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quarta-feira, 25 de julho de 2018

O PAPEL DE VASCO BENSAUDE NO DESENVOLVIMENTO DA CAÇA SUSTENTÁVEL NOS AÇORES E NA RECUPERAÇÃO DE DUAS RAÇAS DE CÃES VALORIZADO EM EXPOSIÇÃO

Foto de: Pedro Monteiro

A Exposição fotográfica sobre Vasco Bensaude, inaugurada com o título da Cinofilia à Caça pode ser vista nas instalações do Clube Desportivo de Tiro de São Miguel. Esta mostra é constituída por 16 expositores com fotos e artigos sobre o importante papel de Vasco Bensaude na recuperação do cão de água português e do perdigueiro português, incluindo a sua participação nos anos 30 como secretário geral do clube de caçadores portugueses.

São ainda apresentadas 40 fotos de expedições cinegéticas à Ilha de São Jorge e no Continente Português nos anos 30 do século passado, e que são um documento extraordinário do ponto de vista venatório e etnográfico. Esta Exposição é também um hino ao papel imprescindível dos cães de caça no ato venatório, podendo serem observadas oito raças de cães. A preocupação em garantir a sustentabilidade da caça é uma nota dominante em toda a Exposição.

Estiveram presentes nesta inauguração, o Secretário Regional da Agricultura os Presidentes das Câmaras Municipais da Ribeira Grande, do Nordeste e de Ponta Delgada, Patricia Bensaúde Fernandes, filha de Vasco Bensaude, e muitos caçadores da Associação Micaelense de Caça, do Clube de Caçadores de Vila Franca do Campo, e membros do Clube Desportivo de Tiro de São Miguel. Fizeram questão de também marcar presença muitos não caçadores que quiseram associar-se a esta Homenagem a Vasco Bensaude.

Na concretização desta mostra tiveram um papel determinante o fotógrafo Pedro Monteiro na recuperação do material fotográfico, Paulo do Clube de Tiro na sua montagem, e Gualter Furtado na ordenação das fotos e coordenação da Exposição, que poderá ser visitada durante um mês, todas as tardes, com excepção da segunda feira.

A Exposição teve um momento musical na viola com Ricardo Melo e na guitarra com Alfredo Gago da Câmara que musicou e cantou o Fado dos Caçadores, cuja letra é da autoria de Gualter Furtado.

Na hora dos discursos, Gualter Furtado disse recordar “com emoção de nos anos sessenta estar na margem da Lagoa das Furnas, com apenas 10 anos de idade, ver atiradores deste Clube a atirar aos pratos vestidos a rigor e com armas que ainda hoje recorda. Depois, estes atiradores, integravam alguns americanos com cartuchos de plástico que não tinham nada a ver com os nossos de papelão, que nem as latas de azeite que utilizávamos para colocar os cartuchos, e o calor dos fogões de lenha protegiam da humidade, a tal ponto de termos sempre no bolso um auxiliar de metal com um buraco para calibrarmos os cartuchos de papelão sempre inchados e assim poderem ser municiados nas velhinhas espingardas paralelas que tínhamos, como a Lagoas, a Saint-Étienne e a Liegeoise. Como parece tão longe este tempo. Como nota Histórica refiro que este Clube nasceu no Vale das Furnas em 1954 e tendo como campo a então magnífica lagoa das Furnas”, disse.

Gualter Furtado agradeceu o empenho da Associação Micaelense de Caça e ao Clube de Caçadores de Vila Franca do Campo “por se terem associado a esta Exposição e Homenagem ao Senhor Vasco Bensaude.

Foto de: Pedro Monteiro
A vossa presença é o reconhecimento que a caça e os caçadores dos Açores foram na história dos Açores uma parte ativa, responsável e importante no seu Desenvolvimento, e que melhor exemplo foi o de Vasco Bensaude. O meu agradecimento à filha do Senhor Vasco Bensaude, D.ª Patrícia Bensaude Fernandes por ter partilhado comigo as fitas com os negativos de seu Pai e cujo tema central é a caça. Estes rolos de fotografias têm cerca de 80 anos. “Vasco Bensaude (1896-1967) foi um conhecido industrial, comerciante e gestor em Portugal e nos Açores. A sua relevância na Génese do que é hoje o Grupo Bensaude é bem conhecida, como é conhecido o contributo deste Grupo para o Desenvolvimento dos Açores, mas o papel de Vasco Bensaude, e mesmo entusiasmo, na Cinofilia, Canicultura e na Caça é praticamente desconhecido, principalmente nos Açores, razão porque decidimos avançar para esta Exposição e que deve ser analisada no contexto dos anos 30 e não avaliada com critérios e conceitos dos dias de hoje. Esta exposição é também a prova de que a caça nos Açores esteve sempre num patamar ao nível do melhor que se praticava no resto do país, quando não liderámos mesmo as mudanças que ocorreram em Portugal. As fotos referentes à expedição nos anos 30 para uma caçada na Ilha de São Jorge são um documento único daquela época, um testemunho das belezas da Ilha, valorização dos cães de caça, importância da componente social e capacidade de organização de Vasco Bensaude. Nesta Exposição é possível observarmos a presença de várias raças de cães, como sejam o cão de água português, o perdigueiro português, o pointer, o clumber spaniel, o cocker spaniel, o Springfield spaniel, o galgo, cruzados, e um cão de porte muito pequeno de pelo longo que não consigo identificar. Estamos perante um exemplo de que os caçadores que se prezam sabem tratar bem os cães de caça, como se fossem e são seus companheiros”, realçou Gualter Furtado.

Por seu turno, Patrícia Bensaude agradeceu “em nome da família Bensaude, esta iniciativa e a tão interessante exposição. Um especial agradecimento ao meu amigo Gualter Furtado, sempre muito sensível a quem por estas ilhas se interessou e empenhou e a elas se sentia profundamente ligado. No caso, acresce que o meu pai foi, em jovem, um exímio caçador e, pela vida fora, um amante dos animais e um apaixonado de canicultura. Assim o recordamos, eu própria e os meus sobrinhos que ainda o conheceram.

Dentro de dias passarão 51 anos da morte do meu pai, Vasco Bensaude, que deixa muitas saudades na sua família e também em muitos que o conheceram ou que dele ouviram falar. Por isso, também, um especial obrigado por esta homenagem”.

Patrícia Bensaude recordou ainda que “nos primeiros anos do século XX, Vasco Bensaude caçou patos bravos na Cova do Vapor, na margem sul do Tejo, ao tempo um lugar isolado e um paraíso para as aves marinhas. Deslocava-se num iate silencioso para não afugentar nem espantar os animais, na companhia dos seus bons amigos caçadores. Com o mesmo entusiasmo, organizava as suas caçadas nos Açores, com especial interesse pelas galinholas em São Jorge. Tudo muito bem documentado aqui, nesta exposição.

A paixão do meu pai pelos cães acompanhou-o ao longo da sua vida a ponto de querer que um dos seus favoritos cães de água, o Tiki, fosse sepultado no jardim do Pico do Salomão, bem perto de si. No seu escritório de Lisboa aonde passava longas horas a projectar novas construções para o Pico do Salomão ou a modificar as plantas do navio Funchal, sempre esteve rodeado de uma retrato de Domingos Rebelo do seu cão favorito “Leão” e das taças e medalhas de prata, ganhas nos concursos de canicultura, ano após ano e ali, perto de si, bem à vista. Todos na família, o recordamos assim. Sobre os cães de água, já muito foi aqui dito hoje e não vou adiantar nada mais.

Apenas agradecer e realçar que os descendentes de Vasco Bensaude honram a sua memória, como Pai e Avô querido. A par do seu legado empresarial que procuramos manter e desenvolver, gostamos de o recordar como homem bom, sempre aberto sobre os outros e sobre o mundo, amigo também dos animais como aqui é hoje recordado”, rematou Patrícia Bensaude.

Já o Secretário Regional da Agricultura e Florestas enalteceu o contributo que Vasco Bensaúde, deu para o desenvolvimento da caça sustentável nos Açores e para a promoção da raça portuguesa de cães de água.

Para o governante açoriano, esta exposição fotográfica constitui “um importante relato histórico e documental”, que foi possível à família Bensaude e ao coordenador do evento e também caçador, Gualter Furtado.

João Ponte destacou que o Governo dos Açores tem trabalhado “em estreita colaboração com as associações agrícolas, de caçadores e ambientalistas para garantir que a gestão dos recursos cinegéticos é feita de forma o mais sustentável possível, com respeito pelos princípios da conservação da natureza e do equilíbrio biológico”.

Nos Açores existem cerca de 4.160 caçadores devidamente habilitados, sendo que 40% estão na ilha de São Miguel.

N.C.

In Jornal Correio dos Açores, 24 de julho de 2018.

Fotos de: Pedro Monteiro.

Povoação, quarta-feira, 25, de julho de 2018.

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