In, Jornal Correio
dos Açores, 30 de Janeiro de 2015
Carlos
Ávila, presidente da Câmara Municipal da Povoação eleito pelo PS/Açores
“Com oito milhões de euros (Plano das
Furnas) nós teríamos feito um melhor trabalho na massa de água na Lagoa das
Furnas do que foi feito até hoje. (…) O relatório de avaliação da Lagoa das
Furnas é pobre do ponto de vista técnico. Apesar de eles virem dizer que
trabalharam muito, mas eu digo que vocês não sabem como é que se trabalha”.
Esteve
mal o Senhor Presidente da Câmara Municipal da Povoação nas declarações
proferidas hoje (anteontem) numa cerimónia pública de apresentação dos
resultados da implementação do Plano Especial da Bacia Hidrográfica das Furnas,
pois não conhece o trabalho realizado ao longo destes últimos dez anos. Senão
vejamos, só a aquisição dos terrenos, cerca de 300 hectares, foram um investimento
de aproximadamente sete milhões de euros. Para além disso, fizeram-se bacias de
retenção de caudal sólido para evitar a entrada de nutrientes na bacia. Tive o
gosto de liderar uma equipa de gente trabalhadora, tecnicamente competente e
estas afirmações constituem um insulto a quem lá trabalhou e trabalha. Eu, em
particular, sinto-me muito honrada pelo que aprendi e pelo trabalho que os
técnicos realizaram.
A
equipa da antiga Direcção Regional do Ordenamento do Território, os Recursos
Hídricos e os funcionários da Azorina, anterior SPRA Açores implementaram o Plano
que foi objecto de discussão pública e aprovado pelos órgãos de gestão local. A
florestação daquele vasto território levada a cabo sobre a coordenação do
engenheiro florestal, Miguel Ferreira, pode hoje ser visitada e constituiu o
orgulho dos muitos que se associaram aquele projecto que tem vindo a merecer
destaque em concursos internacionais de boas práticas de intervenção. Muito
poderia dizer sobre o que a história se encarregará de fazer justiça. Cá estou,
humildemente, para conduzir numa visita guiada o Senhor Presidente da Câmara da
Povoação à zona de intervenção e verificar, in loco, o que se fez e o que se está
a fazer, nomeadamente uma visita aos terrenos adquiridos e, entretanto,
valorizados. A natureza levará muitos anos a reparar os erros cometidos durante
algumas décadas. O povo das Furnas saberá julgar porque acompanhou todo o
processo. É fácil hoje chegar lá e dizer que fazia melhor!
Enquanto
por lá andei nunca tive o gosto de constatar a presença de tão ilustre pessoa,
nem sequer pedidos de esclarecimento ou opinião. Lamento muito o que ouvi e
faço aqui um apelo aos que lá trabalham para não desistirem de continuar a
abraçar as causas em que acreditam e lutam todos os dias. Falei nos últimos
minutos com alguns desses intervenientes senti a tristeza pelo descrédito do seu
trabalho. É triste! Deixo uma frase que me habituei a usar nas minhas aulas “
só se preserva o que verdadeiramente se conhece e ama”. Peço-vos que sejam
guardiões desse santuário, pois as gerações vindouras hão-de apreciá-lo...bem
hajam e contem sempre, mas sempre com a minha solidariedade, admiração e
respeito.
Reacção
da Dr.ª Ana Paula Marques a algumas manifestações de apoio ao seu texto na sua página
do Facebook: - Caros amigos, como sabem, o que não me falta é sentido de
justiça e sempre detestei a ignorância. Não a desculpo nem aos do meu partido
nem aos outros e gosto de respeitar o trabalho. Fui assim educada por um homem que
não tinha muita instrução, mas ensinou-me a aceitar a crítica e a exercê-la
quando é necessário. Neste caso em particular não me calo, pelo respeito e
admiração que tenho pelos profissionais daquele departamento do governo. Ainda
me lembro do dia em que recebi com determinação e sentido de responsabilidade a
ordem do Senhor Presidente do Governo para adquirir aqueles terrenos. As margens
da Lagoa estavam a ficar azuis, tal era a carga de poluição e nesse dia saí de
lá alagada até ao joelho e lembro-me dos que lá estavam comigo, e dos homens
alagados em lama e a suportarem um cheiro nauseabundo. Nesse dia notei a
ausência do Senhor Dr. Carlos Ávila. Também quero aqui deixar testemunho do papel
determinante do Secretário Regional da Agricultura e Florestas, Dr. Noé Rodrigues,
pelo apoio e ajuda neste processo difícil mas vencedor. O mesmo posso dizer do
Presidente da Associação Agrícola, o senhor Jorge Rita no apoio incondicional à
resolução deste assunto. A Lagoa das Furnas não será um pântano como
aconteceria se esta decisão não fosse tomada.
“Este
senhor não me ofendeu. Maltratou, sim, os funcionários”, palavras de Ana Paula
Marques quando pedimos autorização para publicar o seu texto no ‘Correio dos
Açores’.
*ex-Secretária
Regional do Ambiente de um dos Governos Regionais do PS Texto publicado na sua
página do Facebook
Sem comentários:
Enviar um comentário