O sacristão velhinho e meio curvado, nos olhos uma
réstia de brilho de mocidade, nos lábios quase sempre um sorriso aberto, um
sorriso desdentado, sempre com um gracejo para todos com quem falava.
– Ó Maria, quando é que te casas?
– Lá para Junho, respondeu a moça.
– Se me convidares para a boda eu prometo tocar os
sinos em latim.
– Sr. sacristão não me faça rir. – O Sr. não está
actualizado; devia ser em português.
- Ó rapariga tu estás a gozar-me?
– Não Sr. somente a responder-lhe. E mais lhe digo,
se o Sr. tocar os sinos com toada nupcial vai ao casamento.
- E vou tocar! Depois vou beber e comer bailar da
hora do casamento até ao nascer do dia. Ai que se fosse novo, comigo é que te
casavas.
- Isso era se eu quisesse. Não querem ver que o
sacristão se queria casar!
- Quem tem alma deseja! Ó rapariga não te zangues,
que eu estava a brincar. Olha, dá uma esmola pró Santo.
- Eu aqui nada tenho, passe o senhor pela minha casa.
- Está bem, lá passarei.
- Ora viva, senhor sacristão, o que quer da minha
casa?
- Ora o que quero da tua casa! Então não vês este
santinho que aqui trago na mão?
- Pois vejo, sim senhor, mas se é para me dar eu já
tenho a redoma cheia de Santos.
- Isto sei eu, mas vai dar esmola pró Santo. Vamos
fazer uma festa aqui na freguesia que vai ser uma coisa linda, vai ser a festa
mais riquinha destes lugares. Vamos ter duas bandas de música, fogo de artifício,
bazar, petiscos que vai ser de comer e chorar por mais, e vamos ter roqueiras e
bombões com fartura, mas é preciso que vocês dêem uma esmola pró Santo.
- Sei lá o que hei-de dar?
- Agora o que há-de dar? Aí uns cem euros.
- Deus me livre! Cem euros. Com este dinheiro eu
casava-me outra vez. Senhor sacristão a vida não está para graças.
- Não me digas que o teu marido quando chega a casa
não te faz umas gracinhas!
- Ó sacristão deixe de tolices, o senhor já tem idade
de ser meu avô. Aqui tem vinte euros.
- Ó mulher, isto não dá é nada.
- Então, dê-mo para trás.
- Não para trás não vai ele, vai direito aqui para o saquinho
das esmolas do santinho.
- Até logo.
-Ó Santinho milagreiro, já tens no saquinho muito
dinheiro. A gente vai fazer uma aposta, o primeiro que entrar na taberna é que
paga o copinho.
E matreiro enfiava porta dentro a mão que sustinha o
Santo e dizia pró Santo:
- Pagais vós entrastes primeiro!
E em cada taberna que entrava mais um copinho, paga o
Santinho.
- Ó sacristão, toca os sinos sem parar. Com os
balanços que estás a dar, vais parar ao meio do chão.
- Mais respeitinho, meninos, meninos não vêem que
levo aqui na mão o Santinho?
- Ó Sacristão, já estás dlim, dlão porque bebeste
tanto copinho, ainda vais dar um trambolhão.
- Respeitinho,
rapazes estuporados, ah corisco, ou isto é um tremor de terra ou sou eu que não
me aguento de pé.
Dê uma esmola pró santinho.
- O Senhor sacristão já tem p´ra hoje, volte cá
amanhã.
- Olhem que conversa, hoje estou vivo, amanhã sei lá.
Vá lá dê esmola pró santinho.
- Não dou, já lhe disse. Volte amanhã com tino.
- Onzeneira, também não te toco o sino no teu casamento,
vais ver. Dê esmola pró santinho.
- Não me faça rir (atchim, atchim). Santinho!
Santinho é o que trazes na mão – de cá não levas
nada.
- Unhas de fome. Também não vou ao teu enterro nem te
toco os sinos.
- Louvado seja Deus este sacristão é zoco!
- Estamos mal, meu santinho. No vosso saquinho tem
pouco dinheiro, o Senhor Padre vai-se zangar com a gente; preparai os ouvidos
preparai. Vai ser cá um sermão como nunca tivemos outro igual na nossa festa, e
este vem antes do dia marcado.
Dê esmola pró Santinho, vá lá dê esmola pró santinho!
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