Antevendo
como se esperava, o Padre Jacinto Moniz Borges e os seus paroquianos, o dia
final da segunda Igreja desta localidade, logo que o mesmo tomou posse, em
1900, das suas obrigações de chefe espiritual, foi preparando o povo para a grande
tragédia que um dia impreterivelmente aconteceria e, simultaneamente
incentivando o mesmo par o dever e a obrigação de construir um novo templo.
E
o previsto veio a acontecer num dia de mar elevado no ano de 1909. Este, na sua
fúria, varreu a segunda Igreja e tudo aquilo que lhe ficava adjacente,
inclusive o seu cemitério e as casas que naquela zona se estendiam para poente
e nascente, ficando apenas alguns dos modestos casebres que se situavam ao cimo
da "Canada da Igreja Velha", e parte das terras de vinha da família
da Tia Chica Vieira, onde existia uma residência.
Habituado
o povo ao sofrimento e às tragédias, e orientado por este ilustre e corajoso
sacerdote, o Padre Jacinto, de imediato se constituiu uma Comissão Fabriqueira
para a construção de um novo templo.
Dessa
Comissão faziam parte Manuel Linhares de Deus, homem muito respeitado naquela
localidade, presidente da mesma, o qual se deslocou propositadamente à América
do Norte, mais à zona de Fall River e New Bedford onde existiam alguns filhos
da Ribeira Quente e concelho da Povoação, a fim de angariar alguns fundos. Mas,
porque naquela altura os nossos emigrantes também viviam uma vida financeira
não muito lauta, os auxílios que de lá vieram foram relativamente poucos.
Fizeram-se
também por toda a ilha, como era habitual nas suas igrejas, pedidos de
cooperação, mas também pouco resultou porque naqueles tempos a pobreza morava
por toda a parte.
Já
sem veraneantes que os ajudasse em tamanho empreendimento da construção de uma
nova igreja, visto que as propriedades do litoral foram desaparecendo à maneira
que o mar as engolia, foram os pescadores desta localidade quem, por
unanimidade, decidiram que dali avante cada barco de pesca passaria a ter mais
um companheiro, mais um quinhoeiro chamado Senhor São Paulo.
Quer
nos bons como nos maus momentos de pesca, sempre que os barcos chegavam à
terra, depois de pago o dízimo de obrigação - dez por cento de todo o pescado
que era arrecadado para o Estado, sem quaisquer contrapartidas - tudo era dividido
na forma normal. A parte que cabia a São Paulo era entregue ao tesoureiro da
Comissão Fabriqueira, outro bom filho da Ribeira Quente de nome António da
Costa Fravica.
Com
a perda da sua segunda igreja, os cristãos da Ribeira Quente (toda a
população), nem por isso deixaram de assistir à sua Santa Missa como dantes,
porque desde a data em que o mar lhes roubou a mesma, as missas e demais actos
de culto passaram a ser celebrados numa casa particular pertencente ao
proprietário desta localidade, João Vieira Jerónimo e sua esposa Clotilde.
Sem
grandes recursos financeiros mas apenas com a grande ajuda, ou a maior ajuda de
todas, a dos homens do mar; sem água potável ou outra nas imediações, nem
argila (barro) ali à mão, porque o que havia em pequenas quantidades só existia
na parte alta da Zona do segundo cemitério desta localidade, e transporte só o
faziam as mulheres à cabeça; sem cal nem artífices, visto que a Ribeira Quente
tinha uma população maioritariamente de pescadores e a outra parte da população,
a da zona do Fogo, que era uma minoria que subsistia à custa de trabalhos
prestados, como gente do campo, aos proprietários das terras altas e das
pequenas parcelas que o mar tinha deixado, assim como da fajãs existentes sobre
as falésias de Ponta do Garajau e Ponta da Lobeira, os quais só aos domingos
podiam ajudar, foi em junção de esforços e boas vontades de todos, camponeses e
pescadores, que o Padre Jacinto Moniz Borges deu início aos trabalhos de
abertura dos alicerces que vieram a servir de fundo às paredes da nova igreja
que, histórica e oficialmente, só veio a começar em 1911.
Sem
grandes recursos financeiros mas apenas com a grande ajuda, ou a maior ajuda de
todas, a dos homens do mar; sem água potável ou outra nas imediações, nem
argila (barro) ali à mão, porque o que havia em pequenas quantidades só existia
na parte alta da Zona do segundo cemitério desta localidade, e transporte só o
faziam as mulheres à cabeça; sem cal nem artífices, visto que a Ribeira Quente
tinha uma população maioritariamente de pescadores e a outra parte da
população, a da zona do Fogo, que era uma minoria que subsistia à custa de
trabalhos prestados, como gente do campo, aos proprietários das terras altas e
das pequenas parcelas que o mar tinha deixado, assim como da Fajãs existentes
sobre as falésias de Ponta do Garajau e Ponta da Lobeira, os quais só aos
domingos podiam ajudar, foi em junção de esforços e boas vontades de todos,
camponeses e pescadores, que o Padre Jacinto Moniz Borges deu início aos
trabalhos de abertura dos alicerces que vieram a servir de fundo às paredes da
nova igreja que, histórica e oficialmente, só veio a começar em 1911.
Fonte:
facebook João Costa Bril
Povoação,
sábado, 23 de setembro de 2017.
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