Sobrevoava
as ilhas o milhafre é amor à primeira vista, por elas se enamora por ter alma
açoriana, enfeitiçado fica com a beleza e encantos o azul verde-mar que nos
rochedos se esbate. Ilha bela, sereia deitada ao sol adornada de espuma
rendilhada de búzios, corais e algas. Vai à festa, faz festa rija e cora de
prazer vendo o Deus Apolo banhar-se rendido a seus pés. Deslumbrada anda com a
brisa amiga por caminhos e atalhos, comem amoras silvestres, caminham em ondas
de azul e branco das hortenses a matizar paisagens de encanto.
Na
densa vegetação verde, o doirado das rocas floridas, retângulos e quadrados
lavrados entre a mata e a relva são enorme manta de retalhos.
Casas
dispersas ou aglomeradas de cores garridas, rosas do Japão, azálias floridas,
árvores exóticas, um mundo de sonho. Sonhamos, todos temos voz e gritamos como
o milhafre neste espaço fechado de céu e mar, bruxaria ou não entre fumarolas
ferve a água no chão.
Arrenega
pra lá Santanás. Quero viver no paraíso como Adão e Eva.
Deus
me dê juízo. Com fios de luar de noites de lua cheia fiam as fiandeiras roupa
para as bailadeiras fascinarem os namorados com encantos de feiticeiras;
Andam
por aí caminheiros entre brumas com estranho vestuário como se fossem aves de
rapina em cajados apoiados. Bradando Avé Maria ao sol, chuva ao vento, lamentos
de cataclismo de séculos de esperança e medo de noites perdidas nestas ilhas.
Cais de partida ou chegada como o milhafre grito onde quer que esteja sou
açoriano com o cais dentro em mim grito – Sou Açoriano…
Cais de Partida e
Chegada
Nasci
à beira mar
Numa
pequena casa singela
Com
uma porta e janela
Com
o mar a me embalar
Adormecia
ouvindo sua toada
Sonhos
lindos eu sonhei
Sem
partir aqui fiquei
Neste
mar, e terra abençoada
Vi
as gaivotas a voar
Mítica
sereia me cantava
Para
lá do horizonte olhava
Chorava,
vinha o mar me abraçar
Lágrimas
minhas são salgadas
De
saudades são meus pais
Nossas
ilhas são cais
De
partidas e chegadas
Sou
ave de arribação
Miragem
de sonho e neblina
Grito
de vento em surdina
Maresia
de nostalgia e solidão
Benjamim
do Carmo
Povoação,
quarta-feira, 5 de abril de 2017.
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