Dra. Margarida España |
A
necessidade de uma intervenção cirúrgica numa criança provoca um desequilíbrio
em toda a estrutura familiar, não só pela preocupação inerente ao ato em si,
mas também pela interferência na vida do quotidiano, muito particularmente o
afastamento do lar.
Uma
excelente opção para minimizar muitos destes incómodos é a Cirurgia Ambulatória
(CA) que embora, de um ponto de vista purista, seja definida pela International
Association for Ambulatory Surgery (IAAS) como a realização de uma intervenção
de Cirurgia Programada, tradicionalmente efetuada em regime de internamento,
cuja alta ocorre poucas horas após o procedimento, sem necessidade de pernoita
hospitalar, considera-se, de um ponto de vista mais lato, abranger também nesta
definição as situações em que o doente necessita no pós-operatório, de ficar a
primeira noite no Hospital, tendo alta até 24h após a operação, passando a
designar-se CA com pernoita.
As
crianças tratadas em CA devem sê-lo por equipas particularmente dedicadas a
esta forma de tratamento, preferencialmente em Unidades Pediátricas ou nas
situações que tenham de utilizar Unidades partilhadas com adultos, em horários
ou dias exclusivamente dedicados à Pediatria.
Existem
critérios internacionais para admissão dos doentes em programas de CA, e muitos
dos doentes pediátricos preenchem-nos, dado que uma percentagem muito
significativa das patologias que carecem de tratamento cirúrgico na idade
pediátrica são passiveis de ser realizadas nesta modalidade e também porque as
crianças são os doentes ideais para este regime, por normalmente não sofrerem
de doenças complexas associadas e de terem sempre, no pós-operatório, o apoio
de um adulto responsável, seja ele um progenitor ou outro familiar ou um
cuidador.
O
facto de passar poucas horas no Hospital é muito menos traumatizante para a
criança, diminui a alteração da vida quotidiana do agregado familiar, permite
uma mais rápida reinserção no meio familiar e escolar e diminui de forma
significativa o risco de complicações, nomeadamente infeções hospitalares.
Naturalmente
que a CA exige uma maior segurança para o doente que se traduz tanto a nível
das equipas multidisciplinares que tratam a criança, obrigando estas a uma
maior excelência na sua prática, mas também um enorme cuidado na informação,
tanto verbal como escrita, prestada aos doentes e seus familiares ou
cuidadores. Também é indispensável a abertura de canais de fácil comunicação
entre todos, que devem ir para além dos telefonemas da véspera e do dia
seguinte à intervenção cirúrgica. Os doentes e seu agregado devem sentir-se
confortáveis com esta modalidade terapêutica, estando conscientes que têm a
qualquer momento que seja necessário o apoio de uma equipa multidisciplinar
preparada e motivada.
A
Cirurgia de Ambulatório (CA) é, hoje em dia, um modelo ótimo de assistência
cirúrgica multidisciplinar. Tendencialmente, vai deixar de ser um conceito
temporal de internamento pós-operatório para passar a ser um modelo de
Qualidade centrado no Utente.
A
Associação Portuguesa de Cirurgia Ambulatória (APCA) tem como principal
objetivo defender, promover e protagonizar o processo de evolução da cirurgia
de ambulatório em Portugal. Para mais informação sobre a APCA, consulte: http://www.apca.com.pt/
*Artigo de opinião de Dra. Margarida España - Membro da
Direção da Associação Portuguesa de Cirurgia Ambulatória (APCA)
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