"Criado
pela força da Natureza no período da formação desta ilha, e talvez modificado
por outras razões antes destas ilhas serem conhecidas, o litoral da Ribeira
Quente e suas encostas altaneiras, quando formado povoado não o foi por
quaisquer pescadores.
A sua história - esta história que está a ser
contada - tem fundamentalmente outra origem.
Segundo Gaspar Fructuoso no seu tempo e antes
dele, aquele primitivo e mirífico lugar de encostas irregulares que se veio a
chamar de Ribeira Quente, já não era virgem. Era sim um lugar onde nasceram
algumas fajãs e existia uma longa praia que era utilizada pelos principais da
terra, incluindo sacerdotes e outros religiosos, assim como nobres
estrangeiros.
Esta classe de veraneantes e utentes da praia
e das deliciosas águas térmicas - as da ribeira, as do fundo do mar e as da
pequena casacata que nasce sobre a praia na zona da denominada "Rocha
Secreta" - era, sem dúvida, uma classe social não miscível com gente de
rude trabalho.
Porém, pôs um não longo interregno nos usos e
costumes dessa classe privilegiada ou seus descendentes, porque podemos
cerificar por dados já citados, que as fajãs tornaram a nascer em melhor
qualidade e quantidade e, os veraneantes por isso voltaram.
Historicamente falando, a comunidade piscatória
desta localidade só aparece superficialmente nos dados colhidos, passados que
eram 160 anos.
Isto é: o predestinado lugar onde existia uma
ribeira de águas mornas e praia amena, voltou a ser aquilo que já era
anteriormente.
Porque Deus e a Natureza assim o destinaram,
pela terceira vez volta a Ribeira Quente a entrar numa nova fase desse destino.
Os habituais veraneantes das Furnas
continuavam a procurar, no estio, a amena Praia do Fogo, ao mesmo tempo que
outros também o faziam.
A propalação da riqueza das suas areias então
limpas e temperadas devido à fenomenal vida vulcânica que só se sente sob os
pés dos banhistas quando estes metidos no mar, (na zona nascente do fundo mar),
veio a contribuir para que, pela terceira vez na sua história, a Ribeira Quente
entrasse no porquê da razão da sua existência como lugar sossegado e ameno,
mais vocacionada para o turismo sazão do que para terra de homens do mar.
No começo da década de setenta do passado
século já existia uma casa de veraneio alcandorada no princípio das rochas da
falésia do atalho da Ponta do Garajau, pertencente à família Franco, velha
proprietária de toda a vertente poente do lado da Ribeira do Agrião.
Por volta de 1972, uma família Viveiros de
Ponta Delgada, compra na 1.ª Canada José Cruz uma das casas abandonadas por uma
família emigrante e, logo depois, um familiar desta compra uma segunda mais
acima, na parte poente da igreja. Ainda hoje esta propriedade é identificada
com a "CASA DA SENHORA DE LISBOA".
Também aqui na Ribeira Quente, o fenómeno da
aquisição de casas deixadas por quem, já há muito, as tinha abandonado por
necessidades de sobrevivência, foi acontecendo muito lentamente.
Mas foi a década de oitenta do século XX, mais
verdadeiramente a sua segunda metade, que veio revolucionar a vida de veraneio
neste povoado.
As modestíssimas habitações passaram a ser
procuradas e compradas por preços até exorbitantes; algumas eram adquiridas só
pelo espaço que ocupavam, e onde eram erectas outras habitações apropriadas
para fins de veraneio. Devido à falta de espaço para o estacionamento dos
carros dos novos proprietários e banhistas, então já considerados muitos para
tão pequeno espaço, o município da Povoação, com dinheiros comunitários, fez
alguns parques de estacionamento sobre a Ponta da Golfeira, que só é conhecida
como Ponta do Fogo, enriquecendo toda aquela zona balneária.
Este então grande empreendimento, ao tempo
assim considerado, teve início depois do primeiro curso de artífices, designado
por F.S.T.S.R.T., que havia começado nas Furnas a 3 de Janeiro de 1987, cujo um
dos seus monitores, o de pedreiros, passou simultaneamente a desempenhar essa
missão de ensino, ao mesmo tempo que ia construindo a actual muralha da Praia
do Fogo, a escada de acesso à praia e os seus balneários mistos, ao cimo, isto
já em 1988.
João Costa Bril |
Foram Fundos Comunitários que deram origem a
este então grande empreendimento, porque 85% do seu custo foi de origem
comunitária. (O Municipio da Povoação custeou, por norma, os outros 15
%)".
Por: João Costa Bril
Povoação,
quinta-feira, 27 de setembro de 2018.
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