Foto de: Pedro Monteiro |
A
Exposição fotográfica sobre Vasco Bensaude, inaugurada com o título da
Cinofilia à Caça pode ser vista nas instalações do Clube Desportivo de Tiro de
São Miguel. Esta mostra é constituída por 16 expositores com fotos e artigos
sobre o importante papel de Vasco Bensaude na recuperação do cão de água
português e do perdigueiro português, incluindo a sua participação nos anos 30
como secretário geral do clube de caçadores portugueses.
São
ainda apresentadas 40 fotos de expedições cinegéticas à Ilha de São Jorge e no
Continente Português nos anos 30 do século passado, e que são um documento
extraordinário do ponto de vista venatório e etnográfico. Esta Exposição é também
um hino ao papel imprescindível dos cães de caça no ato venatório, podendo
serem observadas oito raças de cães. A preocupação em garantir a
sustentabilidade da caça é uma nota dominante em toda a Exposição.
Estiveram
presentes nesta inauguração, o Secretário Regional da Agricultura os
Presidentes das Câmaras Municipais da Ribeira Grande, do Nordeste e de Ponta
Delgada, Patricia Bensaúde Fernandes, filha de Vasco Bensaude, e muitos
caçadores da Associação Micaelense de Caça, do Clube de Caçadores de Vila
Franca do Campo, e membros do Clube Desportivo de Tiro de São Miguel. Fizeram
questão de também marcar presença muitos não caçadores que quiseram associar-se
a esta Homenagem a Vasco Bensaude.
Na
concretização desta mostra tiveram um papel determinante o fotógrafo Pedro
Monteiro na recuperação do material fotográfico, Paulo do Clube de Tiro na sua
montagem, e Gualter Furtado na ordenação das fotos e coordenação da Exposição,
que poderá ser visitada durante um mês, todas as tardes, com excepção da segunda
feira.
A
Exposição teve um momento musical na viola com Ricardo Melo e na guitarra com
Alfredo Gago da Câmara que musicou e cantou o Fado dos Caçadores, cuja letra é
da autoria de Gualter Furtado.
Na
hora dos discursos, Gualter Furtado disse recordar “com emoção de nos anos
sessenta estar na margem da Lagoa das Furnas, com apenas 10 anos de idade, ver
atiradores deste Clube a atirar aos pratos vestidos a rigor e com armas que
ainda hoje recorda. Depois, estes atiradores, integravam alguns americanos com
cartuchos de plástico que não tinham nada a ver com os nossos de papelão, que
nem as latas de azeite que utilizávamos para colocar os cartuchos, e o calor
dos fogões de lenha protegiam da humidade, a tal ponto de termos sempre no
bolso um auxiliar de metal com um buraco para calibrarmos os cartuchos de
papelão sempre inchados e assim poderem ser municiados nas velhinhas
espingardas paralelas que tínhamos, como a Lagoas, a Saint-Étienne e a
Liegeoise. Como parece tão longe este tempo. Como nota Histórica refiro que
este Clube nasceu no Vale das Furnas em 1954 e tendo como campo a então
magnífica lagoa das Furnas”, disse.
Gualter
Furtado agradeceu o empenho da Associação Micaelense de Caça e ao Clube de
Caçadores de Vila Franca do Campo “por se terem associado a esta Exposição e
Homenagem ao Senhor Vasco Bensaude.
Foto de: Pedro Monteiro |
A
vossa presença é o reconhecimento que a caça e os caçadores dos Açores foram na
história dos Açores uma parte ativa, responsável e importante no seu
Desenvolvimento, e que melhor exemplo foi o de Vasco Bensaude. O meu
agradecimento à filha do Senhor Vasco Bensaude, D.ª Patrícia Bensaude Fernandes
por ter partilhado comigo as fitas com os negativos de seu Pai e cujo tema
central é a caça. Estes rolos de fotografias têm cerca de 80 anos. “Vasco
Bensaude (1896-1967) foi um conhecido industrial, comerciante e gestor em
Portugal e nos Açores. A sua relevância na Génese do que é hoje o Grupo
Bensaude é bem conhecida, como é conhecido o contributo deste Grupo para o
Desenvolvimento dos Açores, mas o papel de Vasco Bensaude, e mesmo entusiasmo,
na Cinofilia, Canicultura e na Caça é praticamente desconhecido, principalmente
nos Açores, razão porque decidimos avançar para esta Exposição e que deve ser
analisada no contexto dos anos 30 e não avaliada com critérios e conceitos dos
dias de hoje. Esta exposição é também a prova de que a caça nos Açores esteve
sempre num patamar ao nível do melhor que se praticava no resto do país, quando
não liderámos mesmo as mudanças que ocorreram em Portugal. As fotos referentes
à expedição nos anos 30 para uma caçada na Ilha de São Jorge são um documento
único daquela época, um testemunho das belezas da Ilha, valorização dos cães de
caça, importância da componente social e capacidade de organização de Vasco
Bensaude. Nesta Exposição é possível observarmos a presença de várias raças de
cães, como sejam o cão de água português, o perdigueiro português, o pointer, o
clumber spaniel, o cocker spaniel, o Springfield spaniel, o galgo, cruzados, e
um cão de porte muito pequeno de pelo longo que não consigo identificar.
Estamos perante um exemplo de que os caçadores que se prezam sabem tratar bem
os cães de caça, como se fossem e são seus companheiros”, realçou Gualter
Furtado.
Por
seu turno, Patrícia Bensaude agradeceu “em nome da família Bensaude, esta
iniciativa e a tão interessante exposição. Um especial agradecimento ao meu
amigo Gualter Furtado, sempre muito sensível a quem por estas ilhas se
interessou e empenhou e a elas se sentia profundamente ligado. No caso, acresce
que o meu pai foi, em jovem, um exímio caçador e, pela vida fora, um amante dos
animais e um apaixonado de canicultura. Assim o recordamos, eu própria e os
meus sobrinhos que ainda o conheceram.
Dentro
de dias passarão 51 anos da morte do meu pai, Vasco Bensaude, que deixa muitas
saudades na sua família e também em muitos que o conheceram ou que dele ouviram
falar. Por isso, também, um especial obrigado por esta homenagem”.
Patrícia
Bensaude recordou ainda que “nos primeiros anos do século XX, Vasco Bensaude
caçou patos bravos na Cova do Vapor, na margem sul do Tejo, ao tempo um lugar
isolado e um paraíso para as aves marinhas. Deslocava-se num iate silencioso
para não afugentar nem espantar os animais, na companhia dos seus bons amigos
caçadores. Com o mesmo entusiasmo, organizava as suas caçadas nos Açores, com
especial interesse pelas galinholas em São Jorge. Tudo muito bem documentado
aqui, nesta exposição.
A
paixão do meu pai pelos cães acompanhou-o ao longo da sua vida a ponto de
querer que um dos seus favoritos cães de água, o Tiki, fosse sepultado no
jardim do Pico do Salomão, bem perto de si. No seu escritório de Lisboa aonde
passava longas horas a projectar novas construções para o Pico do Salomão ou a
modificar as plantas do navio Funchal, sempre esteve rodeado de uma retrato de
Domingos Rebelo do seu cão favorito “Leão” e das taças e medalhas de prata,
ganhas nos concursos de canicultura, ano após ano e ali, perto de si, bem à
vista. Todos na família, o recordamos assim. Sobre os cães de água, já muito
foi aqui dito hoje e não vou adiantar nada mais.
Apenas
agradecer e realçar que os descendentes de Vasco Bensaude honram a sua memória,
como Pai e Avô querido. A par do seu legado empresarial que procuramos manter e
desenvolver, gostamos de o recordar como homem bom, sempre aberto sobre os
outros e sobre o mundo, amigo também dos animais como aqui é hoje recordado”,
rematou Patrícia Bensaude.
Já
o Secretário Regional da Agricultura e Florestas enalteceu o contributo que
Vasco Bensaúde, deu para o desenvolvimento da caça sustentável nos Açores e
para a promoção da raça portuguesa de cães de água.
Para
o governante açoriano, esta exposição fotográfica constitui “um importante
relato histórico e documental”, que foi possível à família Bensaude e ao
coordenador do evento e também caçador, Gualter Furtado.
João
Ponte destacou que o Governo dos Açores tem trabalhado “em estreita colaboração
com as associações agrícolas, de caçadores e ambientalistas para garantir que a
gestão dos recursos cinegéticos é feita de forma o mais sustentável possível,
com respeito pelos princípios da conservação da natureza e do equilíbrio
biológico”.
Nos
Açores existem cerca de 4.160 caçadores devidamente habilitados, sendo que 40%
estão na ilha de São Miguel.
N.C.
In
Jornal Correio dos Açores, 24 de julho de 2018.
Fotos de: Pedro Monteiro.
Povoação,
quarta-feira, 25, de julho de 2018.
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