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segunda-feira, 18 de julho de 2016

RECORDAR É VIVER - RIBEIRA QUENTE: Memórias da Sr.ª Professora Maria das Neves

Ano de 1969, foto com as crianças da escola da Ribeira Quente na praia, 
cuja foto foi tirada pelo Senhor José do Rego Furtado, 
por todos conhecido popularmente pela alcunha de "José Bento".
Ocasionalmente, no Bar Cantinho da Poça na Freguesia das Furnas, conheci o Senhor João Manuel Melo Costa, como é conhecido popularmente “Brilhantina”.

Através da nossa conversa disse-me que era natural da Ribeira Quente e eu informei-o que tinha trabalhado, como professora do Ensino Primário, naquela Freguesia no ano letivo de 1958/1959. Já lá vão muitos anos.

Achou muita graça e convidou-me a fazer uma pequena descrição da forma como se vivia na Ribeira Quente naquela época, que recordasse algumas pessoas que conheci e como me senti enquanto lá vivi, porque todos os anos comunicava com os emigrantes da Ribeira quente residentes nos Estados Unidos e seria um momento para recordar o passado.

Disse-lhe que sim e agora estou a cumprir o prometido.

Quando fui nomeada para exercer a minha actividade profissional na Ribeira Quente desconhecia o lugar porque nunca lá tinha ido. As deslocações e os meios de transporte eram difíceis e não nos deslocávamos com facilidade.

Recorri à senhora D. Lurdes de Portugal que se encontrava a fazer escola na referida localidade para me ajudar a instalar.

Também conhecia o senhor professor Ângelo Linhares, as suas irmãs madalena e Glória professoras e naturais da referida freguesia e a senhora professora D. Águeda Barbosa que também lá estava colocada. Comigo também foi nomeada para a mesma escola uma minha colega de curso, natural de Vila Franca do Campo, que se chamava Almerinda Sousa e ambas hospedámo-nos na mesma casa, na rua da Igreja Velha, que hoje já não existe em consequência de uma grave catástrofe que abalou seriamente a freguesia em Dezembro de 1996.

Quando cheguei à Ribeira Quente tive a sensação de me instalar num lugar isolado porque ficava longe da freguesia das Furnas e à beira-mar. Depois fui-me adaptando ao meio e desenvolvendo a minha actividade profissional. Tive uma turma constituída por um grupo de alunas da 4ª classe e por um grupo da 2ª classe.

As crianças eram dóceis e meiguinhas e depois da minha conversa com o senhor João Costa procurei recordar-me dos nomes delas, mas eram já poucos os que a minha memória retinha.

Recorri à minha aluna Maria da Conceição Gafanhoto com quem me encontrei há perto de 2 anos junto da Igreja de São Paulo e se prestou a lembrar-me muitos nomes das amiguinhas que com ela faziam parte do grupo que me fora confiado tais como: Manuela Cardoso, Madalena Barbosa de Melo, Virgínia Lima Vieira, Isaura Maria dos Santos Carneiro, Lúcia Rosonina Tavares, Eugénia Maria de Melo Sousa, Maria Manuela Almeida Rita, Odete Martins Coelho, Maria Lúcia Leite dos Santos, entre outras. Muito lhe agradeço a preciosa colaboração. Foi há 45 anos que leccionei na Ribeira quente, freguesia pequena e pobre naquela época, mas constituída por famílias trabalhadoras que lutavam arduamente pela sua subsistência e muitas vezes enfrentavam situações difíceis para se defenderem de temporais, cheias tremores de terras violentos que lhes causavam graves transtornos. Lembro-me de uma situação difícil que todos tiveram de enfrentar devido a uma fortíssima cheia ocasionada por chuvas torrenciais que aumentaram assustadoramente o volume das águas da ribeira, que passa na freguesia, que destruiu a estrutura da ponte que estava a ser construída perto da foz. As chuvas inundaram muitas casas, o muro que resguardava o edifício da escola, situado na Zona denominada Ribeira, caiu por inteiro e nesse dia ficamos todos sem comunicações, completamente isolados. Outro acontecimento que nunca mais esqueci foi sentir um forte tremor de terra quando seguia na estrada que nos leva para o lugar do Fogo. Além do valente estremecimento, muito me assustei com o barulho que senti e que me parecia um desmoronar de rochas debaixo dos pés. Esta situação ficou-me gravada. Nuna mais me esqueceu. Mas, para além destes alarmantes acontecimentos, também tenho recordações agradáveis. Gostei de presenciar as Festas do Espírito Santo, a manhã de São João celebrada no largo da praia onde havia uma fonte que naquela madrugada fora enfeitada com flores e as pessoas recolhiam água que diziam estar benta.

Conheci pessoas muito simpáticas e generosas que procuravam ajudar os mais desprotegidos em momentos difíceis como o senhor Abel Inácio de Lima, que tina uma mercearia perto do porto, o senhor João Jacinto Linhares Rita, que também possuía uma mercearia na rua Direita voltada para o mar. Penso que este senhor era o Presidente da Junta de Freguesia. Também não posso esquecer o pároco Antero Jacinto da Costa que era o responsável pela cantina escolar. Próximo da escola vivia a Senhora D. Maria da Conceição Lima, senhora muito acolhedora e mãe de uma colega chamada Arminda que também emigrou para o Canadá, e tinha mais filhos dos quais me lembro da Arménia, da Maria da Conceição e do Luís. As comunicações eram difíceis. A camioneta só fazia a ligação entre a Ribeira Quente e as Furnas à Terça-Feira. Quinzenalmente gostava de ir a Ponta Delgada para estar, com a minha mãe e encontrar-me com o meu noivo porque estava a prepara-me para casar. Tinha de ir a pé até às Furnas para apanhar a camioneta que nos levava para a cidade. Ia sempre com a Senhora D. Lurdes que também se queria encontrar com a sua família.

À Segunda-feira regressávamos, mas das Furnas para a Ribeira Quente vínhamos de carro de praça e pagávamos 35$00 (trinta e cinco escudos). Era um bocadinho caro, mas tínhamos de regressar de carro para chegarmos a horas à escola.

Hoje a freguesia da Ribeira Quente encontra-se muito evoluída e as comunicações bastante acessíveis. Depois da grave catástrofe ocorrida em 1996 que danificou bastante a freguesia e onde muitas famílias perderam os seus entes queridos e os seus haveres, a reconstrução enriqueceu-a substancialmente.

Quem conheceu a Ribeira Quente como era no tempo que eu lá vivi e agora a visita de novo, não pode deixar de reconhecer que a mesma se encontra muito mais enriquecida.

Toda a área da Zona do Fogo possui lindíssimas habitações, o largo junto à praia está bastante embelezado, possui um vastíssimo parque de estacionamento porque o local é muito procurado, principalmente, na época balnear, um heliporto, uma avenida marginal que além de facilitar o trânsito embeleza a orla marítima.

Ao longo da avenida foi construída uma moderna escola e há também um bom restaurante “O Costaneira” muito procurado durante todo o ano e duma maneira especial na “Semana do Chicharro”, uma semana de diversão e festa que atrai à freguesia muitos visitantes.

O porto, local indispensável para o desenvolvimento económico da localidade possui as condições necessárias para o bom funcionamento da actividade piscatória e de diversão no verão.

Felicito todos os habitantes da Ribeira Quente pelas muito boas condições de vida que actualmente possuem e desejo-lhe as maiores felicidades.

Abril de 2004

Maria da Estrela Costa das Neves

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