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quinta-feira, 28 de julho de 2016

SAPATEIRO E SAPATOS

De quando em vez estorietas à Benjamim, melhor dizendo – Estórias da nossa gente que “condimento com mais ou menos tempero”. Aos onze anos inaugurei oficialmente o meu primeiro par de sapatos, deixem passar a expressão, não foi fácil a adaptação de pés livres serem subjugados embora não apreciasse frieiras, picadela ou topada com que de quando em vez fui contemplado. “Remédio santo” uma teia de aranha e pó de cal raspado de parede da casa mais próxima uma tira de trapo atado a rematar o dedo magoado “medicina caseira da época”.

Quanta repreensão ouvi – Sapatos comprados há dias e já estão esfolados! Atina, não te iludes, eu não vou mercar outros. Que “sermões enfadonhos” hoje entendo-os, que saudade de os ouvir pronunciados que foram p’la boca de minha mãe.

Quando longa era a caminhada, sapato fora do pé que alivio sentia, atacador laçarote paralelo eram eles pendurados no ombro ao dar alguns pontapés na bola ficavam em qualquer canto era benéfico evadia-se o odor específico. Não é usual utilizar salamaleque de linguagem mas de quando em vez acontece, a simplicidade deve ser modo de viver de cada, na passerelle breve é nosso desfile. Em tempo de labor oficial durante alguns dias usei sapato especial, uma abertura inesperada levou a que segurasse a gáspea da sola com arame de cobre vendo assim o sapato ataviado o saudoso mestre Eduardo mecânico pediu-me o modelo de imediato um rascunho foi executado oferecendo-o ao velho mestre informando ter sido fabricado em Veneza que viajaram de Gôndola etc, etc. Sonha – Sonha e viaja no galinheiro! Há dezenas de anos passado na voragem do tempo foi um homem convidado para um casamento não possuindo sapatos pediu a um dos seus vizinhos um par, atendeu o pedido o vizinho mas contrariado. Tendo sido os dois convidados foram ao casamento que na época era calcorreando o que é dizer pernas para que voz quero. O Manuel que pediu os sapatos deu ligeiro pontapé numa pequena pedra, chamou-lhe a atenção ao outro exclamando em voz alta tem cuidado com os sapatos que te emprestei pois custaram muito dinheiro. Sabendo ficaram as pessoas o empréstimo. Tempos depois foi a um funeral com sapatos emprestados de outro vizinho cautelosamente caminhava o nosso homem quando lhe disse o dono. Anda à vontade com os sapatos eles já estão pagos. Eu não sou como fulano anda, anda não tenhas receio. É usual dizer-se – Quem se fia em sapatos de defunto toda a vida anda descalço! Ó Mestre sapateiro, coloque nestes meus sapatos meias solas. Sim Sr., qualquer dia destes arranjo vai-a descansado. Saiu o freguês Sr. abastado daquela localidade. Com olhos de ver disse para si próprio o sapateiro; estes sapatos estão melhor que os meus, dito e feito logo os calçou. De quando em vez interrogava o abastado comerciante o sapateiro. Ó Mestre os sapatos? Retorquia este, vão andando e não mentia só que os sapatos jamais entraram na casa do dono. Na época da Segunda Guerra Mundial em véspera de embarque para o Continente oficial militar foi ao nosso sapateiro para lhe reparar as botas. Executou este trabalho com cabedal inferior sem o bater e com uns pontos mal dados quis poupar fio assim pensando: Este cabrão vai-se embora nunca mais o vejo e ele vai pagar bem vou por as botas a luzir como o sol assim aconteceu. Foi o oficial para a doca em Ponta Delgada mas o navio Carvalho Araújo não estava atracado devido ao mau tempo só chegaria dias depois, sem querer ao caminhar meteu o oficial as botas em poças de água salgada que não as conservou e sim as escachou exasperado ficou o militar que regressou a localidade e oficina do sapateiro e não se conteve generoso que era, transbordaram-lhe da boca nomes feios e mais um. Você é um aldrabão, um aldrabão! Retorquiu o sapateiro – Aldrabão é o senhor que disse que se ia embora pró Continente e não foi; Eu é que tenho toda a razão de lhe chamar aldrabão…

Às voltas andava o caixeiro-viajante aflito para verter água às tantas encostou-se a uma parede regando-a com líquido pestilento.

Próximo passava um rapaz que lhe disse que estava a molhar os sapatos retorquiu o caixeiro viajante - Esta desavergonhada quando era nova deu-me cabo de muita sola de sapato agora que é velha estraga-me as gáspeas. Faço stop se tomo embalagem vou ter que ir à confissão e a absolvição será dada com um bordão na careca, perdão amigos até breve se Deus quiser.


Anexo quadras do Cancioneiro Geral dos Açores

Autoria de Armando Cortes Rodrigues

As duas últimas: improviso de Benjamim

Sta. Maria

Eu ando pra aqui descalço,
Não por falta de sapatos,
Tenho três pares lá em casa
Todos roídos dos ratos – verso – 3248

Tenho botas de três solas
Para passear na praia
Eu passeio tanto bem
Que todos me acham graça – V – 3391

S. Miguel

Muito bem fica o sapato
Á porta do sapateiro
Muito bem fica uma moça
Ao pé de um rapaz solteiro – V – 3333

Que beleza de caminho
Para os sapatos romper!
Os sapateiros são pobres,
Ajudai-os a viver – V – 3393

Tenho um sapato de seda
Forrado de paciência
Atacado com suspiros
Chorados na tua ausência. – V – 3393

O sapateiro cá da rua
Bate sola o dia inteiro
Coitadinho anda perdido
P´la mulher do Vaqueiro

Bate bate, o miolo não acenta
Inté em Sto. Dia perneia
Amor guisado que esquenta
Come-se a ceia.

Voltou-se o feitiço
Contra o feiticeiro
Bate sola noite e dia
A mulher do sapateiro
Enamorando o vaqueiro
Com magia.

Benjamim Carmo 

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