquejar um ovo pôs. Entre
gracejos e sorrisos, de mão para mão, na Lomba, andou a passear a galinha que
ao leilão foi parar e bom dinheiro “ganhou”, que reverteu para a igreja.
Na
noite de Natal antes de irmos para a missa do galo ceamos na mesa da cozinha e
partilhamos o alimento com a vizinha num ambiente quente p’lo amor e lareira
acesa, onde não colocava o sapatinho por não os possuir. Naquela noite antes de
irmos à missa do galo contou minha avó a história do nascimento de Jesus.
José
e Maria saíram de Nazaré a fim de recensear-se em Belém. Nossa Senhora por
estar grávida ia montada num burrinho e São José a pé. Ao chegarem à hospedaria
não havia lugar para eles, bateu José de porta em porta a pedir abrigo, abrindo
porta, janela ou postigo amargo, não lhes davam. Encontraram eles uma gruta
abrigo de animais e conformados ali se acolheram sendo a gruta escura e frias,
foi São José à cidade pedir um tição de lume para fazer uma fogueira. Ao chegar
José já Jesus tinha nascido. Enrolou-o Maria em panos deitando-o numa
manjedoura, o burrinho e uma vaca, que ali estava, com o bafo aqueceram o
menino que sorria comos bracinhos abertos.
Os
pastores que andavam pelos arredores foram surpreendidos por uma grande luz e
ficaram deslumbrados e os anjos cantaram Glória a Deus nas alturas e paz na
terra aos homens de boa vontade. Foram os pastores adorar o Menino e depois
deram a boa nova a toda a gente que o menino Jesus foram ver; dias depois
vieram os reis magos guiados por uma estrela e ofereceram ao Menino incenso,
oiro e mirra.
Começou
a minha avó a bocejar e logo depois a dormitar e o resto da história não contou
e nós fomos à missa do galo onde vimos o presépio e cantando beijei o Menino, e
uma palhinha doirada da manjedoura do menino trouxe para casa – um pouco depois
deitei-me, sonhei e vi o arco-íris com Jesus, José e Nossa Senhora. Pela manhã
ao acordar a meu lado encontrei uma pequenina cesta feita de palha cheia de
figos passados e dei alguns à minha avó; ela esta quadra me ensinou.
A
virgem Maria foi fecundada
P’la
divina graça
Entrou
e saiu nela
Como
e sol p’la vidraça
Um santo
Natal com Jesus no Coração.
O poeta e assim que considero o meu tio Bemjamin.Lindo.
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