Nuno Teixeira sofreu quebras de 50% nas vendas de ovos
A sua vida esteve sempre ligada à agricultura?
Fui criado na agricultura, depois fui para construção e agora vim acabar de novo na agricultura, mais propriamente na avicultura, mas sempre tive pequenas explorações de animais. Sou natural da Povoação e cresci lá. Por curiosidade, o antigo do dono do aviário também era da Povoação. Ele tinha fundado este aviário no inicio dos anos 80. Comecei a trabalhar na agricultura com uma tia minha e foi nessa época que comecei a ganhar algum dinheirinho nas vacas. Depois sai das vacas e fui para a construção.
Mudou-se para a construção por alguma razão?
A vida na agricultura e nas vacas não nos dá folgas.
Mais tarde emigra. O que está por detrás dessa opção?
Estive nas Bermudas a trabalhar na construção civil para melhorar a minha vida, mas nunca deixei de pensar na nossa terra, nos meus filhos e na vida que levamos cá. Estar lá era bom mas perdemos o conforto da família. Fui sempre com a ideia de voltar e nunca de ficar a viver lá.
Quando se dá a volta para a agricultura?
Quando vim das Bermudas em 2011 não havia trabalho na construção e continuei a minha vida na agricultura, quintas e pequenas coisas que tinha. Nesse entretanto, como não havia trabalho na construção, fui trabalhar para a Secretaria do Ambiente quase dois anos, mas já tinha as galinhas através de conhecimentos e desse grande amigo que faleceu. Através dele continuei com as galinhas. Apareceu a oportunidade e lancei-me no mercado nesta área com muito gosto e ambição de ser diferente.
Já tinha estado ligado a este ramo antes de ir para as Bermudas?
Já tinha. Estive na construção e depois estive 16 anos numa instituição da Santa Casa que tinha galinhas. Sempre tive ovos e quintas. Consegui vender e escoar os meus produtos na Povoação enquanto lá vivi.
Nunca nada desta dimensão como hoje em dia?
Pensava em ter algo assim, mas como a Povoação estava longe, a distância colocava algum entrave a isso. Quando o antigo dono faleceu tive a oportunidade de ficar com este aviário e tomamos a decisão de virmos todos para aqui.
Quando ‘pega’ então nesta empresa?
Tornei-me proprietário em Janeiro 2016, dando seguimento ao que existia e a pensar sempre em aumentar. Consegui fazer esse aumento e neste momento estou a construir um pavilhão para mais 4.000 galinhas. A clientela assim o exige porque temos um produto com qualidade.
Quantas pessoas trabalham presentemente no aviário?
Isto a bem dizer é uma empresa familiar. Somos 4 pessoas. Desses, só um deles não é familiar.
Quantas galinhas têm no aviário?
Neste momento estou com 5.700 galinhas. A partir de Maio, quando tiver o outro armazém pronto, passarei a ter à volta de 9.000 galinhas.
E quantos ovos produzem por dia?
Andamos à volta dos 5.200 a 5.400 ovos.
Consegue escoar todos esses ovos?
Devido à qualidade do nosso produto não sobra nada. Para qualquer dos estabelecimentos com quem trabalhamos enviamos sempre ovos do dia. Neste momento não consigo ter mais ovos, mas estou satisfeito e penso que as pessoas também estão satisfeitas com o meu produto que é 100% regional.
Para onde vende o seu produto?
Vendo em todas as superfícies pequenas; mini-mercados, pequenas frutarias e a clientes particulares.
Não coloca os seus ovos nas grandes superfícies?
Não tenho capacidade de entrar nas grandes superfícies, mas essa também nunca foi a minha intenção. O meu forte foi sempre o cliente médio. Trabalho com as Flores e com o Corvo, para onde mando os meus ovos. No Corvo trabalho com a única mercearia da ilha e nas Flores, tenho uma mercearia e uma padaria que não me abandonaram. Já estou com eles há 3 anos. Envio o meu produto pela SATA uma vez por semana ou de 15 em 15 dias, conforme as necessidades deles. Apesar do mau tempo atrasar por vezes o envio, eles dizem-me que preferem esperar pelos meus ovos (risos).
Existe algum outro sítio onde gostasse de colocar o seu produto?
Não. As pessoas estão a vir cá. Alguns hotéis e resorts têm cá vindo e cada vez mais tenho pessoas à espera dos ovos. Já entraram em contacto comigo mas neste momento não posso. Só para o Verão.
Falando da pandemia, como foram vividos esses tempos? Teve quebras nas vendas?
Perdi uma grande percentagem das vendas na restauração. Os mini mercados e as pequenas superfícies conseguiram escoar o meu produto todo. Perdi 50% das vendas. Estou a falar agora desta fase e não do primeiro confinamento em Março do ano passado. Essa primeira fase não foi tão grave como agora. Só na Lagoa e em Ponta Delgada consigo escoar muito produto da restauração.
Durante este período candidatou-se a algum apoio?
Não tenho apoio de lado nenhum. Não consigo ir buscar qualquer apoio ao PRORURAL porque só tenho o CAE dos ovos. Para poder ter direito a esses apoios tinha de ter carnes e outras coisas mas esse não é o meu objectivo para este espaço. Tive apoio derivado ao Covid, como por exemplo o layoff. Não tive qualquer apoio apesar de esta empresa já ter 40 e tal anos de existência.
Falando do futuro, já disse que está a tratar de expandir o aviário…
Em Maio espero já estar com a produção no máximo. O objectivo passa pela expansão aqui na ilha e continuar a fazer chegar o produto fresco ao consumidor. É isso que faz com que continue a levar para a frente o meu negócio.
Luís Lobão
In Jornal Correio dos Açores, 25 de fevereiro de 2021
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