Ano de 1969,
foto com as crianças da escola da Ribeira Quente na praia,
cuja foto foi tirada
pelo Senhor José do Rego Furtado,
por todos conhecido popularmente pela alcunha
de "José Bento".
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Ocasionalmente,
no Bar Cantinho da Poça na Freguesia das Furnas, conheci o Senhor João Manuel
Melo Costa, como é conhecido popularmente “Brilhantina”.
Através
da nossa conversa disse-me que era natural da Ribeira Quente e eu informei-o
que tinha trabalhado, como professora do Ensino Primário, naquela Freguesia no
ano letivo de 1958/1959. Já lá vão muitos anos.
Achou
muita graça e convidou-me a fazer uma pequena descrição da forma como se vivia
na Ribeira Quente naquela época, que recordasse algumas pessoas que conheci e
como me senti enquanto lá vivi, porque todos os anos comunicava com os
emigrantes da Ribeira quente residentes nos Estados Unidos e seria um momento
para recordar o passado.
Disse-lhe
que sim e agora estou a cumprir o prometido.
Quando
fui nomeada para exercer a minha actividade profissional na Ribeira Quente
desconhecia o lugar porque nunca lá tinha ido. As deslocações e os meios de
transporte eram difíceis e não nos deslocávamos com facilidade.
Recorri
à senhora D. Lurdes de Portugal que se encontrava a fazer escola na referida
localidade para me ajudar a instalar.
Também
conhecia o senhor professor Ângelo Linhares, as suas irmãs madalena e Glória
professoras e naturais da referida freguesia e a senhora professora D. Águeda
Barbosa que também lá estava colocada. Comigo também foi nomeada para a mesma
escola uma minha colega de curso, natural de Vila Franca do Campo, que se
chamava Almerinda Sousa e ambas hospedámo-nos na mesma casa, na rua da Igreja
Velha, que hoje já não existe em consequência de uma grave catástrofe que
abalou seriamente a freguesia em Dezembro de 1996.
Quando
cheguei à Ribeira Quente tive a sensação de me instalar num lugar isolado
porque ficava longe da freguesia das Furnas e à beira-mar. Depois fui-me
adaptando ao meio e desenvolvendo a minha actividade profissional. Tive uma
turma constituída por um grupo de alunas da 4ª classe e por um grupo da 2ª
classe.
As
crianças eram dóceis e meiguinhas e depois da minha conversa com o senhor João
Costa procurei recordar-me dos nomes delas, mas eram já poucos os que a minha
memória retinha.
Recorri
à minha aluna Maria da Conceição Gafanhoto com quem me encontrei há perto de 2
anos junto da Igreja de São Paulo e se prestou a lembrar-me muitos nomes das
amiguinhas que com ela faziam parte do grupo que me fora confiado tais como:
Manuela Cardoso, Madalena Barbosa de Melo, Virgínia Lima Vieira, Isaura Maria
dos Santos Carneiro, Lúcia Rosonina Tavares, Eugénia Maria de Melo Sousa, Maria
Manuela Almeida Rita, Odete Martins Coelho, Maria Lúcia Leite dos Santos, entre
outras. Muito lhe agradeço a preciosa colaboração. Foi há 45 anos que leccionei
na Ribeira quente, freguesia pequena e pobre naquela época, mas constituída por
famílias trabalhadoras que lutavam arduamente pela sua subsistência e muitas
vezes enfrentavam situações difíceis para se defenderem de temporais, cheias
tremores de terras violentos que lhes causavam graves transtornos. Lembro-me de
uma situação difícil que todos tiveram de enfrentar devido a uma fortíssima
cheia ocasionada por chuvas torrenciais que aumentaram assustadoramente o
volume das águas da ribeira, que passa na freguesia, que destruiu a estrutura
da ponte que estava a ser construída perto da foz. As chuvas inundaram muitas
casas, o muro que resguardava o edifício da escola, situado na Zona denominada
Ribeira, caiu por inteiro e nesse dia ficamos todos sem comunicações,
completamente isolados. Outro acontecimento que nunca mais esqueci foi sentir
um forte tremor de terra quando seguia na estrada que nos leva para o lugar do
Fogo. Além do valente estremecimento, muito me assustei com o barulho que senti
e que me parecia um desmoronar de rochas debaixo dos pés. Esta situação
ficou-me gravada. Nuna mais me esqueceu. Mas, para além destes alarmantes
acontecimentos, também tenho recordações agradáveis. Gostei de presenciar as
Festas do Espírito Santo, a manhã de São João celebrada no largo da praia onde
havia uma fonte que naquela madrugada fora enfeitada com flores e as pessoas
recolhiam água que diziam estar benta.
Conheci
pessoas muito simpáticas e generosas que procuravam ajudar os mais
desprotegidos em momentos difíceis como o senhor Abel Inácio de Lima, que tina
uma mercearia perto do porto, o senhor João Jacinto Linhares Rita, que também
possuía uma mercearia na rua Direita voltada para o mar. Penso que este senhor
era o Presidente da Junta de Freguesia. Também não posso esquecer o pároco
Antero Jacinto da Costa que era o responsável pela cantina escolar. Próximo da
escola vivia a Senhora D. Maria da Conceição Lima, senhora muito acolhedora e
mãe de uma colega chamada Arminda que também emigrou para o Canadá, e tinha
mais filhos dos quais me lembro da Arménia, da Maria da Conceição e do Luís. As
comunicações eram difíceis. A camioneta só fazia a ligação entre a Ribeira
Quente e as Furnas à Terça-Feira. Quinzenalmente gostava de ir a Ponta Delgada
para estar, com a minha mãe e encontrar-me com o meu noivo porque estava a prepara-me
para casar. Tinha de ir a pé até às Furnas para apanhar a camioneta que nos
levava para a cidade. Ia sempre com a Senhora D. Lurdes que também se queria
encontrar com a sua família.
À
Segunda-feira regressávamos, mas das Furnas para a Ribeira Quente vínhamos de
carro de praça e pagávamos 35$00 (trinta e cinco escudos). Era um bocadinho
caro, mas tínhamos de regressar de carro para chegarmos a horas à escola.
Hoje
a freguesia da Ribeira Quente encontra-se muito evoluída e as comunicações
bastante acessíveis. Depois da grave catástrofe ocorrida em 1996 que danificou
bastante a freguesia e onde muitas famílias perderam os seus entes queridos e
os seus haveres, a reconstrução enriqueceu-a substancialmente.
Quem
conheceu a Ribeira Quente como era no tempo que eu lá vivi e agora a visita de
novo, não pode deixar de reconhecer que a mesma se encontra muito mais
enriquecida.
Toda
a área da Zona do Fogo possui lindíssimas habitações, o largo junto à praia
está bastante embelezado, possui um vastíssimo parque de estacionamento porque
o local é muito procurado, principalmente, na época balnear, um heliporto, uma
avenida marginal que além de facilitar o trânsito embeleza a orla marítima.
Ao
longo da avenida foi construída uma moderna escola e há também um bom restaurante
“O Costaneira” muito procurado durante todo o ano e duma maneira especial na
“Semana do Chicharro”, uma semana de diversão e festa que atrai à freguesia
muitos visitantes.
O
porto, local indispensável para o desenvolvimento económico da localidade
possui as condições necessárias para o bom funcionamento da actividade
piscatória e de diversão no verão.
Felicito
todos os habitantes da Ribeira Quente pelas muito boas condições de vida que
actualmente possuem e desejo-lhe as maiores felicidades.
Abril
de 2004
Maria
da Estrela Costa das Neves
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