Hoje, dia 15 de Agosto faz
114 anos da edificação do memorial às 12 vítimas das grandes cheias de 2 de
Novembro de 1896 na Vila da Povoação.
A história de um concelho não
é só feita de alegrias e neste caso concreto é parte integrante da nossa
história o triste acontecimento que decorreu na Vila da Povoação a 2 de
Novembro de 1896.
A Povoação até então pouco
era conhecida e falada e este foi um dos acontecimento da época que obrigou muitas pessoas a conhecer a terra por onde desembarcaram os primeiros
povoadores da ilha de São Miguel.
No dia 15 de Agosto de
1899 foi edificado o memorial às 12 vítimas da cheia, memorial, este, que se
encontra implantado no Bairro da Caridade (Comissão) e que há alguns anos tinha
uma bica de água para cada lado, o que hoje não tem, também no cimo do memorial
existia uma pirâmide de pedra, o que hoje também não existe. Ora aqui neste
último ponto, é importante alertar as entidades para o facto de não
descaracterizarem os nossos monumentos, pois deve manter-se a sua
originalidade, até para mais sendo um memorial de tão relevante importância.
Para que todos saibam,
este memorial foi implantado com o intuito de lembrar às gerações vindouras a
tragédia que os povoacenses, há mais de cento e dezassete anos (117),
viveram!... das angústias, do pavor, do luto sofridos!...
Dois de Novembro é uma
data fatídica que deve ser recordada e relembrada por todos os povoacenses, não
deixar cair no esquecimento os nossos antepassados, a nossa história, é de uma
importância primordial.
No memorial encontra-se as
seguintes descrições em ambos os lados em Latim: “Destruens – Hic tempestas aqua
miseriam affert” o que traduzido quer dizer – “Destruindo,
a tempestade traz a desgraça a este lugar por meio da água” do outro lado tem a seguinte descrição: “Costrurns, humana caritas hic
sitim aqua depellit” o que traduzido quer dizer – “construindo,
a caridade humana afasta, neste lugar, a sede por meio da água”.
É do livro dos Assentos
dos Mortos, daquele ano de 1896, a folha 3 e seguintes, onde foram exarados os
seguintes assentos de óbitos, com os números à margem, que reproduzimos assim:
N.º 127 – Manoel de Medeiros Marquinho, marítimo,
de 38 anos de idade, casado com Maria Jacinta, falecida na inundação de águas e
não foi sepultado no cemitério por não mais aparecer o seu cadáver.
E continua:
N.º 128 – Maria Jacinta, casada com Manoel de
Medeiros Marquinho, de 36 anos de idade. Deixou dois filhos menores. Não foi a
sepultar no cemitério por não mais aparecer o seu cadáver.
N.º 129 – Laureano, de seis anos de idade, filho
de Manoel de Medeiros Marquinho, marítimo, e de Maria Jacinta. Não foi a
sepultar no cemitério por não mais aparecer o seu cadáver.
N.º 130 – Ernestina, de 4 anos de idade, filha de
Manoel de Medeiros Marquinho, marítimo, e de Maria Jacinta. Não foi sepultada
no cemitério por não mais aparecer o seu cadáver.
N.º 132 – Jacinta Rosa da Conceição, de 57 anos
de idade, padeira, viúva de Victorino Ferreira Simões, naturais da Ribeira
Quente. Não foi a sepultar no cemitério por não mais aparecer o seu cadáver.
N.º 133 – Joaquim Pacheco Isabel, casado com
Maria Jacinta, de 76 anos de idade, campónio. Não foi sepultado no cemitério
por não mais aparecer o seu cadáver.
N.º 134 – Umbelina Rosa Carçareira, viúva de
Mariano Moniz Barreto, de 70 anos de idade. Não foi sepultada no cemitério por
não mais aparecer o seu cadáver.
N.º 136 – Mariano de Sousa Chiôta, de 23 anos de
idade, solteiro, pastor, da Lomba do Botão. Foi sepultado no cemitério público
de Santa Barbara.
N.º 137 – Manoel de Sousa Chiôta, de 30 anos de
idade, pastor, casado com Rosa Borges, da Lomba do Pomar. Não foi sepultado no
cemitério por não mais aparecer o seu cadáver.
N.º 138 – D. Maria Helena, de 77 anos de idade,
viúva de José Francisco de Medeiros, filha legítima de José Joaquim d’Amaral
Vasconcelos e de D. Maria Cândida de Sá Bettencourt, naturais de São Pedro do
lugar do Nordestinho. Não foi a sepultar no cemitério por não mais aparecer o
seu cadáver.
O lugar onde desembarcaram
os primeiros povoadores da ilha de São Miguel tem muito para ser explorado, tem
muito para dar a conhecer, infelizmente também tem muito património destruído, mas
o que resta pode contribuir de forma muito positiva e agradável para o
desenvolvimento do nosso concelho.
Fonte: livro do Pe.
Ernesto Jacinto Raposo
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